sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Por quem rezo

 
Por vezes rezo pelas pessoas que estão à minha volta, escolho-as assim, ao acaso. Jamais uma oração se perdeu, jamais.
Michael Lonsdale,

Ilustração: Interior da igreja dominicana de São Paulo em Genebra.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Um conselho

 
Se tivesse um conselho para dar, diria: recorrer ao Espirito Santo, rezar a Deus, pedir muito. E depois, rodear-se de pessoas que testemunhem desta capacidade, de pessoas que são de Deus.
Michael Lonsdale, Actor

Ilustração: Ciprestes do Jardim de Serralves.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O acaso que é Deus

 
No fundo do abismo encontrei a força para chamar por Deus, estava quase a desejar partir. E então, por acaso, a campainha tocou… Adoro a frase de Einstein: “o acaso, é quando Deus se manifesta incógnito”.
Michael Lonsdale, Actor

Ilustração: Estátua do Salvador na Avenida de Montevideu, no Porto

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Que Deus me aceite

 
Compreendi que posso rezar em qualquer lugar. Peço a Deus que me aceite tal como sou, que ele me transforme e me ajude a progredir. Deus é totalmente liberdade e amor.
Michael Lonsdale, Actor 

Ilustração: Narciso do jardim do Convento de Cristo Rei do Porto.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Revelação da face de Cristo

 
No silêncio e no distanciamento da servidão do quotidiano, Cristo revela-nos a sua face. Ele é doce e consolador.
Jean-Baptiste de Fombelle,

Ilustração: Caminho do Jardim de Serralves.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Homilia do VII Domingo do Tempo Comum

Meus queridos irmãos
Terminada a Liturgia da Palavra não podemos deixar de assumir que nos encontramos face a face com três textos verdadeiramente revolucionários, profundamente paradigmáticos, pelo que encerram de desafio e necessidade de transformação de vida.
São três textos, três leituras, que evidenciam uma evolução, de certa forma até três paradigmas de como o homem se pode conceber na sua relação com os outros e com Deus, que aparece sempre como referência constituinte dessa realidade paradigmática.
A leitura do Livro do Levítico apresenta-nos o mandamento do amor ao próximo, mandamento que se insere naquilo que poderíamos chamar o Decálogo da Santidade. Tal como Deus é santo os homens são também chamados a ser santos, mas essa santidade não é algo estranho ou inacessível ao homem, bem pelo contrário está ao seu alcance na medida do mesmo amor ao próximo.
No contexto histórico em que este mandamento aparece podemos dizer que se trata de uma verdadeira revolução, não só porque alarga o conceito de santidade para além do âmbito cultual e ritual, mas porque o aproxima da própria condição do homem e das suas relações com os outros.
Esta revolução, que representa o mandamento ao próximo, fica contudo limitada, na medida em que o próximo é apenas aquele que faz parte do povo ou da tribo, aqueles que hoje podemos dizer que são como nós, pensam como nós, estão nos nossos círculos fechados de relações.
Tendo por pano de fundo esta realidade diferencial, Jesus apresenta o mandamento do amor ao inimigo, essa perfeição divina que se oferece a cada um de nós, e que Jesus proclama ao concluir o chamado Sermão da Montanha, que ocupa o quinto capítulo do Evangelho de São Mateus e que temos vindo a meditar nos últimos domingos.
Face à lei de Talião, em que há um equilíbrio equivalente face ao desejo de vingança, em que o homem funciona como se de um espelho se tratasse, repetindo simétrica e mimeticamente a violência dos outros, Jesus vem afirmar o fim do círculo vicioso da violência ao propor a novidade do dom e da liberdade como ante respostas à violência e ao mal.
Quando o mais fácil e natural é a reacção primária, é o olho por olho, dente por dente, Jesus vem propor o desequilíbrio das equivalências, vem propor a oferta antecipada da paz, a criatividade do amor, que vai para além do necessário.
O homem encontra assim a sua perfeição à semelhança divina, na medida em que livremente se oferece, em que se faz dom, e é capaz de estar a lado do outro para além do necessário e do expectável. É na sua liberdade e na sua oferta generosa que o homem é capaz de antecipar e combater os gestos e as palavras de violência.
A revolução do amor aos inimigos que Jesus apresenta não se traduz por isso num pacifismo, numa desvalorização da existência dos inimigos, numa postura de não-violência, mas traduz-se em iniciativas que visam inviabilizar a violência e o mal e conduzir ao conhecimento e reconhecimento do outro como pessoa.
E neste sentido não podemos deixar de ter presente a grande novidade que nos é oferecida pela Carta de São Paulo aos Coríntios ao dizer que somos templos de Deus e que o Espirito Santo habita em nós.
Se o mandamento do amor ao próximo nos desafia nos gestos e palavras face aos nossos irmãos; se o mandamento do amor aos inimigos nos desafia face àqueles que nos são estranhos e até opostos; o reconhecimento do outro, qualquer que ele seja, como templo de Deus, como morada divina, desafia-nos de uma forma absoluta em todas as realidades, uma vez que o outro é a presença visível de Deus, a oferta e a necessidade de veneração divina que nos é comum a todos.
Esta consciência da habitação divina na nossa humanidade desafia-nos na questão do aborto, da eutanásia, do eugenismo, das guerras, mas também da exploração laboral, da prostituição, da violência doméstica, do cuidado e assistência aos mais idosos, entre tantas outras realidades da nossa sociedade.
Não se trata já de sermos apenas santos como Deus é Santo, ou de ser somente perfeitos como Deus Pai é perfeito, mas de sermos morada da divinidade, de sermos filhos de Deus, todos e cada um de nós, nas suas mais diversas circunstâncias e estados de vida, de sermos de Cristo, e como Cristo é de Deus, de sermos de Deus.
Libertos das ilusões da sabedoria e das ofertas de imortalidade deste mundo, procuremos viver a loucura do amor, confiantes de que todas as coisas presentes e futuras nos pertencem, mas nós nãos lhes pertencemos porque verdadeiramente e em profundidade somos de Deus.

 
Ilustração:
1 – “Amor Fraterno”, de William-Adolphe Bouguereau, Museu de Belas Artes de Boston.
2 – “A Criação do Homem”, por Miguel Ângelo, Capela Sistina, Vaticano.

Deixar-se consolar por Cristo

 
Toda a fé cristã consiste em deixar-me consolar por Cristo ressuscitado. Deixar-me tocar pela ternura infinita de Deus por mim, como a da mãe pelo seu filho.
Jean-Baptiste de Fombelle,

Ilustração: Camélia japoneira do jardim do Convento de Cristo Rei do Porto.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Bastam alguns minutos

 
Bastam alguns minutos para dar ao meu dia um pouco de profundidade e de qualidade.

Marie Cénec,

Ilustração: Pérgula na Avenida de Montevideu, no Porto.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Aprender outra disponibilidade

 
Fico no silêncio e retomo o contacto com o meu ser profundo. Concedo-me o luxo de não estar disponível para os outros. E aprendo pouco a pouco a deixar espaço para uma outra forma de disponibilidade.
Marie Cénec,

Ilustração: Folhas secas no coração de um arbusto no Jardim de Serralves no Porto.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A necessidade do repouso

 
Passei muito tempo a observar os caracóis; hoje, quando me sinto presa na espiral das minhas obrigações… penso na lentidão deles… e abrando o meu passo. Chego mesmo a fechar-me na minha concha, a conceder-me repouso.
Marie Cénec,

Ilustração: Fonte do Jardim da Casa de Serralves no Porto.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A desilusão necessária do Evangelho

 
O Evangelho é a desilusão necessária ao surgimento do que é e não do que dá prazer.
Marie Cénec

Ilustração: Jardin des Bastions, em Genebra, coberto de neve.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A delicadeza de Deus

 
A delicadeza de Deus consiste na sua delicada maneira de nunca violar o coração dos homens ao abordá-los com doçura e de forma indirecta, como quando fala por parábolas.
Marie Cénec,

Ilustração: Amor-perfeito do jardim da Mairie de Vernier.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Amar a Igreja

 
Peço muitas vezes a Deus a graça de amar a Igreja, o que não significa fechar os olhos, mas amá-la apesar dos seus defeitos.
Marie Cénec,

Ilustração: Perspectiva da fachada e torres da Catedral de São Pedro de genebra desde uma rua.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Homilia do VI Domingo do Tempo Comum

A leitura do livro de Ben-Sira que escutámos dizia-nos que diante do homem estão a vida e a morte, e que compete ao homem fazer a sua escolha. Deus deixa aos homens, a cada um de nós, a liberdade de optar, de fazer a sua escolha, de optar pela vida ou pela morte, de optar pelo bem ou pelo mal.
Provavelmente não nos apercebemos disso durante a leitura, mas o autor do texto bíblico, Ben-Sira, termina o seu pensamento dizendo que Deus deixa esta liberdade aos homens porque é grande a sua sabedoria. Ou seja, Deus é sábio nesta liberdade que concede aos homens de fazerem a sua opção.
Para muitos dos nossos irmãos esta liberdade é um obstáculo, certamente até para nós em alguma ocasião já foi, e pensámos como seria bom que Deus nos mostrasse o caminho claro a seguir, a resposta correcta a dar.
Nesses momentos esquecemos que afinal a resposta já foi dada, já nos foi oferecida, e que depende da nossa vontade segui-la, lutar por ela na liberdade que nos é concedida. De facto, Deus ofereceu-nos a vida, e como diz Ben-Sira não nos mandou fazer o mal nem nos deu licença para cometer o pecado.
Esta opção pela vida que Deus nos oferece, que Deus nos propõe, foi confirmada e de certa forma reorientada para o verdadeiro centro por Jesus Cristo, pela sua vida e pelas suas palavras, como as que escutámos no Evangelho de São Mateus que lemos nesta celebração.
Por isso, não nos podemos admirar que Jesus tenha dito que não veio para revogar a Lei ou os profetas, mas bem pelo contrário para os completar, para os levar à perfeição, à orientação fundamental que o tempo e as circunstâncias históricas e humanas tinham desvanecido.
Quando lemos os Evangelhos percebemos pelos gestos e palavras de Jesus que três realidades, ou três grandes problemas marcaram a sua acção, a saúde para os doentes, a alimentação dos pobres e as relações humanas. Poderíamos dizer que eram os eixos fundamentais do seu programa político, se o tivesse tido.
Na leitura do Evangelho de hoje encontramos evidenciado de modo particular a questão das relações humanas, uma realidade intrínseca e fundamental à opção pela vida que somos convidados por Deus a assumir e a viver.
Assim, num primeiro momento, Jesus aborda a incompatibilidade da fé e dos seus elementos expressivos face ao conflito e aos enfrentamentos humanos. Como diz, não nos podemos apresentar diante do altar com a nossa oferta se não estamos em paz com algum dos nossos irmãos.
Face ao culto e à sua necessidade humana como expressão da relação com o divino, Jesus antepõe a pessoa humana, o outro com quem não podemos deixar de estar em paz. Poderíamos dizer que Jesus assume já o homem como o verdadeiro templo de Deus, o templo e o altar no qual se deve prestar a verdadeira adoração a Deus.
Assim, quando cuidamos o outro, os homens e mulheres que vivem connosco, não só estamos a fazer a opção pela vida, que Deus nos convida, mas a centrar-nos no verdadeiramente fundamental, que é o homem como imagem de Deus, como oferta de relação divina.
Num segundo momento, Jesus apresenta-nos a incompatibilidade da fé, da opção pela vida, face ao desejo do que não nos pertence, face à cobiça. Desejar o que não nos pertence opõe-se à valorização do que temos e somos, à falta de reconhecimento e agradecimento dos dons com que fomos cumulados, da própria vida que nos foi oferecida.
E este desejo é ainda mais subversivo, mais destrutivo, na medida em que não só cobiçamos as coisas dos outros, mas cobiçamos e desejamos o próprio outro. Há como que uma apropriação que não nos compete, pois o outro é fundamentalmente de Deus, e uma oferta de Deus à nossa vida.
Assim, quando Jesus nos diz que devemos cortar os membros que são ocasião de pecado, o olho, a mão ou o pé, está a incentivar-nos a essa liberdade de não querermos apossar-nos dos outros, ao reconhecimento do outro como totalmente outro, à sacralidade que devemos manifestar e ter para com o outro enquanto imagem única e irrepetível de Deus.
Por fim Jesus manifesta a incompatibilidade da fé e da opção pela vida com a necessidade de juramento, com a necessidade de acreditarmos a nossa palavra pela acção ou pela palavra de outrem. Para Jesus a nossa verdade deve ser explícita, a nossa fé e opção de vida devem estar de tal modo traduzidas que sejam evidentes por si mesmas, sem qualquer necessidade de suporte exterior.
É a verdade pessoal, a verdade de vida, que se opõe à mentira, à duplicidade com que tantas vezes somos confrontados ou nas quais nos vamos enredando. E uma opção de fé pela vida, de forma livre, não pode prescindir nunca dessa verdade que nos torna mais humanos e igualmente mais divinos.
Fazer a opção pela vida e procurar ser fiel a essa opção, com tudo o que ela acarreta, é afinal uma sabedoria que nos está destinada desde o princípio dos tempos, uma sabedoria que não é deste mundo, como diz São Paulo aos Coríntios, mas que sabemos pelo Espirito Santo nos alcançará uma felicidade inimaginável.
Deus na sua sabedoria deixa-nos a liberdade de escolher porque sabe que em nós habita esse desejo eterno de felicidade e portanto, ainda que nos possamos equivocar, nunca deixaremos de buscar o fim para que fomos criados, a felicidade eterna.
Procuremos pois viver sabiamente em liberdade e responsabilidade com aqueles que nos rodeiam e Deus que habita em todos nós.

 
Ilustração:
1 – “O Jovem entre a virtude e o vício”, de Paolo Veronese, Museu do Prado
2 – “A invejosa”, de Natale Schiavoni.   

A felicidade da vocação

 
Independentemente das condições de trabalho, a vocação aporta uma forma de felicidade pessoal e profissional, uma vez que ela confere àquele que lhe responde o sentimento de consentir em qualquer coisa que ultrapassa os seus limites humanos, qualquer coisa maior que ele.
Anne-Dauphine Juliand,

Ilustração: Árvores cobertas de neve no jardim da Mairie de Vernier.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Como se constrói a felicidade

 
Prestar socorro, acompanhar as almas ou curar os corpos feridos, em uma palavra fazer a felicidade do outro, é o que conceberá a felicidade no trabalho.
Anne-Dauphine Juliand,

Ilustração: Vitral da Samaritana na Capela dos Macabeus na Catedral de São Pedro de Genebra.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Homilia Missa dos Namorados

Meus queridos amigos
Antes de mais quero agradecer-vos a resposta ao desafio que vos lancei de nos reunirmos para celebrar o Dia de São Valentim, o Dia dos Namorados, com uma Eucaristia de acção de graças pelo amor que Deus colocou no coração de cada um de nós.
Quero também partilhar convosco que a ideia me surgiu quando há umas semanas atrás soube do convite que o Papa Francisco tinha dirigido neste mesmo sentido aos vários namorados que se preparam para celebrar o seu casamento.
E ao contrário de um jornalista francês, que ontem comentava no jornal “La Croix” que esta era uma forma de recristianização de uma festa que tinha escapado à esfera de influência da Igreja, creio que não se trata disso, de uma reconquista se assim se pode falar, mas de uma oportunidade para iluminar uma realidade profundamente intrínseca a todos nós, como é o amor e a sua necessidade.
E neste sentido, o Evangelho de São Lucas que escutámos, nesta celebração em que fazemos também memória dos Santos Cirilo e Metódio, padroeiros da Europa, é profundamente rico de notas que nos podem ajudar a viver o amor em verdade e plenitude.
É um Evangelho que nos apresenta o envio dos discípulos dois a dois, tal como dois a dois são chamados e enviados os namorados, aqueles que pretendem contrair uma união estável entre si. Desde o momento da criação que Deus viu que não era bom que o homem estivesse só e por isso necessitamos sempre de alguém, de um outro na nossa vida.
Ao enviar os discípulos dois a dois, Jesus aposta também na complementaridade e no reforço testemunhal de cada um. O enviado tem alguém com quem partilhar as dificuldades e alegrias, assim como uma garantia, um crédito, de verdade que o outro lhe proporciona.
Outro que não podemos nunca deixar de ver como dom, como uma oferta de Deus a cada um de nós. Não é uma propriedade, um bem adquirido para nosso uso e consumo, mas tal como a parábola dos talentos nos diz, é algo, alguém para fazermos crescer, para ajudarmos a ser e a desenvolver-se em plenitude.
O namoro e consequentemente a vida matrimonial é assim um processo, um caminho, que deve conduzir a que o homem seja mais homem pela mulher que tem consigo e a mulher seja mais mulher com o homem que tem ao seu lado. A nossa vocação comum é fazer com que o outro seja mais, seja melhor, seja perfeito, no sentido de que seja em plenitude, seja totalmente ele ou ela.    
Para que tal aconteça não podemos esquecer que uma realidade fundamental deste caminhar é a paz, a paz que o Evangelho nos convidava a levar uns aos outros. Num mundo cansado, cheio de tensão, como fazemos a experiência da paz, e da paz que oferecemos uns aos outros?
Uma carícia, um beijo, um abraço forte podem ser gestos propiciadores de paz, e necessitamos deles, até vital e fisicamente necessitamos deles, mas temos que ter também a ousadia, pelo mesmo amor, de gestos que exigem mais de nós, que nos conduzem a uma paz interior mais profunda e intensa, como são o perdoar, o pedir por favor, o agradecer.
Ainda esta manhã o Papa Francisco falava destas atitudes aos cerca de vinte cinco mil noivos que se encontraram com ele na Praça de São Pedro. Necessitamos de pequenos gestos, de gestos que dignifiquem o nosso amor e a pessoa que cada um é e quer que o outro seja. No amor não podemos querer que o outro seja menos que nós.
Estes gestos e este processo são, face à cultura do consumo e do provisório em que vivemos, como um envio de cordeiros para o meio de lobos; mas não podemos temer estes lobos, nem ter medo de viver o amor arriscando em opções definitivas, porque no fim das contas o que está em causa é a nossa realização, a nossa realização plena à imagem e semelhança do Filho de Deus.
Também Jesus viveu de forma radical o amor; e a sua promessa de que nunca nos deixaria abandonados, que onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome ele estaria presente, deve animar-nos e fortalecer-nos neste caminhar e viver radical do amor.
Afinal no nosso amor encontra-se presente Deus, Ele que é a fonte de todo o amor e o horizonte para o qual todo o amor deve tender. Se vivermos de verdade o amor a força criadora e transformadora de Deus estará connosco e enfrentará todos os desafios.


Ilustração: "Jacob e Raquel junto ao Poço", de

 

Entre as realidades

 
O peso da nossa fragilidade faz-nos inclinar para as realidades de aqui de baixo; o fogo do teu amor, Senhor, eleva-nos e transporta-nos para as realidades do alto.
Santo Agostinho,

Ilustração: Campos cobertos de neve na Suíça.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A paz dos pequenos actos

 
A paz é uma responsabilidade universal. Ela passa por mil pequenos actos da vida quotidiana.
Papa João Paulo II

Ilustração: Cedro do Líbano no jardim da Mairie de Vernier.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O que nos falta no virtual

 
Quando estamos unicamente no virtual não estamos na dimensão do sentimento. Falta um nível de partilha. As pessoas privam-se da linguagem afectiva que é a nossa fonte de vida.
Geneviéve de Taisne

Ilustração: Escultura do Jardim de Serralves no Porto.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Que Deus faça de mim

 
Que Deus faça de mim uma verdadeira morada de luz e de amor, uma palavra para levar a sua alegria.
Marthe Robin

Ilustração: Interior da igreja paroquial de Vernier.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O que nos alimenta

 
Não é o intelectual que nos alimenta, é a partilha afectiva, essencial para a nossa vitalidade.
Geneviéve de Taisne

Ilustração: Fonte do Jardim de Serralves, no Porto.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Homilia do V Domingo do Tempo Comum

Meus Irmãos
Creio que é facilmente perceptível que a leitura do Evangelho de São Mateus que escutámos nos lança um desafio incontornável, nos apresenta e formula um projecto de vida ao qual não podemos deixar de dar uma resposta. Jesus convida-nos a ser sal da terra e luz do mundo.
Este desafio lançado aos discípulos de Jesus é extremamente significativo e revolucionário porque não é um convite dirigido às realidades práticas, ao que fazemos, como à primeira vista pode parecer, mas é um convite que se dirige à nossa identidade, que interfere com o nosso ser profundo como cristãos. Jesus convida-nos a ser.
E convida-nos a ser, antes de mais, sal da terra, ou seja, a dar sabor à vida e a ajudar a conservar a vida, tal como o sal faz com os alimentos nos processos alimentares.
Neste sentido, é bom não deixarmos de ter presente que a nossa humanidade, o nosso existir humano, acontece de certa forma como um processo alimentar, no qual somos alimento uns para os outros, no qual somos confrontados com a necessidade de nos alimentarmos uns aos outros.
Tal acontece na forma mais básica, quando um pai ou uma mãe procede à aquisição e preparação das refeições para os filhos dependentes, e dessa forma não só os alimenta biologicamente mas também com o carinho e a responsabilidade que colocou em tal tarefa.
Num outro nível, a alimentação acontece quando num momento de dor ou solidão, perante uma perda ou uma derrota, alguém conforta o outro, lhe proporciona palavras de alento e o reergue para a vitalidade que lhe é natural.
Nestas diversas realidades, nesta alimentação comum que realizamos uns com os outros, o sal que somos convidados a ser traduz-se na esperança e na confiança que proporcionamos, na configuração cada vez mais perfeita do outro, e de nos próprios pelo gesto realizado, ao fim último de todo o homem que é Deus.
Ao alimentarmos o outro não podemos esquecer que o verdadeiro alimento do homem é Deus, e portanto somos sal da terra na medida em que colocamos os outros e a sua vida na órbita da divinização do seu ser. E tal acontece obrigatoriamente no momento em que o homem vive cada vez mais a sua verdade e a sua dignidade como homem.
A leitura do profeta Isaías deixa-nos algumas pistas para esta nossa missão, para que este processo de salga aconteça verdadeiramente, como são a libertação da opressão, a supressão dos gestos de violência, a luta pelas condições de vida e dignidade dos outros.  
Ser sal da terra, dando sabor à alimentação que facultamos uns aos outros, está necessariamente condicionado à dissolução, ao desaparecimento, pois só o sal que se dissolve pode realçar os sabores de cada um.
Ser sal da terra significa que na nossa missão não estamos convidados a configurar os outros ao nosso desejo e às nossas expectativas, ao nosso modelo, mas a proporcionar-lhes que pessoalmente e de forma única se configurem com aquele que é o seu princípio e fim, que é Deus.
Esta condição, intrínseca ao processo de ser sal, parece colidir com a outra dimensão que Jesus nos convida a viver e a assumir, que é ser luz do mundo. Como podemos ser luz do mundo, ser como uma cidade colocada no alto de um monte, quando nos temos que dissolver?
A resposta para esta questão encontra-se no início do Evangelho de São João, quando nos é dito que Jesus é a verdadeira luz, a luz que veio ao mundo e as trevas recusaram, os homens não quiseram acolher.
Somos assim luz para o mundo quando acolhemos a verdadeira luz que é Jesus Cristo e pela sua habitação em nós, pelo seu rebrilhar em nós, nos transformamos em luz para os outros. Não somos a luz mas espelhamos a luz e dessa forma iluminamos o mundo.
Tal como São João Baptista que disse que era necessário que diminuísse para que Jesus pudesse crescer, também nós somos luz, e podemos ser luz, na medida em que diminuímos a nossa vaidade centralizante e deixamos que Cristo cresça e brilhe em nós.
São Paulo viveu também este processo, ele que se apresentou em Atenas a anunciar a Boa Nova de Jesus servindo-se para isso das suas qualificações académicas, da sua sabedoria e filosofia humanas. A ausência de resposta por parte dos atenienses à sua pregação conduziu a uma outra atitude diante dos coríntios, aos quais se apresentou já não com sublimidade de linguagem mas apenas com a verdade do Evangelho e a verdade de Jesus crucificado.
São Paulo percebeu que para levar a cabo a missão de ser sal da terra e luz do mundo não podia centrar-se em si e nas suas capacidades, mas tinha que dissolver-se confiando e entregando-se ao poder do Espirito Santo, o qual o impelia a anunciar pela palavra e pela vida o mistério de Deus em Jesus Cristo crucificado.
Tal é o desafio que nos fica, deixarmo-nos guiar pelo Espirito Santo, não impondo nada a ninguém, mas oferecendo tal como o pão de que nos alimentamos a verdade de Jesus Cristo, para que também eles glorifiquem a Deus.

 
Ilustração:
1 – “cristo como luz do mundo”, de Paris Bordone, National Gallery, Londres.
2 – “São Paulo em Atenas”, de Rafael, Colecção Real do Reino Unido.

 

Temos necessidade de um lugar

 
Nós temos necessidade de ter um lugar na construção do mundo comum, e ainda que este lugar nos pareça minúsculo. Nós somos seres de acção e devemos sentir que somos parte integrante deste tempo, cada um à sua medida.
Véronique Margron

Ilustração: Monumento a Ferdinand Hodler no Jardin du Pin em Genebra

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Não existir para outros

 
A solidão não consiste antes de mais no facto de estar só, porque posso estar só e existir para os outros, com outros. Mas posso também, dolorosamente, estar em sociedade e não existir para ninguém.
Véronique Margron

Ilustração: Arbusto com neve no Jardin des Bastions em Genebra.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Oração que é balbuciar

 
Na tua oração nada de fórmulas rebuscadas, o simples e monótono balbuciar de uma criança é suficiente para tocar o seu pai.
São João Clímaco,

Ilustração: Estátua junto à fachada do Palácio de Versalhes.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O essencial está à volta da mesa

 
Os Antigos sabiam que valia mais refrear a cupidez que deixar-lhe a rédea solta: quanto mais se satisfaz, mais ela reclama, e com isso é a frustração que ganha. Cristo recorda-nos que o essencial se encontra à volta de uma mesa, com pão e vinho, na amizade e na palavra.
Fabrice Hadjadj,

Ilustração: Bar Restaurante do Museu de Arte e História de Genebra.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Deixar a Palavra fazer o seu caminho

 
A dificuldade estava em propor aos jovens o versículo bíblico sem que ele parecesse dogmático ou moralizador. Nós queremos deixar uma grande liberdade ao internauta, dar-lhe acesso ao texto e deixar a Palavra de Deus fazer o seu caminho.
Elisabeth Terrien,

Ilustração: Calçada do Jardim de Serralves no Porto.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

As crianças são naturalmente

 
Muitos cristãos ignoram que as crianças são naturalmente espirituais e eu sinto o dever de cultivar esta espiritualidade que elas têm em si.
Chantal Créach,

Ilustração: Putis do Bassin Central dos Jardins do Palácio de Versalhes.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Datas para a Memória da Igreja e Paróquia de Cristo Rei

A publicação de uma fotografia antiga no dia em que a Paróquia de Cristo Rei celebrou os seus trinta e cinco anos suscitou bastante interesse e levantou algumas dúvidas e perguntas que convém esclarecer.
Os dominicanos chegaram à Gomes da Costa a 14 de Agosto de 1949, instalando-se numa casa que pertencia a D. Emília Matoso Botelho na Rua Afonso de Albuquerque.
Nos primeiros dias de Abril de 1950 dava-se início aos trabalhos de desaterro, para que pudessem ser lançados os alicerces, pela empresa “Ramalhão e Silva”, à qual tinha sido adjudicada a obra.
Aos 28 dias do mês de Agosto de 1951 era lançada a primeira pedra da igreja e convento, numa cerimónia presidida pelo Bispo Auxiliar do Porto D. Policarpo da Costa Vaz e à qual assistiram as diversas autoridades da cidade do Porto.
Entre as autoridades presentes encontrava-se o Engenheiro Cândido Ramalhete, nomeado Fiscal por parte do Estado das Obras do Convento e Igreja, o Doutor Braga da Cruz, Governador Civil do Porto, o Coronel Lucínio Presa, Presidente da Câmara do Porto, o Engenheiro Brito e Cunha, Director Geral dos Serviços de Urbanização, para além de Vereadores e outros Funcionários Superiores.
A 16 de Abril de 1952, Domingo de Ramos, era inaugurada a cripta da igreja, tendo-se encomendado em Paris um grupo escultório de Georges Serraz com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e São Domingos para o altar, que não chegou a tempo da cerimónia e só mais tarde foi colocado no lugar.
Meio ano mais tarde, em Outubro de 1952, era inaugurada a parte residencial, o Convento.
Aos 23 dias do mês de Maio de 1954 era sagrada a Igreja de Cristo Rei pelos bispos D. Francisco Rendeiro e D. António Ferreira Gomes, tendo sido a celebração transmitida pela Emissora Nacional.
Em Outubro de 1959 era instituído o Convento de Cristo Rei, a comunidade dominicana ali residente atingia o número necessário de frades e a estabilidade de vida para poder passar de Casa a Convento.
Passados vinte anos sobre a instituição oficial do Convento de Cristo, e a pedido de muitas famílias, a 2 de Fevereiro de 1979 era constituída a Paróquia Experimental de Cristo Rei pelo Bispo D. António Ferreira Gomes, sendo nomeado como primeiro Pároco frei Eugénio Boléo.
Passaram trinta e cinco anos sobre a Paróquia e em breve passarão sessenta e três sobre o lançamento da primeira pedra da igreja, bem como sessenta sobre a sua sagração.
Este é assim um ano para fazer memória e sonhar o futuro.

A visibilidade sacramental dos cristãos

 
O que conta é que as comunidades cristãs saibam viver de acordo com o Evangelho, testemunhá-lo, fazer com a sua vida a história de Jesus Cristo. A visibilidade dos cristãos, se é conforme ao Evangelho, será por ela própria manifesta, sacramental, significativa.
Enzo Bianchi,

Ilustração: Trecho das estantes da biblioteca do Convento de Mafra

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Homilia da Festa da Apresentação do Senhor

Passados quarenta dias sobre o nascimento de Jesus celebramos a Festa da Apresentação de Jesus no Templo. Maria e José sobem a Jerusalém para cumprir o que estava estipulado na Lei de Moisés, a consagração daquele que era o primeiro filho e a purificação daquela que tinha dado à luz.
É um acontecimento que não pode deixar de ser visto e lido à luz da construção teológica da narração evangélica, pois, ainda que estivesse estipulado a consagração do primeiro filho e o rito da purificação da mãe, nada na Lei obrigava a subida a Jerusalém para o cumprimento de tal rito e consagração.
A apresentação de Jesus no templo, ainda que enquadrada nos preceitos legais e rituais, é assim uma espécie de metáfora, como que um prólogo carregado de imagens que sintetizam a vida e o mistério de Jesus.
Neste sentido, a oferta e consagração de Jesus no templo de Jerusalém apela inequivocamente para a consagração e a entrega de Jesus na cruz, é como se um processo se iniciasse para ter a sua conclusão nas palavras “Pai nas tuas mãos entrego o meu espirito”. O que aqui se inicia segundo a Lei vai concluir-se de acordo com a vontade livre daquele que entrega e consagra a sua vida ao Pai.
Por outro lado, a apresentação de Jesus no templo representa também a oblação perfeita, a oblação agradável como profetizava Malaquias que escutámos na primeira leitura, uma oblação que não pode ser obtida pelo sacrifício de touros e carneiros, mas pelo próprio Filho quando se entrega na cruz no momento em que os cordeiros da Páscoa são sacrificados.
A apresentação de Jesus no templo é ainda a manifestação do sacerdócio de Jesus, um sacerdócio que nunca será exercido no templo edificado por mãos humanas, mas que será exercido pela fidelidade ao amor de Deus, à misericórdia divina. Ao ser apresentado no templo Jesus toma de certa forma posse da casa de Deus, o que lhe permite doze anos mais tarde dizer a José e Maria que era sua obrigação olhar pela casa de seu Pai.
Nesta metáfora poliédrica que é a apresentação de Jesus no templo não podemos esquecer que ela significa ainda o encontro de Deus com o homem, pois no momento da apresentação deparamos com o velho Simeão que vem ao encontro de Jesus, que é trazido pelo Espirito Santo para se encontrar com aquele que esperava, e com a profetiza Ana que não deixa de anunciar a todos o que tinha descoberto naquele menino.
Simeão, que o texto nos apresenta como um homem justo e piedoso, representa o povo de Israel, bem como toda a humanidade, que apesar das dificuldades não se cansava de esperar a salvação, a vinda do Messias. Por seu lado, Ana representa o povo que face ao encontro e ao conhecimento daquele que é o Salvador não cessa de o anunciar e apresentar aos outros como salvação.
Simeão e Ana traduzem assim, no acontecimento da apresentação de Jesus, o encontro da bondade de Deus com as expectativas da humanidade, a espera confiante e diligente do homem, bem como a urgência de anunciar e partilhar com os outros a alegria do tesouro encontrado.  
Estas atitudes definem de certa forma os consagrados que nesta festa da Apresentação de Jesus a Igreja recorda e apresenta como experiência radical do seguimento de Jesus.
Contudo, não podemos esquecer que os consagrados no seu desejo intenso de ver Deus e na perseverança da sua oração e missão são para todos nós memória e apelo do dom do encontro com Deus, são um convite à renovação pessoal e comunitária do desejo de seguir Jesus, de lhe ser fiel, e de o levar a todos os homens. Se os consagrados anunciam o dom de Deus aos homens, o fazem presente e visível, é para que cada um de nós o tenha presente e renove em si próprio esse mesmo espirito de dom.
Ao celebrarmos nesta Festa da Apresentação de Jesus os trinta e cinco anos desta paróquia de Cristo Rei é bom recordar os consagrados que já por aqui passaram e procuraram testemunhar a alegria do encontro com o Senhor. Contudo, não podemos deixar de salientar que estes trinta e cinco anos de história são também uma experiência do encontro com Cristo, de que a Eucaristia comunitária é a expressão mais concreta e dinâmica, mais realizadora e potenciadora.
Em cada Eucaristia Deus vem uma vez mais ao nosso encontro, aqui e agora, na Palavra que escutámos, no Pão da Vida que comungamos e na nossa relação fraterna e amiga Deus vem ao nosso encontro.
As velas que abençoámos e acendemos no início da nossa Eucaristia e que cada um vai levar consigo é um sinal da luz deste encontro com Deus que hoje celebramos, luz que necessita chegar a todos os povos e a todas as realidades que ainda estão distantes do amor salvífico de Deus, e que nos compete iluminar.
Que nos deixemos guiar pelo Espirito Santo nesta missão de levar a luz de Cristo tal como Simeão se deixou guiar até ao templo de Jerusalém.

 
Ilustração: “Apresentação de Jesus no Templo”, de Sébastien Bourdon, Museu do Louvre.

Não significa ser insignificante

 
Ser uma realidade pequena não significa ser insignificante! Ser fraco e frágil não equivale a ser espiritualmente decadente. Muitas comunidades pobres em efectivos, pouco visíveis, incapazes de se impor, foram na realidade minorias criativas e convictas, capazes de mudar o curso da história.
Enzo Bianchi,

Ilustração: Árvore coberta de neve no jardim de Vernier, Suíça.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

E Deus viu que eram boas

 
Devíamos maravilhar-nos pelo facto de Deus, ainda que tendo criado realidades precárias, ter visto “que elas eram belas e boas” (Gn1). Poucas coisas são tão precárias como uma flor; mas quem, por esta mesma razão, não sabe reconhecer-lhe a beleza?
Enzo Bianchi,

Ilustração: Flor da casa dos meus pais.