domingo, 31 de janeiro de 2010

Homilia Domingo IV do Tempo Comum

Encontramo-nos hoje no Evangelho com a segunda parte do relato da visita de Jesus à sua aldeia de Nazaré. Uma segunda parte que nos complementa a visão do domingo passado e que nos revela como a acção de Jesus foi mal compreendida e terminou em violência quase mortal.
É também um trecho do Evangelho que nos permite ver, quase resumida e antecipadamente, o que vai ser a vida de Jesus, o seu confronto com a natureza humana, o confronto com aqueles mesmos que o admiram, a violência que vai gerar sem querer e a sua passagem para além de tudo isso por causa do amor que o habita e do sentido da missão a que está destinado pelo Pai.
A pergunta que todos fazem “não é este o filho de José” e a afirmação de Jesus “médico cura-te a ti mesmo” coloca-nos perante a síntese redacional do que foi a vida humana de Jesus, vida experimentada nas suas limitações. Durante toda a sua vida Jesus não pôde libertar-se da sua condição de filho de homem, de filho de José, do carpinteiro de Nazaré. É a sua corporeidade física e identidade social, é o que o marca e insere no conjunto do grupo humano e da história. Jesus é antes de mais e para aqueles que com ele se cruzam um homem, um homem com história, com família, natural de um lugar, com uma profissão. Jesus é inevitavelmente um dos seus, um dos nossos, um como nós, e por isso é difícil olhar para além do que estamos habituados e estruturados. Ainda hoje, passados dois mil anos, continuamos a ter dificuldade em ver o outro para além das nossas razões e expectativas, até a ver Jesus para além do que são as nossas expectativas sobre ele. Já para não falar no próprio Deus, que envolvemos nas nossas molduras douradas das concepções mais humanas, inviabilizando a sua surpresa.
A esta dificuldade humana de Jesus acresce o estigma que lhe foi lançado da loucura e da possessão diabólica. Em várias passagens dos evangelhos encontramos ecos desta ideia e deste preconceito. As palavras e as acções de Jesus eram estranhas, eram incompreensíveis e por isso a primeira e mais fácil explicação foi a da alienação, a da loucura. A sua própria mãe um dia o procurará, infectada dessa mesma ideia incutida pela família e pelo poder patriarcal do grupo.
Como Jesus diz nenhum profeta é bem aceite na sua terra, mas a verdade é bem mais radical e taxativa, porque os profetas são por natureza recusáveis e recusados, são produtos de uma loucura. Os profetas colocam os olhos para além do imediato, daquilo que é previsível e possível. Os profetas regem-se por horizontes de alguma forma loucos porque são horizontes sem medida, alargados à imaginação e ao impossível. E nós, quase todos nós nos regemos por horizontes muito limitados, previsíveis. É a nossa necessidade de segurança, o desejo de controlo absoluto que não nos permite ir mais além. Como profeta, enviado de Deus, sabendo que tinha sido gerado, escolhido e enviado desde o seio materno, Jesus assume e vive a loucura de novos e alargados horizontes e inevitavelmente experimenta a rejeição e o limite da exclusão e incompreensão.
Exclusão e incompreensão daqueles que num primeiro momento o vão admirar, o vão quase idolatrar na satisfação das suas expectativas. Também aqueles homens de Nazaré o admiraram num primeiro momento, enquanto não perceberam que Jesus não estava ali para satisfazer as suas necessidades e aspirações. Quando perceberam que o extraordinário que tinham diante deles afinal não lhes pertencia nem o podiam controlar viraram-se contra ele e desejaram dar-lhe um fim. Ao longo da vida de Jesus muito de semelhante se vai passar. Serão alguns discípulos que o abandonarão, serão os fariseus com quem privará, será o próprio povo que um dia o acolherá efusivamente e uma semana depois pedirá a sua morte.
E nós hoje continuamos a fazer mais ou menos o mesmo, continuamos a excluir e a condenar à morte aqueles que se nos escapam das expectativas e do nosso controlo. E uma vez mais Deus também não fica de fora deste nosso mecanismo, pois quando não corresponde aos nossos pedidos, ao nosso controlo, é rejeitado e jogado para um canto de onde o retiraremos novamente num momento de nova necessidade e expectativa de correspondência controlada.
Por tudo isto não nos pode estranhar a paixão de Jesus, o processo violento da sua condenação e morte, não podemos ficar chocados com a afirmação de Nietzsche da morte de Deus para a ascensão do super homem, nem com a afirmação de Jean Paul Sartre de que o inferno são os outros. São os nossos mecanismos de violência e sobrevivência desde que expulsos do paraíso a manifestarem-se e a manifestarem como nos falta dimensão divina apesar de obras e filhos de Deus.
Perante toda a violência, Jesus passou por entre eles e seguiu o seu caminho, como cidade fortificada e coluna de ferro, porque apesar de todo o ódio e desejo de aniquilação, Deus estava com ele e nele para o salvar e portanto não o poderiam vencer. Mesmo condenado à morte não o puderam vencer, a caridade que habitava nele, que se tinha feito forma humana nele, ressuscitou três dias depois. Nada pode vencer a caridade e ainda que os nossos mecanismos de violência e morte continuem activos e actuantes Deus continua a passar por entre nós, esperando que o recebamos ou de contrário partindo em busca daqueles que o possam receber.
Se tivermos a coragem de receber Deus na sua diferença e liberdade, no insuspeitável da sua acção e manifestação, na surpresa que é, certamente Deus ficará connosco e nos transformará em muralhas de bronze que nada poderá vencer, em címbalos sonoros que ecoarão até ao infinito a glória do seu amor. Acolhamos o Senhor que passa e bate à nossa porta.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Soneto de D. José de Faria Manuel ao Leitor devoto do Rosário do Santíssimo Sacramento

Ao Leitor devoto

Neste campo de rosas esmaltado
Um tesouro (cristão) tens escondido
E pois aqui o achaste prevenido
Tem grandíssimo gosto deste achado.

Corre discreto já vai apressado
Vende tudo o que tens de divertido
E se com graça o compras advertido
Muita glória terás de haver comprado.

Se rico queres ser, ama as riquezas
Verdadeiras, com fé mais levantada,
Aqui tens os rubis, pérolas e ouro.

E virás a alcançar, se isto interessas,
Que aí teu coração faça morada
Aonde consideras teu tesouro.[1]

[1] FALCONI, Francisco – Rosário do Santíssimo Sacramento, Lisboa, Domingos Carneiro, 1662.

Solilóquio de Sor Violante do Céu ao Santíssimo Sacramento

Solilóquio ao Santíssimo Sacramento incluindo o Mistério da Visitação de Sor Violante do Céu, Religiosa no Convento da Rosa, de Lisboa

Absorta em vossas finezas / Oh! Majestade divina
Para ser toda louvores / Quisera ser toda línguas.
Mas ai que uma língua humana / E mais sobre humana indigna
Não explica tanto aplauso / Tanto louvor não explica.

Mas Senhor, rompo o silêncio / Pois Vós me dais ousadia
Quando no que me acobarda / Acho o mesmo que me anima.
Porque se objecto tão grande / Por grande me atemoriza
Essa grandeza me alenta, / Quando tão breve se cifra.

Que como vosso querer / Faz das finezas delícias
Para me dar confianças / Por fineza vos limita.
Oh! Que extremos tão amantes / Senhor, meu discurso admira
No Misterioso discurso / De vossa temporal vida.

Porque desde que amoroso / Descestes da Corte impirea
A levantar as humildades / A exercitar maravilhas.
Tão finamente ostentastes / Acções de amor sempre finas,
Que são só para admiradas / Mas não para encarecidas.

Oh! Quanto, Senhor, ò quanto / Com a desse Pão combina
Aquela que exercitastes / Tanto em favor do Baptista.
Porque assim como encerrado / Naquela custódia divina
Cuja divina pureza / Esse candor simboliza.

Assim como entronizado / Nas entranhas de Maria
Aquele rosal de luzes, / Aquele céu de boninas.
Ao Precursor visitastes / Para que com tal visita
Não só ficasse o mais Santo / Mas parecesse o Messias.

Assim também nessa hóstia / A que todo o céu se humilha
Por custódia abreviada / Dessa deidade infinita.
Almas visitais amante / Porque quereis vida minha
Não só que fiquem mui santas, / Mas que pareçam Baptistas

Oh! Que visita tão útil / Pois as almas santifica,
E às mesmas almas que busca / De Baptistas acredita.
O quem deste grande luzeiro / Que de vós luz participa
Participará de graça / Tomará exemplo da vida!

Para poder receber-vos / Tão puramente, e tão digna
Que com ele exercitará / Demonstrações de alegria.
Mas ai que quem por instantes / De méritos multiplica
Não pode ostentar prazeres / Em quanto teme ruínas.

Ai que não pode quem teme, / Que o favor se mude em iras
Em rigores a clemência / As piedades em justiça.
Imitar ao maior Santo / Nas demonstrações festivas
Porque não imita glórias, / Quem méritos não imita.

Mas se em favor da minha alma / Se interpuser por valia
Aquela Mãe e Donzela, / Que vos gerou com um Fiat.
Se me apadrinhar aquele / De quem foi doce madrinha
Quando nasceu como aurora / Para que nascesse o dia.

Alcançarei tais venturas / (Pois logro a mesma visita)
Que faça alegres mudanças / Para firmezas divinas.
E agora imitando o canto / Daquela Ave peregrina
Que do Espírito mais puro / Aprendeu a poesia.

Vos engrandece a minha alma / Na visita da Eucaristia
Segura em que há-de agradar-vos / Com os versos de Maria.
Fazei que tão alto chegue / Minha voz posto que indigna
Que chegue a Vós, e convosco / Tome a respiração precisa.

Fazei divino Monarca / Que quem logra tal visita
Só para vós tenha voz, / Só para vós tenha vida.[1]

[1] FALCONI, Francisco – Rosário do Santíssimo Sacramento, Lisboa, Domingos Carneiro, 1662.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Oração de São Tomás de Aquino à Eucaristia

A Igreja e de modo especial a Ordem de São Domingos celebra hoje a festa de São Tomás de Aquino, filho elevado às glórias do céu pela busca da verdade e da inteligência da fé.
Guilherme de Tocco, primeiro biógrafo do nosso santo Doutor conta-nos que no momento da sua morte, na Abadia de Fossanova, São Tomás proferiu a seguinte oração ao Santíssimo Sacramento, ao corpo e sangue do seu Senhor e que ele tinha cantado tão perfeitamente para a liturgia da Igreja na festa do Corpo de Deus.

Eu vos recebo, preço do resgate da minha alma, eu vos recebo viático da minha viagem. Por amor de vós estudei, velei, trabalhei. Por vós preguei, ensinei, jamais disse alguma coisa contra vós; e se disse qualquer coisa fi-lo sem saber e não me obstino na minha opinião. E se disse qualquer coisa de mal a propósito do vosso sacramento ou de outras matérias, entrego-o inteiramente ao julgamento da Santa Igreja Romana. É em obediência com ela que deixo agora esta vida.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Homilia Domingo III do Tempo Comum

O Evangelho de São Lucas que escutámos neste terceiro domingo do Tempo Comum apresenta-nos a passagem de Jesus pela sinagoga de Nazaré sua aldeia de adopção e vida até à idade adulta.
É uma passagem importante para Jesus porque no Evangelho de São Lucas é o momento da viragem na sua vida, o momento do aparecer socialmente, o momento no qual Jesus assume a sua missão e digamos até identidade ao dizer que naquele dia se cumpria o prometido no livro do profeta Isaías que tinha acabo de ler.
Para nós é também uma passagem significativa porque desenvolve a dimensão testemunhal a que estamos intimados pela nossa fé, uma dimensão assente no que se vê e no que está para além do que se vê, e assente na palavra do outro que nos ilumina e abre os olhos para as realidades.
O texto do Evangelho diz-nos que todos os olhos estavam postos em Jesus, embora não se nos diga nem se perceba muito bem porquê. Para os participantes daquela assembleia Jesus não era um estranho, era um deles, um conhecido e pelo que nos diz o evangelista, Jesus também não fez nada de extraordinário, bem pelo contrário segundo o seu costume leu um texto do profeta na sinagoga.
Assim sendo, se os olhos se fixaram em Jesus e esperavam alguma coisa é porque os assistentes tinham a possibilidade de ver mais do que lhes era permitido ver pelos olhos, podiam ver com os olhos da fé. Por esta razão e indo ao seu encontro é que Jesus termina o silêncio, após a leitura, com a afirmação do cumprimento daquilo que tinha sido lido. Aqueles homens e mulheres eram os cegos de que falava a profecia de Isaías e Jesus estava ali presente, no meio deles, para lhes abrir os olhos, para os trazer para a luz, para que integrassem o ano de graça que se iniciava.
Era necessário no entanto dar um salto, ultrapassar as razões do que se via, do conhecido e comum para se entrar na outra dimensão da visão, na dimensão da fé que lhes permitiria ver quem de facto era aquele que eles conheciam desde a infância. Os acontecimentos posteriores testemunham-nos que não foram capazes, que não foram capazes dessa fé e por isso Jesus teve que abandonar a sua terra sem ter feito nenhum milagre nem nenhuma cura porque eles não tinham tido fé. O que os olhos lhes tinham permitido ver tinha-lhes impossibilitado a verdadeira visão.
É para colmatar estar falta, para ultrapassar a limitação da visão que, como o próprio nos diz, Lucas começou a escrever o seu Evangelho. Para tal, e para informar e formar a fé de Teófilo, Lucas procura como um detective exigente encontrar os relatos e histórias das testemunhas oculares. Mas não fica apenas por aí, por esse dado empírico e experiencial, ele procura e procurou também os testemunhos dos ministros da palavra, os testemunhos daqueles que souberam ver para além do que os olhos e os sentidos lhes permitiam captar. Desta forma e com ambos os testemunhos Lucas podia verdadeiramente fornecer um conhecimento seguro.
Para nós, e a exemplo dos homens e mulheres da sinagoga de Nazaré e do próprio Teófilo para quem Lucas escreve, é importante e fundamental perceber e ver o que está para lá do que os nossos olhos nos permitem ver. Temos que ver com os olhos e com o coração, ou alma, para nos encontrarmos com a verdade da revelação.
Podemos e devemos realizar este processo de visão através do contacto com a Sagrada Escritura, da visão da Palavra de Deus plasmada em histórias de encontros e desencontros humanos. Contudo, não nos podemos fixar apenas aí, não podemos olhar e ler com os olhos do corpo, necessitamos ultrapassar essa limitação e ler a história com os olhos dos ministros da palavra, daqueles que ao contrário dos habitantes de Nazaré foram capazes de ver o cumprimento das promessas, foram capazes de ver o Filho de Deus naquele filho de homem que era o carpinteiro de Nazaré. Deus escreve em linhas e letras humanas a sua história na nossa história.
Na Eucaristia podemos também encontrar-nos com este processo de visão, não já reduzido apenas à Palavra, mas explanado nas acções simbólicas e sacramentais que se realizam. Na celebração eucarística, com toda a liturgia que lhe está associada e inerente Deus faz-se também visível, e podemos deixa-nos cegar por aquilo que os olhos vêem ou ir mais além e apesar da pobreza do canto e das falhas do presidente ver a presença de Deus entre nós.
Quando nos encontramos com a Palavra e a Eucaristia Deus faz-se presente entre nós e dá-se cumprimento às passagens da Escritura, da promessa que nos foi feita. Temos assim que assumir que a exemplo de Nazaré a presença é cumprimento do anunciado, e não um cumprimento meramente formal ou exterior mas um verdadeiro e total cumprimento actual, hodierno. Também a nós Deus continua a dizer que se cumpre hoje o anunciado nas Escrituras, para o vermos necessitamos apenas de ter olhos que vêem para além do que é possível ver física e humanamente.
E realizada esta experiência podemos partir para o testemunho, para o anúncio da Boa Nova aos outros homens e mulheres, um anúncio que estará devidamente encarnado porque o teremos assumido como nossa história como nossa carne e nossa vida, e certamente seremos acreditados porque testemunharemos ministerialmente pelas palavras e pelas obras o que vimos e o que é possível ver.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Beato Henrique Suzo

Henrique Suzo, o Beato Henrique Suzo de quem hoje a Ordem dos Pregadores comemora a memória morreu em Ulm em 25 de Janeiro de 1366. Discípulo do Mestre Eckhart e amigo de João Tauler é um dos expoentes da chamada mística renana, uma corrente espiritual que se desenvolveu no século XIV nas margens do Reno e que vai ter uma influência enorme em outros místicos posteriores como Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Ávila, frei Luís de Granada, entre outros.
É de uma carta de Henrique Suzo a uma monja sua dirigida o excerto que se segue, um manifesto de espiritualidade equilibrada e sã.
Um sábio não deve sacrificar a sua interioridade nos altares das ocupações exteriores, nem tão pouco recusar as ocupações exteriores para preservar a sua interioridade. O verdadeiro sábio, durante a actividade exterior, ocupará o seu espírito com santos desejos, de modo que não lhe custe muito recolher-se de novo no seu interior; e por sua vez, nos exercícios interiores manterá o seu espírito tão desprendido que possa atender qualquer assunto exterior que o reclame, quando o tempo e a razão o peçam. Desta forma, sairá e entrará, e em tudo terá paz, como diz o Sábio (Si 24,11) e em ambos os aspectos da vida a sua alma encontrará alimento como disse o Salvador (Jo 10,9)”[1].

[1] SUZO, Henrique – Obras. Exemplar y Cuatro Sermones Alemanes. Salamanca, Editorial SanEsteban, 2008, 568.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Homilia Domingo II do Tempo Comum

Iniciamos o Tempo Comum do ano litúrgico, neste terceiro ciclo das leituras bíblicas, com o episódio das bodas de Caná da Galileia, um episódio único do Evangelho de São João e que não se encontra em qualquer dos outros Evangelhos. Pela riqueza da teologia que lhe está subjacente, pela carga simbólica com que está redigido, poderíamos passar tempos infinitos a tentar interpretá-lo e mesmo assim não alcançaríamos toda a riqueza e beleza da mensagem divina que nos transmite. Resta-nos assim ir tenteando, procurando aos poucos beber desse vinho novo que nos é oferecido, vinho que nos inebria, vinho que nos cura e nos fortalece na caminhada para as bodas celestiais.
Neste tentear temos que ter presente a construção temporal que o autor do texto estabelece, porque as bodas a que Jesus comparece com sua mãe e os seus discípulos são umas bodas do terceiro dia. Elas estão assim, e neste contexto cronológico, intimamente relacionadas com a ressurreição, com o acontecimento pascal, que se desenrola também em três dias.
Ainda neste contexto, não podemos passar ao lado do que acontece antes, nos dias que precedem as bodas; e assim encontramos no primeiro dia o chamamento de André e Simão Pedro e no segundo dia o chamamento de Filipe e Natanael. As bodas são assim precedidas do chamamento, da vocação dos primeiros discípulos de Jesus, discípulos que trazem outros consigo. André traz Simão Pedro e Filipe traz Natanael. As bodas do terceiro dia são por isso, e também, uma imagem das bodas escatológicas, as bodas que esperam não só aqueles que seguem Jesus porque o encontraram nos seus caminhos mas que também o deram a conhecer a outros. As bodas são também nossas nessa medida do nosso encontro e do nosso anúncio e partilha.
Continuando neste tentear da leitura não podemos esquecer as personagens centrais do relato e de modo muito particular a figura da mãe de Jesus, mãe que no Evangelho de João nunca aparece mencionada pelo seu nome próprio de Maria e é também e sempre tratada por Jesus de “mulher”. Aqui, nas bodas de Caná, e mais tarde junto à cruz, momentos nos quais aparece em todo o Evangelho.
Face a esta circunstância a expressão “mulher” usada por Jesus está carregada de significado, porque de facto aquela que está ali não é já a sua mãe, aquela que lhe pode pedir alguma coisa como filho, mas é a discípula que pode pedir na media em que lhe é fiel. Terminada a boda o evangelista faz questão de mencionar que Maria segue com os discípulos e Jesus, significando dessa forma que Maria, a mulher, se transformou naquele acontecimento, adquiriu outro estatuto, no pedido feito, na resposta obtida e no conselho dado aos servidores.
Esta mulher que apresenta a Jesus a situação desastrosa da falta de vinho para as bodas é também a figuração de toda a humanidade que espera as bodas do Messias, as bodas de salvação. Na falta do vinho está simbolizada a situação decadente e pecadora da humanidade, uma humanidade que necessita ser resgatada dessa mesma circunstância mas que não tem condições para isso, está condicionada pela sua própria situação de festa pessoal e privada de vinho bom.
Mais tarde, já junto à cruz, quando aceita o filho que lhe é entregue em João, esta mulher é a nova Eva, a mãe de uma nova humanidade que se prefigura no discípulo amado. Em Caná da Galileia é como se a maternidade de Maria tivesse que perder sentido, como se tivesse que passar por uma aniquilação, porque só assim, só dessa forma a maternidade junto à cruz poderia acontecer. A mulher que está nas bodas de Caná somos assim todos nós, cada um de nós, que é convidado a deixar de lado os laços familiares, as teias relacionais fundadas sobre a carne, o sangue e o poder patriarcal, para se entregar e viver outro tipo de laços e relações, fundados sobre a fraternidade, uma fraternidade solidária fundada num amor que nos ultrapassa e congrega.
Um último aspecto que queremos apontar neste breve tentear de sentido para o texto é a discrição com que o milagre é realizado, milagre que apenas os serventes testemunham. Os convidados, os noivos, toda a família não se apercebem de nada, tudo é feito com a maior discrição e tranquilidade, sem qualquer alarido, mostrando que o primeiro sinal de Jesus, a sua manifestação não acontece de forma estrondosa mas muito simples e silenciosa. É um prenúncio de toda a sua vida, da sua história e actuação, que vão ser sempre discretas e sem qualquer tipo de imposição ou violência. Jesus oferece-se sugere-se e deixa a cada um a liberdade de o aceitar, de o provar e de ver como é bom.
Para nós é um desafio e um incentivo porque na nossa presença cristã no mundo estamos também convidados a ser sugestivos, a oferecer a presença de Deus através dos nossos valores e virtudes sem qualquer tipo de imposição ou violência. Devemos dar a provar o vinho novo que é o próprio Cristo e a forma nova que nos trouxe de viver, deixando a cada um a liberdade e a responsabilidade de o aceitar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Homilia Solenidade do Baptismo do Senhor Jesus

Celebramos neste domingo a solenidade do baptismo de Jesus e com ela damos por encerrado o ciclo do Natal, esse tempo em que vivemos de um modo mais profundo e concentrado a manifestação do mistério da encarnação do Filho de Deus.
Neste ciclo, e ainda que depois encontremos outros acontecimentos ao longo do ano, encontramos um conjunto de episódios que manifestam essa presença de Deus entre nós na nossa forma humana. Podemos dizer que este ciclo do Natal é o ciclo da epifanias, das diversas manifestações da revelação, transmitindo cada uma delas uma faceta que é importante não esquecer.
Na noite de Natal e com o anúncio dos anjos aos pastores que guardam os seus rebanhos na noite fria revela-se e manifesta-se a presença do Messias, do Salvador esperado e anunciado pelos profetas. Estamos perante uma epifania dirigida ao povo escolhido, ao povo de Israel simbolizado nesses pobres pastores que acorrem para ver a verdade do anunciado. Podemos ver também a epifania da dimensão profética de Jesus, uma dimensão que se transmite através dos vários elementos simbólicos que compõem o nascimento e a adoração e que ao longo do profetismo bíblico são uma constante.
Com a visita dos reis magos vindos do Oriente assistimos à epifania do menino que é rei, esse rei não já dirigido apenas e exclusivamente ao povo de Israel mas oferecido e manifestado a todos os povos da terra. A manifestação da presença de Deus entre nós alarga assim o seu horizonte existencial. Neste acontecimento vemos também a dimensão real de Jesus, desse menino que é rei não de um reino terrestre mas de um reino celeste e eterno, que inevitavelmente entrará em confronto com os outros reinos condenados à extinção e esgotamento pela limitação do poder.
No baptismo de João no rio Jordão, que testemunhámos hoje com a leitura do Evangelho de São Lucas manifesta-se e revela-se uma outra faceta do mistério da encarnação, a da filiação divina de Jesus, pois Jesus é o filho muito amado do Pai. Estamos assim perante uma epifania que se dirige a todos, povo escolhido e povo não escolhido, e de uma forma muito marcante a cada um de nós em particular e individualmente, porque o que se revela hoje com o baptismo não é uma realidade social ou eclesial, mas é uma realidade pessoal, relacional, interna à nossa própria condição. Com o baptismo de Jesus não se nos revela um Messias, um profeta, um rei, mas um irmão, uma filiação assumida e que a todos integra nessa unicidade de filho muito amado.
Neste episódio do baptismo e pela unção do Espírito Santo que desce simbolicamente sob a forma de pomba podemos ver ainda a manifestação da dimensão sacerdotal de Jesus, uma manifestação que não se faz clara mas que está subjacente, pois como os sacerdotes do templo também Jesus foi ungido e se não lhe escorre pela barba o óleo da unção sobre ele aparece a manifestação do Espírito Santo que é quem verdadeiramente unge.
Esta dimensão sacerdotal, que adquirimos pelo baptismo todos os que somos baptizados em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo, é à luz do relato que escutámos do baptismo de Jesus uma realidade que não podemos deixar de salientar. E esta chamada de atenção não é para reivindicar poderes ou funções que correspondem ao sacerdócio ministerial, a uma função específica e instituída na Igreja, mas para a realidade e potencialidades profundas que são inerentes a essa dimensão sacerdotal comum.
O relato do Evangelho de São Lucas que escutámos salienta que é após o baptismo de água, quando Jesus se encontra em oração que os céus se abrem e o Espírito Santo desce sobre ele para revelar que é o Filho muito amado. Desta forma, e tendo em conta o relato, o momento importante para a revelação da filiação divina de Jesus não é o baptismo mas o momento de oração. Não é o acto penitencial a que Jesus se submete que o revela mas é a sua intimidade e relação com Deus, com o Pai a quem se dirige na oração depois do acto penitencial.
Para nós baptizados esta uma grande oportunidade de aprendermos o modo de manifestarmos a nossa condição e natureza sacerdotal adquirida pelo baptismo, porque se pelo baptismo somos adoptados como filhos a filiação só se revela com a relação pessoal que se desenvolve a partir daí. À semelhança de Jesus que depois do baptismo orou ao Pai, e por isso recebeu a unção do Espírito Santo, também nós somos convidados à sua semelhança a orar e a exercer a pressão para que os céus se abram sobre nós e sejamos ungidos pela força do Espírito Santo. E podemos fazê-lo por nós, pelos outros e para os outros, actualizando e exercitando desta forma o sacerdócio que nos é comum a todos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Homilia Solenidade da Epifania do Senhor

Celebramos neste domingo, o primeiro do ano novo, a solenidade da Epifania do Senhor, a festa da sua manifestação aos homens. E para melhor compreendermos este mistério e o vivermos espiritualmente, a Liturgia da Palavra através do Evangelho de São Mateus apresenta-nos a visita dos reis magos a Jerusalém e a posterior adoração do menino em Belém.
A vinda destes reis do Oriente, a par da adoração em primeiro lugar dos pastores, dá à natureza extraordinária dos acontecimentos uma outra dimensão ainda mais extraordinária e inusitada. Os primeiros adoradores faziam parte do grupo dos marginalizados do povo, dos excluídos, e agora a eles juntam-se uns reis que nem sequer fazem parte do povo, uns estrangeiros excluídos pela mesma aliança de Deus com o povo escolhido.
Com estes grupos de adoradores, a manifestação de Deus encarnado revela-se como não dirigida a um grupo especial, a um grupo predilecto, mas bem pelo contrário a todos os homens e mulheres, aos que faziam parte do povo da promessa e aos outros, aos que se consideravam incluídos e aos que eram considerados excluídos. São Paulo na Carta ao Efésios sublinha e confirma esta mesma realidade ao dizer que os gentios recebem a mesma herança que os judeus e portanto pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa.
Contudo, e para que a manifestação de Deus aconteça hoje para nós temos que tomar algumas atitudes na nossa vida, temos que nos colocar em processo de acolhimento e abertura, temos que seguir o exemplo dos reis, que caminham desde o Oriente, e abandonar as atitudes dos escribas e de Herodes que se encontram em Jerusalém.
Ao ver a estrela despontar na noite escura das suas buscas os reis do Oriente puseram-se a caminho, iniciaram um processo de caminhada, orientado pela estrela, mas cujo final desconheciam. Também nós, na nossa busca de sentido para a vida e para muitos dos acontecimentos que se nos fazem incompreensíveis, caminhamos na noite escura. Muitas vezes pouco mais vemos que um palmo diante dos olhos e ainda quando a estrela procura brilhar custa-nos levantar a cabeça para o alto e ver o seu brilho e o caminho novo que nos indica. Na nossa busca olhamos muitas vezes, demasiadas vezes, para os nossos pés chagados e doridos, e esquecemos que sobre nós paira não só um céu de estrelas, mas a verdadeira estrela que nos pode iluminar e orientar na caminhada.
Como os reis do Oriente necessitamos lançar-nos na noite escura sem medo e com os olhos bem elevados para o céu, para essa estrela que é o Espírito Santo e nos conduz e pode conduzir até ao encontro com o Deus menino feito carne da nossa carne.
Nesta busca temos que passar inevitavelmente por Jerusalém, que no relato evangélico desconhece a estrela e o nascimento de que ela é sinal e presença. Mas tal acontece porque aqueles que se consideravam guardiães da lei e da revelação estavam ensimesmados em si próprios, nas suas tradições, no convencimento e arrogância da sua autoridade enquistada. Por aquilo que sabiam da lei e dos profetas consideravam-se senhores e detentores da revelação, senhores de Deus, esquecendo-se que Deus era imprevisível e indomável, incapaz de se condicionar aos nossos esquemas pequeninos e humanos.
Os escribas de Jerusalém estavam tão convencidos da sua verdade, do conhecimento que tinham, que não estavam abertos nem disponíveis para a criatividade e surpresa de Deus. E apesar da profecia de Isaías e de verem o seu cumprimento, nesses reis orientais que chegavam em busca do Messias prometido, não foram capazes de ver a luz que nascia para eles nem de fazer a festa a que Deus os convidava nessa mesma profecia. Pela sua própria cegueira se impossibilitaram de ver a beleza que despontava na aurora da nova humanidade.
Na nossa busca de Deus, nesse nosso caminhar na noite escura podemos também cometer o erro dos escribas e habitantes de Jerusalém, podemos encerrar-nos nos nossos conhecimentos e convencimentos e não abrir os olhos para uma nova luz que desponta na aurora. Podemos cometer ainda um erro mais grave, que é o de nos encontrarmos com os escribas convencidos da sua verdade, e de a partir desse encontro nos recusarmos a buscar mais na noite escura a luz que será a nossa salvação. Quantos encontros com os escribas, ou não, da nossa Igreja nos têm retirado o alento para continuar a busca, nos têm decepcionado e feito mergulhar na noite ainda mais escura do descrédito e da descrença.
Se tal aconteceu, se tal acontece, ou pode acontecer, os reis do Oriente deixam-nos um exemplo a seguir. Em Jerusalém encontraram a resposta exacta para o lugar do nascimento do menino, mas ainda assim foi a estrela que voltaram a seguir quando abandonaram a cidade. Tinha sido importante para eles a palavra e o conhecimento dos escribas, mas a estrela era o seu guia e era a ela que seguiam e continuaram a seguir. Também para nós a estrela deve ser o nosso guia e mesmo nos momentos de passagem por Jerusalém e de desencontro com os escribas da lei não devemos nunca deixar de olhar a estrela e seguir as suas indicações.
Se o fizermos, mais tarde ou mais cedo encontrar-nos-emos com o menino e sua mãe santíssima e poderemos oferecer-lhe os nossos presentes, que não serão mais que os frutos da nossa caminhada na noite silenciosa e escura, o ouro do nosso trabalho feito com justiça e verdade, o incenso das nossas preces feitas com fé e esperança, a mirra da nossa solidariedade e fraternidade vividas na caridade.
E depois do encontro e das ofertas, da adoração pela felicidade alcançada, partiremos inevitavelmente para regressar por outro caminho. Continuará certamente ainda a ser um caminho feito na noite, mas um caminho que é iluminado não só pela estrela que nos guiou, que brilhará com mais intensidade transfigurando a noite, mas também pela luz da presença memorável do Menino Deus no nosso coração.
Importa assim metermos os pés ao caminho e fixar os olhos na estrela que nos pode guiar. Façamo-lo com a confiança de que ainda que atravessemos vales tenebrosos o Senhor é nosso guia e companheiro.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Homilia Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus

Iniciamos o ano civil com a celebração da solenidade de Santa Maria Mãe de Deus. Para nós hoje, e depois de tantos séculos de história, esta pode ser uma invocação mariana e uma verdade de fé sem qualquer problema, inquestionável, mas na história da Igreja nem sempre foi assim, foi necessário que a Igreja se reunisse em Concílio em Éfeso, no ano de 431, para que se chegasse a este consenso e dogma de fé de Maria ser a Mãe de Deus.
A problemática que está subjacente a este consenso, e às polémicas a que ele procura dar resposta, está patente, de alguma forma, na leitura que escutámos do Evangelho de São Lucas. O encontro dos pastores com o menino deitado na manjedoura, com Maria e José, transporta consigo e encerra em si a grande questão da divindade, porque o que os pastores encontraram naquela gruta foi apenas mais um menino, um menino recém-nascido como tantos outros e uma mãe como tantas outras mães.
No encontro dos pastores com o menino estamos perante o encontro da humanidade com a humanidade de Deus, com o mistério da encarnação, mistério que se torna apenas compreensível se tivermos presentes as palavras que antes tinham sido proclamadas pelos anjos. Foram os anjos que no seu anúncio, de que naquela noite nascia o Salvador e era aquele menino, que deram a chave da interpretação do que humanamente era possível contemplar. A Palavra que desde toda a eternidade habitava em Deus tinha-se feito palavra encarnada, mas só era perceptível e compreensível se iluminada ou descodificada por uma outra palavra, a palavra do anúncio, que neste caso tinha sido feito pelos anjos.
Para nós crentes do século vinte e um e ao iniciarmos um novo ano esta realidade torna-se por demais significativa e interpelante, uma vez que à luz deste encontro e episódio só podemos pensar o encontro com Deus, na sua divindade e humanidade, com base na palavra. É a palavra escutada, é a palavra proclamada, é a palavra feita vida que pode mostrar presente entre nós a presença de Deus e construir o seu reino. Como cristãos não nos podemos calar, não nos podemos remeter ao silêncio, bem pelo contrário somos interpelados por Deus a proferir a palavra, a sua e a nossa, a sua da revelação e a nossa da fé.
Os mesmos pastores que visitaram o menino e o encontraram deitado numa manjedoura nos deixam o exemplo, porque quando chegaram junto da família de Nazaré contaram tudo o que lhes tinha sido anunciado e depois partiram contando o que tinham visto e louvando a Deus. Depois da experiência do encontro foram inconscientemente os primeiros apóstolos, pois acreditaram na palavra que lhes tinha sido anunciada pelos anjos, acreditaram que o que humanamente viam era o cumprimento do anunciado e depois louvaram a Deus por isso e partiram anunciando-o a outros. O grupo dos apóstolos que mais tarde Jesus escolherá fará a mesma experiência e seguirá os mesmos passos e nós somos convidados a seguir o seu exemplo.
Contudo, para que a nossa palavra e o nosso anúncio tenha um sentido, esteja pleno de sentido e verdade, temos que assumir a atitude de Maria que também neste encontro nos é apresentada. São Lucas diz-nos que Maria conservava todos os acontecimentos e os meditava em seu coração, e nós, para que a nossa palavra tenha sentido, não podemos deixar de fazer o mesmo, não podemos deixar de olhar para a nossa vida e os seus acontecimentos e meditar no coração o que Deus nos revela através deles e à luz da sua Palavra.
É urgente que o façamos, não só para tomarmos consciência do volume de graças e bens com que Deus nos vai cumulando ao longo dos dias e dos anos, mas também para tomarmos consciência de como Deus nos chama a servi-lo, a amá-lo, a anunciá-lo naquilo que somos e vivemos. Muitas vezes sofremos da grande tentação de querermos servir a Deus, de o amar e o anunciar quando formos bons, irrepreensíveis, super-homens ou super cristãos. Nesta tentação limitamos a acção de Deus, a forma como ele tem agido ao longo da história da salvação e esquecemos de maneira desastrosa que Deus tem escolhido o fraco e o muitas vezes inaceitável para realizar a sua obra de salvação.
Os pastores eram simples homens, rudes, quase excluídos da sociedade do seu tempo pela tarefa que exerciam de guardar os rebanhos. No entanto foi a eles que os anjos se dirigiram e antes de mais o menino se revelou como presença de Deus entre nós. Hoje é a nós, nas nossas circunstâncias humanas e sociais que Deus se dirige como revelação e desejo de presença viva. Permitamos que se nos revele.