domingo, 31 de agosto de 2014

Homilia do XXII Domingo do Tempo Comum

Terminado o Evangelho desta celebração dominical é inquestionável que a ideia que nos fica desta leitura do Evangelho de São Mateus é o convite a seguirmos Jesus carregando a nossa própria cruz. Ideia que inevitavelmente é concebida em tons carregados, dolorosos, porque no nosso horizonte não deixa de estar presente a cruz de Jesus e o sofrimento e injustiça ali expostos.
Contudo, não podemos reduzir esta passagem do Evangelho a essa dimensão dolorosa e sofredora, ainda que ela esteja patente e não possa ser escamoteada. Há algo mais que não podemos perder de vista e que só alcançamos na medida em que compreendemos e lemos este texto em profunda conexão com o texto que meditámos no domingo passado.
Aliás, não podemos deixar de ter presente que na composição redaccional seguem um após outro, e que a figura que estabelece a ligação entre os dois momentos é o apóstolo Pedro, nas suas diversas intervenções junto de Jesus.
Assim, quando no domingo passado escutávamos Jesus dizer a Pedro que não tinham sido a carne e o sangue a revelar-lhe a verdade da identidade do Messias que é o Filho do Deus vivo, hoje percebemos o sentido dessas palavras, porque afinal na carne e no sangue Pedro aspirava a um outro futuro, a uma identidade da qual não faziam parte a morte ou a cruz.
A carne e o sangue de Pedro revelam hoje a sua verdade quando tentam dissuadir Jesus de caminhar para Jerusalém e aceitar a morte que já se perspectivava e da qual Jesus tem plena consciência devido à sua linha de pensamento e acção em pleno confronto com o instituído religiosamente. 
Contudo, as aspirações da carne e do sangue de Pedro vivem paredes meias com as aspirações do espirito, com a abertura à novidade do dom de Deus, que lhe permitiu dizer que Jesus era o Filho de Deus vivo. Tal como aconteceu com o profeta Jeremias podemos dizer que Pedro se deixou seduzir pelo Senhor, que no seu coração ardia um fogo que o dispunha à novidade, um fogo que ele procurava conter na adaptação às suas aspirações, mas que irremediavelmente escapava ao seu controlo humano.
Desta forma, o convite de Jesus a renunciar a si mesmo, a tomar a cruz pessoal e a segui-lo não é mais que o convite a acolher esta luta interior, esta batalha entre as aspirações da carne e as aspirações do espirito e a tentar superá-la. A cruz pessoal é este combate entre as satisfações imediatas, as aspirações mais mundanas de poder e glória, e a felicidade que nos ultrapassa enquanto satisfação devida à obediência à vontade de Deus.
A cruz que Jesus nos convida a assumir e a carregar é a cruz da insatisfação, do inconformismo face a este mundo e às suas ofertas, a cruz da renovação espiritual para discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito, como nos diz São Paulo na Carta aos Romanos. É no acolhimento desta vontade, no discernimento do que é bom, agradável e perfeito que experimentamos a cruz, que carregamos a cruz, mas é igualmente neste acolhimento e neste discernimento que somos capacitados para poder dizer que Jesus é o Messias o Filho de Deus vivo.
Um combate semelhante ao de Jacob com o anjo durante a noite, um combate que pode provocar a zombaria e os insultos dos outros, que nos pode levar à tentação do mutismo diante dos outros e face a Deus, mas o único combate que nos permite pedir ao Senhor que nos dê a sua bênção, conhecê-lo no íntimo, de modo a dizer quem verdadeiramente é aquele que seguimos e no qual acreditamos.  
Neste sentido, e ao terminar esta celebração, temos que assumir que a cruz que o Senhor nos convida a levar é a cruz do encontro, a cruz da nossa abertura à novidade daquele que vem e que nos questiona sobre as nossas aspirações mais profundas, que nos questiona sobre o que verdadeiramente é importante e significativo para perder a vida. Afinal, por quê ou por quem estamos nós dispostos a perder a vida?

 
Ilustração:
“Quo vadis?”, de Andrey Mironov, 2006.

A fé não existe fora da vida

 
Era isto, talvez, o mais notável: a fé não existia fora da vida deles, mas transformou-se na sua vida longa e difícil, fundiu-se, entrelaçou-se com o borch que coziam, com a roupa que lavavam, com as braçadas de lenha que traziam da floresta!
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 135.

Ilustração: Rosa amarela da casa dos meus pais.

sábado, 30 de agosto de 2014

A lei principal da vida

 
Não tentou convencer-me, mas falou com amargura que as pessoas não queriam seguir a lei principal da vida: desejar aos outros, todos sem excepção, o que desejamos a nós próprios. Se não desejamos mal a nós próprios e não nos fazemos mal, não devemos desejar nem fazer mal aos outros.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 134.

Ilustração: Orquídeas da casa dos meus pais.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dá-me a cabeça de João Baptista! (Mc 6,25)

Neste final de Agosto de dois mil e catorze o relato evangélico da morte de João Baptista traz-nos inevitavelmente à memória a recente execução do jornalista americano James Foley. Um e outro, em circunstâncias diversas, mas intrinsecamente semelhantes, foram decapitados, executados de uma forma bárbara por homens que não tinham a cabeça no lugar, poderíamos dizer acéfalos.
João Baptista e James Foley foram vítimas do ódio, de um desejo sórdido de eliminar aqueles que expõem a verdade, que apontam o que está errado. João apontava a imoralidade da relação de Herodes com a mulher de seu irmão, James apontava as atrocidades e violência exercida sobre os civis inocentes. Um e outro pagaram pela sua fidelidade à verdade, pela sua coerência face à dignidade das vítimas, pelo seu não compromisso com aquilo que é a utilização do outro.
Os seus algozes, ao cometerem tal atrocidade, mostraram que não eram nem são senhores das suas cabeças, que se deixam influenciar por promessas irresponsáveis e alucinadas. Os algozes de João Baptista e de James Foley mostram-nos que se deixaram vencer e vivem na servidão mais desumana e aviltante que é a da imagem perante os outros. Sem autoridade moral não são capazes de dizer não e servem-se da força para não serem desmascarados diante dos outros.
João Baptista e James Foley assemelham-se na barbárie de que são vítimas, no martírio que sofrem, mas igualmente no fundamento que estrutura as suas atitudes e denúncias. Um e outro alicerçam as suas vidas na verdade, radicam os seus gestos e palavras naquele que é a Verdade e a Vida, Jesus Cristo.
João Baptista e James Foley acreditaram em Jesus, e se o primeiro lhe mandou perguntar se era verdadeiramente o Messias e face à resposta continuou desde a prisão a sua missão de percursor, o segundo pela fé em Jesus morto e ressuscitado expressa na oração diária foi incapaz de abandonar as zonas de conflito e virar as costas à missão de denunciar a violência e as atrocidades da guerra.
João Baptista e James Foley desafiam-nos assim na fidelidade do nosso compromisso pela verdade e pela vida, e questionam-nos diante dos respeitos humanos e das imagens que construímos, das quais somos escravos e nos conduzem muitas vezes à injustiça. Neste sentido importa perguntar: é melhor perder a cabeça ou não ter cabeça?

 
Ilustração: James Foley no exercício da sua missão jornalística na Síria.

Nota: Escolhi esta fotografia pelo pormenor que me chamou a atenção e testemunha a fé de James Foley. Ele tem uma pulseira de nós pela qual se pode rezar o Terço.
Que junto de Deus interceda por nós e pela paz tão necessária no mundo!

A vitória é a tolerência

 
Parece-me que o Deus bondoso dos cristãos celebra a sua vitória tanto na bondade dos pagãos como no impulso misericordioso do ateu e na tolerância de um crente em relação às outras religiões. Nisso está a sua força.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 123.

Ilustração: Alameda do jardim de Serralves no outono de 2013.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Feliz o servo fiel e prudente! (Mt 24,46)

Jesus, ao dizer aos seus discípulos que serão felizes aqueles que forem encontrados a proceder como servos fiéis e prudentes, colocados à frente da casa para dar o alimento no tempo oportuno ao seu senhor, apresenta-nos uma outra e nova bem-aventurança.
Uma bem-aventurança que obrigatoriamente nos devia sustentar face ao nosso trabalho, aos nossos cuidados quotidianos. O Senhor confiou-nos na criação o trabalho como forma de colaboração na sua obra e devíamos estar radiantes de satisfação por podermos colaborar e contribuir para a obra do nosso criador.
Satisfação que deve redobrar na medida em que percebemos que esta bem-aventurança encerra em si uma carga profunda de esperança, porque não só nos fala do mistério que une Deus ao homem, mas também da fidelidade daquele que vem ao nosso encontro, do Senhor que vem e espera ser servido.
Esta bem-aventurança revela-nos um Deus que não vem ao nosso encontro para nos espoliar dos nossos bens, da nossa alegria e satisfação do alcançado e construído, mas para nos dar o verdadeiro bem, que é Ele próprio.
Esta bem-aventurança não nos revela um deus ladrão e ciumento, nem nos carrega de culpabilização pelo que fazemos e tantas vezes temos que fazer deixando outras coisas para trás, tantas vezes até o próprio Deus em que acreditamos.
Esta bem-aventurança revela-nos que somos chamados à fidelidade, ao cuidado, à vigilância, a perceber que tudo o que fazemos deve estar orientado e iluminado para uma plenitude que não está na nossa mão mas que nos é oferecida e vamos lançando progressivamente enquanto a temos presente naquilo que fazemos e construímos.
Que o Senhor nos encontre felizes naquilo que fazemos neste dia!

 
Ilustração: “Jesus na marcenaria de São José”, de Matteo Pagano, Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

O verdadeiro bem

 
O verdadeiro bem é alheio à forma e ao formalismo, é-lhe indiferente a materialização através do rito e da imagem; ele não procura a sua confirmação num dogma; ele vive onde há um bondoso coração humano.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 123.

Ilustração: Flores do jardim da casa dos meus pais.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O sentimento nos revela a fé

 
Não vi crentes, nem na aldeia nem na cidade, vi pessoas que cumpriam o rito. Não é por ver e ouvir, mas através do sentimento que descobrimos se as pessoas têm fé.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 121.

Ilustração: Rosa dos jardins de Ávila.  

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Uma prova da existência de Deus?

 
Eu, descrente, olhando para esta igreja, penso: “Talvez Deus exista – se a sua casa fosse desabitada, como poderia ficar em pé mil e quinhentos anos?”
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 121.
 
Ilustração: Varanda das torres da Catedral de São Pedro em Genebra.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A perfeição é democrática

 
A perfeição é sempre singela, natural – a perfeição é a mais profunda compreensão do essencial e a mais plena expressão deste, a perfeição é o mais curto caminho até à meta, a mais simples demonstração, a mais clara expressão. A perfeição tem sempre carácter democrático, é acessível a todos.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 120.

Ilustração: Rosas diante da porta de uma capela numa quinta na zona de Resende.

domingo, 24 de agosto de 2014

Homilia do XXI Domingo do Tempo Comum

As férias que estamos a viver ou que vivemos neste mês de Agosto para muitos de nós significam uma mudança de lugar, uma mudança de ares, e por isso vamos uns dias até à praia ou até ao campo. Necessitamos mudar de registo, de rotina, de ambiente, para regressar como novos aos ritmos e rotinas que constituem o nosso quotidiano.
A leitura do Evangelho que escutámos parte também desta mesma realidade, Jesus e os discípulos saíram dos seus lugares habituais e foram para os lados de Cesareia de Filipe. Poderíamos dizer que foram de férias.
Contudo, estas férias, esta mudança de lugar e ares, possibilitaram a Jesus e aos discípulos uma experiência profundamente nova, verdadeiramente radical, o confronto com uma questão que nos devia alcançar também nas nossas férias e no nosso tempo merecido de descanso, quem dizemos nós que é Jesus?
E neste sentido voltamos à precisão geográfica que tanto os evangelistas Marcos como Mateus fazem questão de apontar, indicando-nos que a pergunta que Jesus coloca em Cesareia de Filipe tem algo mais a dizer, exige uma reflexão para uma resposta minimamente correcta.
Cesareia de Filipe era uma cidade construída pelo tetrarca Herodes Filipe com o objectivo de homenagear e honrar o imperador de Roma Cesar Augusto. Era um tributo ao poder, à glória do império, era uma imagem bem presente do poder e da grandeza deste mundo.
Ao questionar os discípulos sobre a sua identidade, Jesus está a colocar esta realidade mundana, imperial, em confronto com a sua actividade, com os gestos e palavras que os discípulos conheciam, assim como com as expectativas de poder e glória que cada um transportava no seu coração e que no momento oportuno se irão manifestar. O seguimento exigia uma opção e ela tinha que ser também iluminada pela realidade das circunstâncias para poder ser verdadeira.
Ao retirar-nos para o campo ou para a praia, ao desfrutar do silêncio, do sossego, dos amigos e da alegria da sua companhia, da beleza da natureza e da criação de Deus, não deveriam estas realidades iluminar a nossa fé, não deveriam ajudar-nos a dizer de melhor forma quem é Jesus e qual é o projecto de Deus para cada um de nós e para a humanidade?
Ao regressarmos ao ritmo alucinante do trabalho e da nossa vida urbana, as férias deveriam ter-nos ajudado a encontrar o sentido para vivermos de forma diferente o nosso quotidiano, um quotidiano no qual a beleza, a paz, a harmonia, e a fraternidade deveriam estar presentes.
Os lugares paradisíacos das nossas férias manifestam-nos que somos mais que máquinas de produção e consumo, que somos uma magnífica obra de Deus e portanto é nossa obrigação viver plenamente essa magnificência, reconstruir o paraíso nos nossos lugares quotidianos.
Este lugar estrangeiro, inusitado ao quotidiano, foi o lugar para Jesus colocar uma questão fundamental, uma questão que pode à primeira vista parecer uma sondagem, mas cujas respostas evidenciam bastante bem a diferença e o objectivo de Jesus ao passar para Cesareia de Filipe.
As respostas dadas pelos discípulos, nomeadamente no que diz respeito ao que os outros diziam de Jesus, põem de manifesto uma tremenda falta de conhecimento e reconhecimento, uma manobra subversiva que visa passar ao lado daquele que se mostra diferente.
Ao dizerem que Jesus era algum dos profetas, ou Jeremias ou Elias, ou até João Baptista, uma figura do passado, os discípulos e todos aqueles dos quais eles se faziam eco manifestam um bloqueio, um passar ao lado da novidade que Jesus representa e que exige conversão, uma mudança e um acolhimento.
E neste sentido, também nós podemos formular uma resposta que fica no passado, que não nos toca nem compromete, pois podemos dizer que Jesus é um profeta, um revolucionário, uma figura muito importante, mas que permanece no passado da história e no arquivo dos nossos conhecimentos culturais.  
A resposta que nos é solicitada com discípulos é a resposta de Pedro, uma resposta muitas vezes incompreensível, inabarcável na sua profundidade, mas que nos abre ao acolhimento, uma resposta que manifesta a nossa disponibilidade para fazer o percurso dum conhecimento mais profundo e íntimo.
Pedro só encontrará o sentido cabal da sua resposta, “tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”, na manhã de Páscoa, ou nas muitas manhãs que se sucederão à manhã de Páscoa. A resposta de Pedro não é a resposta do catecismo judaico, da doutrina oficial, não é uma fórmula aprendida, mas a insinuação de um desejo de conhecimento e experiência que será satisfeito dia após dia, intimidade após intimidade, experiência após experiência com Jesus.
A resposta de Pedro, não dada pela carne mas pelo espirito, é por isso um novo nascimento, o nascimento de que Jesus fala a Nicodemos no Evangelho de São João, e que se repercute na mudança de nome. Simão passa a Pedro, um homem novo que se apelida como pedra na medida em que se liga à verdadeira pedra, à pedra angular sobre a qual assenta todo o edifício e sobre a qual ele assenta a sua vida.
As nossas férias, com o que comportam de extraordinário, de contraste, deveriam por isso despertar-nos para uma resposta à questão de Jesus, uma resposta que é apenas um princípio, um esboço a aperfeiçoar constantemente até à plenitude.
O nosso dizer de Jesus será assim sempre mais puro e verdadeiro, mais correcto, na medida em que representar a manifestação de um desejo, a disponibilidade para um caminho a percorrer, a audácia para a aventura num desconhecido. As respostas completas, conseguidas, doutrinais, evidenciam apenas que já não estamos abertos nem disponíveis para a novidade, que Jesus ou já está no passado ou está a passar-nos ao lado.
Como nos diz São Paulo a sabedoria de Deus é profunda, insondável e por isso Santa Catarina de Sena quanto mais mergulhava nela mais desejo sentia de mergulhar. Também nós necessitamos desejar e mergulhar nessa profundidade abismal para sermos gerados para a vida eterna.

 
Ilustração:
1 – “Jesus e o jovem rico”, de Andrey Mironov.
2 – “Conhecimento e fé”, de Andrey Mironov.

A ansiedade humana é terrível

 
A ansiedade da alma humana é terrível, inapagável, não é possível mitigá-la nem fugir dela; os serenos ocasos rurais e o marulhar do mar eterno e a querida cidade de Dilijan são impotentes perante ela.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 111.

Ilustração: Claustro da catedral de Lamego.

sábado, 23 de agosto de 2014

O abismo face à verdade

 
Acho que é precisamente nos anacoretas do século XX que se manifesta com uma nitidez especial, quase perfeita, tanto a sublimidade como a impotência que os leigos sempre notaram nos homens em retiro no deserto. Os anacoretas das casas comunais nunca esquecem o abismo que se abre entre o destino do eremita em prol da verdade secreta e o destino do pregador e profeta dessa verdade. Provavelmente, o anacoreta moderno nunca pensa sequer superar este abismo, nem, pelo menos, aproximar-se da sua beira. No mundo há muitos anacoretas, mas os pregadores e os profetas são raros, muito raros.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 109.

Ilustração: Carvalhos centenários em Rua de Francos, Caminho Português de Santiago.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Os modernos anacoretas

 
Os anacoretas do século XX não vivem em celas e cavernas, nem em ermidas florestais ou nos desertos. É por isso que no mundo civilizado parece não haver eremitas. Mas não é verdade. Há muitos. Mais que nos tempos dos mártires cristãos. As suas celas são camufladas, situam-se nas cidades do mundo moderno, nas casas comunais. Os eremitas andam pelas ruas de Moscovo e Kiev, trabalham nas fábricas, servem nos ministérios, labutam como trolhas. Andam de casacos, de sobretudos, usam chapéus de caraculo.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 109.

Ilustração: Cruzeiro de um milheiro em Rua de Francos, Caminho Português de Santiago.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O que nos fica do rosto

 
Nem todo o rosto humano fica na nossa memória, mas apenas alguns traços que exprimem com maior plenitude o carácter e a alma: sejam rugas severas, sejam olhos mansos, ou talvez lábios grossos, babosos.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 99.

Ilustração: Fonte no pátio do abade em Saint Gallen.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

As autênticas ligações dos homens

 
As autênticas ligações entre os homens, os povos, as culturas, a verdadeira fraternidade, não nascem nos gabinetes nem nos palacetes dos governadores, mas nas isbás, nas prisões de trânsito, nos campos correccionais, nas casernas dos soldados. Estas ligações são afinal as mais fortes, as mais vivedouras. São elas, as palavras escritas à luz de uma fraca candeia e lidas numa isbá, nas tarimbas prisionais, num cubículo impregnado de fumo de tabaco, que criam laços de unidade, amor e respeito mútuo entre os povos.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 61.

Ilustração: Vista desde o jardim da Câmara de Vernier na Suíça.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Conseguir a autêntica dignidade

 
Só quando o humano é engrandecido constante e imutavelmente, só quando se une o nacional e o humano, é possível conseguir a autêntica dignidade e, por conseguinte, uma liberdade genuína.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 41.

Ilustração: Recanto dos espelhos no jardim de Serralves.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Plano de Reforma Económica dos Dominicanos Portugueses em 1821

As férias são tempo de descanso, mas podem ser também uma oportunidade para nos dedicarmos de uma forma mais aplicada a determinadas actividades que nos dão prazer, como a leitura ou o desporto.
As minhas últimas férias permitiram-me regressar a uma actividade que me dá imenso gozo e que há algum tempo a esta parte não tenho podido realizar, a investigação histórica, o queimar as pestanas atrás de informações que se encontram em documentos guardados em arquivos.
Entre algumas coisas que descobri, partilho hoje uma Carta que o Prior Provincial frei Cristóvão de Santa Catarina de Sena dirigiu a todos os Priores e Superiores dos Conventos Dominicanos em Agosto de 1821.
É uma reforma da administração económica dos conventos, reforma que não deixa de ter em atenção as situações particulares de necessidade, como os doentes, e que não deixa de implicar todos os frades na sua prossecução, pois como diz um adágio antigo, o que é de todos deve ser cuidado por todos.
 
Frei Cristóvão de Santa Catarina de Sena, Mestre em Santa Teologia, e Prior Provincial da Ordem dos Pregadores neste unido de Portugal etc. [sic]
Ao Reverendo Padre Presentado Prior, e Comunidade do nosso Convento de São Domingos do Porto, saúde e paz em Jesus Cristo.
Tendo-se introduzido pela ordem dos tempos, vários e diferentes abusos na administração económica dos nossos Convento, e desejando nós remediar tais abusos, e fazer cessar de uma vez para sempre os males, que deles resultam, e promover quanto em nós é observância das nossas Sagradas Leis, achamos, que é do nosso dever mandar observar, como pela presente mandamos, em todos os Conventos da nossa obediência os Artigos seguintes, que depois de um maduro exame se fizeram e já se acham em plena execução neste Convento de São Domingos de Lisboa.
É proibido debaixo de preceito formal de Santa obediência ao Prelado do Convento, qualquer que seja a sua denominação fazer contractos, receber dinheiros, e passar recibos, sem o concurso e assinatura do Padre Síndico ou Procurador, e a Comunidade poderá rescindir e reputar nulos, e de nenhum efeito tais contractos.
Observar-se-á, debaixo do mesmo preceito religiosamente a nossa Sagrada Constituição pelo que pertence ao Depósito da Comunidade, sendo aplicada ao que infringir a Lei nesta parte, a pena de deposição que a mesma Lei lhe impõe, logo que a Comunidade requeira legalmente, e com provas autênticas do facto ou factos.
Não poderá o Prelado de hoje em diante mandar fazer obra alguma no Convento ou prédios a ele pertencentes, sem que seja aprovada em Concelho de Comunidade, de que se lavrará auto.
Reduzirá o número dos Criados ao menor número possível, e porá os seus salários, e rações em devida proporção com os actuais preços de todos os géneros.
Será o Prelado obrigado impreterivelmente a fazer as Contas às receitas, e despesa todos os meses, cujas verbas nunca poderão ser feitas por ele Prelado, nem pelo Padre Síndico, e ficarão – ipso facto – suspensos os Depositários que as assinarem assim feitas.
Serão todos os Livros de receita e despesa numerados, e rubricados pelos dois Depositários, que mencionam no termo o número das folhas.
O Prelado será obrigado a dar contas todos os semestres do estado do Convento, apresentando à Comunidade um mapa da receita e despesa junto com os livros competentes, que estarão patentes por três dias a todo e qualquer Padre que as queira verificar: estes dias são os primeiros de Abril e Outubro.
Não se tolerarão de hoje em diante mais diferenças na ração diária, sólida, ou líquida, do que aquelas que exigir o particular estado da moléstia de algum religioso, ou aquelas, que são autorizadas pelas nossas Leis.
Haverá nomeado pelo Prelado com a Comunidade um Religioso de caridade para vigiar particularmente sobre o bom tratamento dos Doentes, e o Convento os proverá de todo o preciso para o seu curativo, aprontando-lhe roupas sendo preciso, Médico à sua escolha, remédio, alimentos, e criados, conforme a necessidade do enfermo.
10º
Quando qualquer Religioso precisar de banhos, caldas, Águas férreas, ou outros remédios, que não podem usar-se no Convento, o Prelado com o Concelho da Comunidade, tomando em consideração a informação do Médico, sobre a precisão do remédio, arbitrará ao Religioso uma ajuda de custo para a jornada e casas, e 480 reis diários, durante o uso do dito remédio.
11º
Todos os Padres desse Convento ficarão pela presente constituídos zeladores, e fiscais de execução dos Artigos acima, e obrigados a denunciar-nos toda, e qualquer transgressão a fim de darmos as providências, que o caso pedir, e as nossas Leis determinam.
 
Considerando nós, que estas disposições são inteiramente conformes com as nossas Sagradas Constituições, e com os preceitos da caridade, esperamos que todos os nossos súbditos as abracem e cumpram fielmente, como o único remédio contra os abusos, que se têm introduzido na administração económica; mas para que o Reverendo Padre Presentado Prior tenha maior merecimento lhe mandamos debaixo do preceito formal de Santa obediência, que cumpra, e faça cumprir e guardar fiel e exactamente os artigos acima declarados; mandando ler esta em acto de Comunidade, e copiar no Livro dos Concelhos, debaixo do mesmo preceito mandamos a todos e a cada um dos Religiosos igual observância cumprimento, e fiscalização.
In nomine Patris, et Filli, et Spiritus Sancti. Amen.
 
Dada no nosso Convento de São Domingos de Lisboa sob nosso sinal, selo aos 24 de Agosto de 1821
Frei Cristóvão de Santa Catarina de Sena
Prior Provincial
 
Registado a folhas 95
Frei Ambrósio Metella Villa Lobos
Mestre Secretário e Companheiro  

 

Ilustração: “O manuscrito perdido”, de Jean Henri De Coene

O que se revela de si

 
Tentando provar a inferioridade alheia, o homem revela a sua própria.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 39.

Ilustração: Castanheiro da India nos jardins de Serralves no Outono de 2013.

domingo, 17 de agosto de 2014

Homilia do XX Domingo do Tempo Comum

O Evangelho de São Mateus que escutámos apresenta-nos um acontecimento que de certa maneira nos pode escandalizar e desconcertar, uma vez que nos confrontamos com um Jesus distante, insensível às necessidades da mulher cananeia, o mesmo Jesus que em outras situações sempre esteve atento e foi solícito para com aqueles que lhe pediam ajuda.
Tal insensibilidade e distância têm no entanto sentido se as analisarmos à luz dos acontecimentos que precedem a passagem de Jesus às terras de Tiro e Sidónia e ao grande objectivo pedagógico de Jesus para com os seus discípulos, formados alguns deles na escola do farisaísmo.
Assim sendo, não podemos deixar de ter presente que, antes de se retirar para Tiro e Sidónia, Jesus tem um aceso debate com os fariseus sobre o puro e o impuro, sobre o que torna o homem impuro face à lei e face aos olhos de Deus.
Ao retirar-se para as terras pagãs, terras impuras nas quais se concentravam aqueles que tinham sido expulsos aquando da conquista da terra prometida, Jesus protege-se de certa forma dos fariseus que o poderiam perseguir em virtude das suas palavras, mas coloca-se também em circunstância de provocar os discípulos face às palavras proferidas.
O silêncio de Jesus face ao pedido de socorro daquela mulher cananeia é assim pedagógico, um meio para iluminar os discípulos, porque desde o primeiro momento que aquela mulher se lhe dirige com palavras que não o podiam deixar insensível. Ao gritar por Jesus como Senhor e Filho de David, a mulher cananeia, ainda que estrangeira, manifesta já uma fé que os discípulos ainda não tinham alcançado e os fariseus do debate precedente se recusavam a assumir.
O silêncio de Jesus e a resposta face ao pedido dos discípulos para que atenda a mulher visa apenas colocar esses mesmos discípulos face ao direito que a mulher tem ou não tem de ser atendida. Afinal aquela mulher estrangeira tinha que ser considerada impura, pelo facto de ser estrangeira, ou pelo contrário, pela fé e pela misericórdia que manifestava nas suas palavras tinha o direito de ser considerada pura, ainda que estrangeira e pagã? Voltamos à questão do debate com os fariseus, ou seja, o que torna impuro o homem é o que é exterior ou o que nasce no seu coração?
Como em tantas outras situações os discípulos não perceberam nada, pelo contrário manifestam apenas as suas raízes farisaicas, a sua preocupação face ao que os outros poderiam pensar ao verem o mestre ser importunado e perseguido por uma mulher pagã em altos berros. Estão preocupados com a imagem, com o que os outros podem pensar, mais que com a verdadeira situação da mulher.
Diante deste impasse e da incompreensão dos discípulos, Jesus não pode deixar de atender a mulher, uma vez que ela manifesta nos seus gestos e nas suas palavras mais compaixão e misericórdia que os seus discípulos. Ao dirigir-se a Jesus, que para ela era igualmente um estrangeiro, a mulher rompe as barreiras da crença, dos preceitos religiosos, da fronteira dogmática, para abrir uma oportunidade através da manifestação da sua bondade.
Podemos dizer que, pela sua compaixão para com a filha que sofre, a mulher contagia Jesus, vence aquele que é manifestação de misericórdia pelo seu amor de mãe. O seu sofrimento alcança Jesus que não pode permanecer distante nem insensível, ele que também sofre com a rejeição por parte dos seus.
O encontro de Jesus com a mulher cananeia é assim para cada um de nós, e antes de mais, um desafio na abertura dos nossos preconceitos e exclusões, um desafio na saída das nossas zonas de conforto, para nos encontrarmos com o outro.
O encontro de Jesus com a cananeia é um desafio aos nossos juízos, à forma como tantas vezes valorizamos os outros e nos deixamos encerrar pelos desvios dos outros, pelos seus erros e faltas, por aquilo que podemos designar como os nossos “dogmas”, e que inviabilizam a compreensão do outro e a misericórdia a que o Senhor nos convida.
O encontro de Jesus com a mulher cananeira é igualmente um desafio à nossa constância, à forma como permanecemos fiéis, um desafio à nossa audácia nas súplicas que dirigimos a Deus, as quais não podem distanciar-se da misericórdia e do amor, pois só marcadas por esse timbre estão em consonância com Aquele a quem suplicamos e pedimos ajuda.
Procuremos pois aproveitar todos os obstáculos que se nos apresentam, os silêncios de Deus, para fazer crescer e fortalecer a nossa relação com Ele, para pela compaixão e bondade para com os outros manifestar a sintonia em que nos encontramos com a misericórdia divina que vem em auxílio das nossas fraquezas. Confiança e audácia!

 
Ilustração:
1 – A Cananeia num confessionário da igreja de Saint Gallen na Suíça.
2 – A Cananeia, iluminura das Très Riches Heures du Duc de Berry.

A luta pela dignidade

 
A luta pela dignidade nacional, pela liberdade nacional, é antes de mais a luta pela dignidade e a liberdade humanas; a luta pela verdadeira liberdade nacional pressupõe o combate contra a tipificação obrigatória, contra a deificação do carácter nacional.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 38.

Ilustração: Escadaria junto ao Museu de Serralves.

sábado, 16 de agosto de 2014

O verdadeiro milagre

 
Numas festas do Senhor dos Milagres chegou ao santuário um homem muito apressado que perguntou: “É aqui onde fazem milagres?”
A pessoa que o recebeu disse-lhe: “Depende do que o senhor entende por milagre.”
E o homem respondeu: “Pois um milagre é quando Deus faz o que se lhe pede.”
A outra pessoa respondeu-lhe: “Creio que se equivocou de lugar. Aqui entendemos por milagre quando fazemos o que Deus nos pede!”
Luís Augusto Castro Quiroga, Arcebispo de Tunja, VN 2.903,6.

Ilustração: Abelha em arbusto de alfazema.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Homilia da Solenidade da Assunção da Virgem Maria

Celebramos hoje em comunhão com toda a Igreja a Solenidade da Assunção da Virgem Maria, um mistério da vida de Maria e da Igreja que somos convidados a contemplar à luz das palavras que escutámos na Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios.
Se em Jesus Cristo, pelo mistério da ressurreição, todos são restituídos à vida, a Virgem Maria, em virtude da proximidade e da relação com Cristo, é a primeira a usufruir dessa restituição, podemos dizer que desse privilégio, na medida em que pertence a Cristo de forma plena e total.
Contudo, e se o texto da Carta de São Paulo nos apresenta esta restituição como algo a acontecer apenas aquando da vinda de Cristo na sua glória, a Igreja desde bem cedo acreditou que a Virgem Maria gozou desta restituição imediatamente após a sua morte.
Ela é a primeira beneficiária da vitória de Cristo sobre a morte, porque foi também a primeira a acreditar no cumprimento de tudo o que lhe foi dito da parte do Senhor, ela é a primeira discípula, a primeira crente em Jesus Cristo e na sua vitória, mesmo quando nada deixava prever ou antever o que iria acontecer.
Maria assemelha-se neste aspecto, nesta submissão da sua vontade à vontade de Deus, a Abraão, aquele que acreditou e colocou toda a sua confiança no Senhor e numa promessa que também não vislumbrava no imediato. Maria é assim a porta da nova aliança, da aliança que Deus estabelece com todos os homens, de todos os povos e de todos os tempos.
E se nas diversas alianças que Deus estabeleceu com os homens um sinal recordava a Deus e aos homens essas mesmas alianças, como foi o arco iris e a circuncisão, a assunção do corpo de Maria aos céus é também sinal visível e presente dessa aliança estabelecida em Jesus. Maria elevada ao céu é o sinal da acção salvadora de Deus, uma memória para Deus e uma memória para os homens.
A celebração desta memória coloca-nos assim nos passos de Maria, no que ela representa de desafio da fé, de acreditar sem ver, de acreditar que é possível cumprir-se tudo o que nos é dito da parte do Senhor, bem como no que ela representa de confiança e fraternidade, de caminho que se faz de encontro a Deus aquando do encontro com o outro.
Maria é elevada ao céu porque desde o primeiro momento, desde o anúncio da sua maternidade, se projecta para fora de si, num primeiro momento pelo acolhimento das palavras do anjo e depois na viagem ao encontro da sua prima Isabel.
Maria é assim o reverso do egoísmo, do egocentrismo, ela vive desde o primeiro momento a assunção na medida em que se deixa levar, se deixa elevar, na medida em que permite a vontade de Deus realizar-se.
E neste sentido também nós podemos ser assumptos, podemos ser elevados ao céu, ou seja na medida do nosso acolhimento da vontade de Deus, da elevação que permitimos que Deus realize nas nossas vidas.
Procuremos pois, com a mesma confiança incondicional em Deus, seguros que com ternura e amor nos conduz, que a vontade de Deus se realize em nós, que nos eleve da nossa fragilidade humana à glória divina que nos está destinada e de que Maria é a primeira beneficiária.

 
Ilustração: “Assunção da Virgem Maria”, de Alonso López de Herrera, Museu Nacional de Arte do México.

A oração autêntica

 
A oração é autêntica não na medida em que Deus escuta o que lhe pedimos, mas na medida em que, quando rezamos, seguimos rezando até que escutamos o que Deus quer de nós.
Soren Kierkegaard, VN 2.903,6.

Ilustração: Cruz do Campo CR2014 em Resende com as orações do dia.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Um pouco de cristão e outro tanto de pagão

 
A linha que separa o pagão do cristão passa pelo centro do coração de qualquer ser humano. Isto quer dizer que todos temos um pouco de pagãos e um pouco de cristãos.
Luís Augusto Castro Quiroga, Arcebispo de Tunja, VN 2.903,6.

Ilustração: Obelisco da escadaria do Santuário da Senhora dos Remédios em Lamego.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ser cristão é deixar Deus ser

 
Um cristão sabe que não pode falar de Deus sem dar-lhe graças e glória desde a humildade do seu ser. Um cristão deixa que Deus seja Deus, reconhece a sua vontade, louva e bendiz, adora, unido a Cristo, perfeito adorar do Pai, não o reduz a alguém contratado para os seus próprios fins.
Luís Augusto Castro Quiroga, Arcebispo de Tunja, VN 2.903,6.

Ilustração: Azáleas do jardim da casa dos meus pais.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Da ignorância ao conhecimento

 
Quando o homem confessa a sua ignorância, começa para ele a verdadeira viagem. Confessar a própria ignorância é admitir que tudo o que sabes é nada em comparação com o que podes saber. Mais ainda: que tudo o que tenhas pensado ou sentido antes sobre as coisas ou sobre ti próprio é um impedimento para chegar a essas coisas e a ti próprio.
Pablo d’Ors, VN 2.903,50.

Ilustração: Rosa dos jardins de Ávila.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O mistério da obra de arte

 
A obra de arte coloca-nos sempre frente ao mistério. Se não nos coloca frente ao mistério do homem, da vida, do mundo, não é uma obra de arte.
Pablo d’Ors, VN 2.903,50.

Ilustração: Barco de Papel de uma oração da noite no Campo CR2014 em Resende.