domingo, 4 de janeiro de 2015

Homilia da Solenidade da Epifânia do Senhor

Neste primeiro domingo do ano novo o calendário litúrgico convida-nos a continuar a celebrar o grande acontecimento do Natal através desta Solenidade da Epifânia do Senhor. É uma celebração cheia de alegria e de esperança, de uma redobrada alegria e esperança, pois como nos recordava a Carta de São Paulo aos Efésios, o mistério de Cristo foi revelado e oferecido tanto ao povo eleito dos judeus como aos gentios de todas as nações.
Os Magos, de que nos falava o Evangelho de São Mateus, são as personagens evangélicas que prefiguram estes gentios de todas as nações de que fala São Paulo, mas são também as personagens que nos representam na busca do absoluto, uma busca que nos pode levar muito longe, mas que tal como acontece com os Magos não pode deixar de nos reconduzir à nossa própria casa.
Neste sentido é significativo termos presente como os magos se deslocam do oriente para seguir uma estrela que nascera a oriente, manifestando-nos assim que para além do oriente, daquilo que se considera o princípio, a terra dos sonhos, há um outro princípio e um outro sonho que nos pode conduzir para além do insuspeitável.
Poderíamos dizer que a estrela nascida a oriente é assim uma manifestação do próprio princípio criador, da fonte de toda a luz, que conduz os Magos como conduz os homens ao encontro da verdadeira sabedoria, plasmada no Deus que se faz homem.
Os Magos representam-nos também nas dificuldades desta caminhada, desta peregrinação em busca da luz, dificuldades tantas vezes experimentadas em desencontros, como o que eles viveram quando se abeiraram de Jerusalém e se confrontaram com uma elite centrada em si própria, nos conhecimentos que possuía e que a impossibilitava de se abrir à novidade.
Contudo, se esta peregrinação acontece, e nela os desencontros são inevitáveis, tal como nos conta São Mateus no Evangelho, é para nos colocar diante da verdadeira missão que está destinada a estes homens vindos do Oriente e a todos nós que temos sede de absoluto.
Diante da novidade da sua presença em Jerusalém e face ao questionamento da sua vinda, não podemos deixar de olhar com atenção a sua resposta, pois os Magos vieram em busca do menino rei para o adorar. Esta é a sua grande missão.
Os Magos não vinham em busca de um conhecimento extraordinário, de uma novidade do “prime-time” de qualquer telejornal, não pretendiam mais uma experiência fantástica no seu curriculum, mas vinham para adorar o menino. Todo o seu esforço, toda a sua caminhada, o saírem do seu conforto, os perigos que tinham corrido, visava apenas poder adorar o menino que tinha acabado de nascer.
Este é afinal o desafio que se coloca a todos nós, a todos aqueles que buscam o absoluto e a fonte de toda a luz. Desafio tanto mais radical, quanto mais somos confrontados com um menino deitado numa manjedoura, uma criança indefesa e sem qualquer poder, na qual descobrimos uma força e um poder que não são deste mundo.
Realidade inimaginável para os homens, uma vez que patenteia uma revolução na forma como Deus se apresenta, pois Deus deixa de estar nos céus estrelados e faz-se carne da carne dos homens, deixa de vencer as batalhas pelas armas da força, mesmo as da natureza, e vence-as pela força do amor e da fidelidade.
A manifestação divina, a Epifânia que acontece assim na viagem e encontro dos Magos com o menino deitado numa manjedoura, é assim a manifestação do poder e da presença divina na nossa humanidade, na nossa natureza humana. Manifestação que obrigatoriamente conduz os Magos de regresso por outro caminho, ou seja, pela certeza que não é necessário ir muito longe para encontrar a presença de Deus, porque afinal ela está em toda a natureza humana, encontra-se na nossa casa mais natural.
A adoração prestada ao menino através do ouro, do incenso e da mirra, é assim a adoração cuidadosa que é devida a todo o homem e mulher, templos que são da presença de Deus, uma adoração que não devemos descuidar nem connosco nem com aqueles que partilham a nossa mesma condição. O mistério da Epifânia do Senhor a todos os povos coloca-nos assim a todos na mesma órbita de humanidade e divinidade.
Procuremos pois na fragilidade da nossa natureza humana cuidar a presença e a manifestação da presença divina.

 
Ilustração:
“A Adoração dos Reis Magos”, de Hieronymus Bosch, Museu do Prado, Madrid.

1 comentário:

  1. Caro Frei José Carlos,

    Leio a Homilia da Solenidade da Epifânia do Senhor que teceu como um relato que ajuda a esclarecer a manifestação de Cristo ao mundo, a dar sentido ao mistério da Epifânia do Senhor, que desce ao concreto da vida de cada um de nós e fico a meditar nalgumas passagens que me tocam particularmente.
    Como os Magos precisamos ir mais além, caminhar, procurar, mesmo que, por vezes, os caminhos se revelem errados, sem receios, recomeçando o caminho com alegria e esperança, para encontrar o Senhor.
    E, passo a citá-lo...” Os Magos representam-nos também nas dificuldades desta caminhada, desta peregrinação em busca da luz, dificuldades tantas vezes experimentadas em desencontros, como o que eles viveram quando se abeiraram de Jerusalém e se confrontaram com uma elite centrada em si própria, nos conhecimentos que possuía e que a impossibilitava de se abrir à novidade.(...)
    (...) Diante da novidade da sua presença em Jerusalém e face ao questionamento da sua vinda, não podemos deixar de olhar com atenção a sua resposta, pois os Magos vieram em busca do menino rei para o adorar. Esta é a sua grande missão.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Homilia, profunda, esclarecedora, recordando-nos que …” A manifestação divina, a Epifânia que acontece assim na viagem e encontro dos Magos com o menino deitado numa manjedoura, é assim a manifestação do poder e da presença divina na nossa humanidade, na nossa natureza humana”. … Bem-haja. Que o Senhor o cumule de todas as bênçãos.
    Votos de uma boa semana. Bom descanso.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar