domingo, 27 de novembro de 2016

Homilia do I Domingo do Advento

Celebramos o primeiro domingo do Advento e com ele iniciamos o novo ano litúrgico e um novo tempo de preparação para celebrarmos o Natal. Todos os anos somos convidados a preparar esta grande festa, esta grande celebração, mas para isso necessitamos estar atentos e vigilantes.
A sociedade em que vivemos, o mundo em que nos situamos, prepara também esta festa, e as decorações feéricas das ruas e centros comerciais despertam-nos para ela, podíamos dizer que nos colocam no espirito do Natal. Contudo, e temos que o assumir, esse espirito de Natal é frequentemente um espirito superficial, um espirito que muitas vezes termina no papel de embrulho, nas fitas e luzes coloridas, que perdeu o coração que verdadeiramente constitui o Natal.
Com isto não quero dizer que sou contra as luzes e as fitas coloridas, as árvores bem enfeitadas, as músicas americanas de Natal. Gosto imenso do Natal cheio de luz e cor, mas por essa mesma razão creio que necessitamos todos de estar atentos e vigilantes para não nos perdermos no feérico, no acessório, que nos deve conduzir ao centro que é o Menino Deus e não distanciar-nos dele.
Quando olhamos para as decorações de Natal que vamos encontrando pelas nossas ruas, nas prateleiras das lojas e supermercados, já pouco vemos de referências ao Menino, ao grande anúncio dos anjos de que nos tinha nascido um Salvador naquela noite feliz. Celebramos como que o seu aniversário, e contudo, distraidamente ou nem por isso, não o temos presente, esquecemo-nos de o convidar!
As palavras de Jesus, no Evangelho de São Mateus que escutámos, colocam-nos na necessidade de estar atentos, vigilantes, não só porque não sabemos a hora a que o Filho do homem virá, mas sobretudo porque no meio das ocupações das nossas vidas podemos, tal como acontecia com os contemporâneos de Noé, não nos darmos conta do que está a acontecer, da vinda do Filho do homem a cada um de nós.
Se, pelo mistério da Encarnação, o Filho de Deus veio habitar a nossa carne há dois mil anos, a verdade é que pelo mistério da Ressurreição continua a vir todos os dias, continua a querer nascer nas nossas vidas, continua a querer fazer caminho connosco, continua a querer fazer-se carne da nossa carne. Porque elevado ao céu, pelo seu Espirito, continua presente no meio de nós e apela ao nosso acolhimento, apela à preparação do nosso coração para o receber, tal como o receberam Maria e José, os pastores e os magos, a noite fria e silenciosa do seu nascimento.
Esta atenção e vigilância conduzem-nos ao sonho, à utopia, mas simultaneamente ao despertar do sonho e à acção. Na expectativa do Senhor que vem ao nosso encontro sonhamos o seu projecto de um Reino de Paz, elaboramos tal como o profeta Isaías a utopia de um mundo em que os homens colocarão as armas ao serviço da construção, em que todos poderão viver lado a lado sem inveja e sem rivalidades. Pela mesma expectativa despertamos do sonho, deixamos as trevas de egoísmo e desejos de poder, e procuramos levar a cabo e realizar com as nossas capacidades e inteligência o Reino sonhado, a utopia idealizada, procuramos viver a solidariedade e a fraternidade, procuramos construir uma casa comum e uma única família a partir de Deus.
Tal como nos diz São Paulo na Carta aos Romanos, ao sabermos em que tempo estamos torna-se necessário que deixemos de estar distraídos, torna-se necessário que assumamos a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, a salvação em que estamos envolvidos e deve transfigurar a nossa vida.
Este é o tempo de despertar, de tomar a resolução de que alguma coisa pode e deve ser feita de diferente, de colocarmos o nosso esforço em acção para que tal aconteça. Este é o tempo de nos revestirmos de Cristo para que este seja novamente um tempo de glória para Deus nas alturas e de paz para os homens por ele amados.
Aproveitemos pois o tempo de Advento que agora iniciámos.

 
Ilustração:
“A profecia de Isaías”, de Jan Brueghel o Velho, Alte Pinakothek, Munique.   

1 comentário:

  1. Obrigada,Frei José Carlos,pela maravilhosa partilha da Homilia do I Domingo do Advento,muito profunda para nossa reflexão.Gostei muito.Que o Senhor o ilumine e o proteja.Desejo - lhe um bom fim de semana.
    Um Abraço e um descanso.
    AD

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