quinta-feira, 17 de junho de 2010

A oração de Jesus

Os evangelhos contam-nos que Jesus se retirava para rezar, umas vezes só e outras vezes acompanhado pelos discípulos. Em algum momento estes mesmos lhe pediram que os ensinasse a rezar, a rezar como ele rezava na intimidade ao Pai. E é assim que Jesus ensina aos discípulos o Pai-Nosso, a oração de todo o cristão, de todo aquele que se sabe e sente filho de Deus e por isso o pode chamar Pai e nosso porque é de todos.
Quando ensina os discípulos Jesus tem o cuidado de dizer “quando orardes”, ou seja, tem consciência das nossas dificuldades na oração, de como nos custa, de como tantas vezes a preterimos em favor de outras coisas, de como tantas vezes é mais uma tempestade de palavras que oração.
São Paulo na Primeira Carta aos Tessalonicenses (5,17) recomenda aos cristãos que rezem sem cessar, que em tudo dêem graças porque esta é a vontade de Deus em Jesus Cristo. Na Carta aos Efésios (6,18) e na Primeira a Timóteo (2,8) recomenda também que se reze sempre em união com o Espírito. Parece que Paulo vai um pouco mais longe, que radicaliza a recomendação de Jesus, deixando de lado a ocasião, o momentâneo, para nos colocar e recomendar num estado constante de oração.
A verdade é que um e outro estado, o agora e o sempre, estão profundamente interligados e não existem um sem o outro, alimentam-se e desenvolvem-se mutuamente.
Por isso é que é extremamente importante a outra recomendação que Jesus faz aos seus discípulos de se retirarem para o quarto e na solidão rezarem ao Pai que vê e conhece na intimidade. É a oração programada, agendada, mas sem a qual não poderemos nem conseguiremos desenvolver a oração constante, o estado constante de oração. Necessitamos de momentos de oração, de momentos de intimidade e privacidade com o nosso Deus, com o Pai do céu e com Jesus. Neste sentido é bom que tenhamos o nosso horário para rezar, o nosso lugar privado, as nossas formas e invocações e que não os abandonemos. O Espírito geme em nós mesmo quando tantas vezes as nossas palavras são distracção.
Escrevem Calisto e Inácio Xantopouloi na “Centúria Espiritual” nº 23:
“Os Padres divinos, os Mestres, aqueles que tinham a experiência desta obra bem-aventurada, ensinavam e prescreviam àquele que se aplica com toda a inteligência a ser sóbrio e vigilante no seu coração, e de modo particular ao noviço, que se sentasse sempre tranquilamente, sobretudo no tempo fixado para a oração, e num lugar sem luz.”
O modo da oração, o tempo, o lugar, o ambiente, são assim pormenores que não podemos descurar quando nos queremos iniciar na oração ou desenvolvê-la um pouco mais.

2 comentários:

  1. Fico muito grata, Frei José Carlos, pela sua catequese tão bem estruturada e documentada, plena de sensibilidade, que vem diluir as dúvidas porventura existentes e dar mais consistência à forma individual desenvolvida nos "... momentos de intimidade e privacidade com o nosso Deus, com o Pai do céu e com Jesus."
    No entanto, nos momentos menos felizes e satisfatórios ao louvar e agradecer,anseia a vulgar alma humana por se aproximar de corações mais perfeitos, repetindo o que poderão ter deixado por escrito na intimidade da sua oração.
    As caminhadas cibernéticas têm dado os seus frutos.
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    Que bela meditação sobre a “oração de Jesus” e a forma que a nossa oração deve revestir , exortando-nos a que a mesma seja um acto, um “estado” constante de oração. Mas também nos recorda a recomendação que Jesus faz aos seus discípulos sugerindo-nos que ...” Necessitamos de momentos de oração, de momentos de intimidade e privacidade com o nosso Deus, com o Pai do céu e com Jesus. Neste sentido é bom que tenhamos o nosso horário para rezar, o nosso lugar privado, as nossas formas e invocações e que não os abandonemos.”

    Mas permita-me dizer-lhe que é necessário saber aproveitar todos os momentos para poder fazê-lo, até mentalmente, nos lugares mais diversos, ainda que privilegiando, … “O modo da oração, o tempo, o lugar, o ambiente”, como afirma.

    Obrigada por esta partilha que nos reconforta. Bem haja. MJS

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