terça-feira, 11 de novembro de 2014

Fizemos o que devíamos fazer! (Lc 17,10)

É inquestionável que há dever e dever. Existe aquele dever a que estamos obrigados, que nos é imposto por outrem, muitas vezes até mesmo contra a nossa vontade, mas existe também o dever que é consequência do nosso amor, do sentimento de felicidade a que nos conduz.
Jesus, a quem os discípulos chamavam mestre, define-se frequentemente como o servo, como aquele que veio para servir, não por uma norma ou força exterior a si próprio, mas por amor, pela sua livre vontade de servir e entregar a vida pelos homens.
As palavras de Jesus relativamente ao servo que, mesmo depois de um dia de trabalho, é chamado a servir o seu senhor, mostra-nos que servir é dar, é cumprir as obrigações, mas é também dar-se, fazer-se dom e vida para os outros.
Frequentemente desejamos escolher a forma de servir os outros, os deveres que nos são impostos ou que nos impomos, desejamos fazer a nossa obediência, procuramos um serviço que nos prestigie ou nos dê alguma notoriedade.
E desta forma esquecemos que, à força de querer fazer as obras de Deus, de querer fazer o que achamos bem, de querer servir de acordo com os nossos critérios ou interesses, deixamos de fazer a obra de Deus, o que Deus verdadeiramente nos pede que façamos lá ou cá, onde nos encontramos.
Com a nossa vontade e os nossos critérios corremos igualmente o risco de servir a Deus com o que não somos e não temos, quando a verdadeira grandeza do serviço é servir com o que temos e somos, onde estamos.
Com humildade e amor aceitemos o serviço que o Senhor nos destinou, confiantes que é aí que somos chamados a fazer o que devemos fazer.

 
Ilustração:
“O servo de Isaac colocando a pulseira no braço de Rebeca”, de Benjamin West, Colecção Particular.

3 comentários:

  1. Será que é fácil distinguir o que é dever imposto por alguem do dever que assumimos por amor? Inter pars

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  2. Geralmente, é verdade, queremos servir fazendo a nossa vontade. Mas, essa não é a maneira de fazer a vontade do Pai. Ir. Teresa,O.P.

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  3. Caro Frei José Carlos,

    Ao reflectirmos na leitura do Evangelho de Lucas (17, 7-10) e no texto da Meditação que teceu, cada um de nós, à sua maneira, se vê espelhado nele, seja cristão ou não, não importa o lugar, o modo e o tempo. Há várias formas de dever e de serviço, como nos afirma. E, como se manifesta o “poder” no serviço, Frei José Carlos?
    O serviço ao próximo, não se esgota no cumprimento do dever, vai mais além, no pressuposto de que o fazemos como somos, de forma gratuita, sem interesse pessoal, com amor, humildade, alegria e esperança. «“Assim também vós, quando tiverdes feito tudo aquilo que vos foi ordenado, dizei ‘somos servos inúteis’’’’, disse Jesus.
    Ao repensarmos como “somos” e como “agimos” quão fácil é desvirtuarmos o serviço ao próximo, não importa o cargo, a função ou projecto que somos chamados a realizar, não servindo o próximo até ao fim, mas caindo na utilização pessoal da finalidade do serviço, como propriedade pessoal, impondo regras absurdas, inebriados e deslumbrados pelo poder, pelo reconhecimento pessoal, transformando a “atitude de serviço em manifestação de poder”, sem a alegria do serviço.
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhas que nos deveriam servir diariamente como reflexão, pelo menos, ao início e ao final do dia, reconhecendo como nos salienta que ...” servir é dar, é cumprir as obrigações, mas é também dar-se, fazer-se dom e vida para os outros.”… Bem-haja. Que o Senhor o cumule de todas as bênçãos.
    Continuação de boa semana. Bom descanso.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

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