quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O rei sentou-se sobre a cinza. (Jn 3,6)

Iniciámos o tempo da Quaresma com esse rito tão simples mas tão sugestivo da imposição das cinzas. Com um pouco de cinza e o sinal da cruz recordávamos que somos pós e ao pó voltaremos e que o Senhor nos convida a arrepender-nos e a acreditar no Evangelho.
Passada uma semana de caminhada quaresmal encontramos no Livro de Jonas o rei de Nínive sentado sobre a cinza, sugerindo-nos que não basta recebermos a cinza na cabeça, temos que nos sentar sobre ela.
É estranho, desconfortável, e poderíamos dizer tão pouco higiénico. E contudo é necessário sentar-se sobre as cinzas, depois de descer do trono, tirar o manto e cobrir-se de saco como fez o rei de Nínive.
Nesta Quaresma somos convidados também nós a descer do trono do nosso orgulho, da nossa vaidade, a despir o manto da auto-suficiência ou até da arrogância, e a cobrir-nos com o saco pobre e esfarrapado das nossas limitações.
Então, poderemos e sentar-nos-emos na cinza da nossa condição humana, no nosso pó e na sua fragilidade, no que verdadeiramente somos como homens e mulheres, e perceberemos que diante do nosso nada e do nosso pó, só o sopro da vida tem sentido, só Deus nos pode erguer e manter de pé.
Hoje, num qualquer momento do dia, vou sentar-me sobre a cinza que eu próprio sou e vou clamar ao Senhor: Compadecei-vos de mim pela vossa bondade, não desprezeis um espírito humilhado e contrito, fazei nascer dentro de mim um espírito firme, criai em mim um coração novo, criai-me de novo no vosso amor!

 
Ilustração:
“Figura ajoelhada em oração”, aguarela de Francois Barthelemy Marius Abel.

5 comentários:

  1. Todos nós precisávamos de ser capazes desse gesto , simultâneamente simples e grandioso, para ter a certeza do apoio do nosso Deus, Ele que nos pode dar "um coração novo e um espírito firme" se nos consciencializarmos da nossa pequenez. Inter pars

    ResponderEliminar
  2. Caro Frei José Carlos,

    Desde longa data, a cegueira da auto-suficiência, de forma transversal a toda a sociedade, leva-nos a sentirmo-nos melhores do que as outras pessoas— como as privilegiadas, as abençoadas, as escolhidas por Deus, as não “impuras”, e de que o século passado foi revelador de acontecimentos únicos, em que uma parte da Humanidade cometeu atentados de um horror sem descrição.
    Mas não precisamos procurar grandes acontecimentos no decurso da História do Homem. No quotidiano da cada um de nós, em qualquer lugar, mas particularmente nas grandes cidades, assistimos ou participamos em situações que se assemelham a representações “sem palco” em que, por vezes, acabamos por remeter-nos ao silêncio para que a tensão não se agrave e a situação não degenere… Ninguém é dono da verdade…
    Que o Senhor nos dê sabedoria para aceitar a Sua misericórdia e convertermo-nos para mudar o rumo da nossa vida de acordo com o projecto de Deus.
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação, profundo, maravilhosamente ilustrado, que nos leva a olhar-nos e aceitar-nos como somos, a tirar as máscaras, pelo convite e desafio que nos deixa nesta Quaresma...”a descer do trono do nosso orgulho, da nossa vaidade, a despir o manto da auto-suficiência ou até da arrogância, e a cobrir-nos com o saco pobre e esfarrapado das nossas limitações”. …
    Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, e o cumule de todas as bênçãos.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar
  3. "Hoje, num qualquer momento do dia, vou sentar-me sobre a cinza que eu próprio sou e vou clamar ao Senhor: Compadecei-vos de mim pela vossa bondade, não desprezeis um espírito humilhado e contrito, fazei nascer dentro de mim um espírito firme, criai em mim um coração novo, criai-me de novo no vosso amor!"
    Não encontraria em mim, Frei José Carlos, prece mais bela e mais profunda para me elevar ao Senhor, pelo que são estas as palavras que me vão guiar até Ele.
    Um bom dia e um abraço fraterno.
    GVA

    ResponderEliminar
  4. Hoje quis acreditar subi e desci as escada do meu andar, e ascendi as luzes de um altar, onde rogo, continuamente, assim ponho-me a pensar se em mim, se por salvar um irmão doente perante a fome, respondesse de certo dia, a um gesto como os apóstolos em que de Jesus deram seu exemplo mesmo em tempos onde a sua recente pedra erguida eram de notícia, uma mensagem de valor incalculável pois nas suas vidas, a felicidade era humanizar caracter tátil e sincero por amor a Deus.

    ResponderEliminar
  5. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe o maravilhoso e belo texto de Meditação,muito profundo que nos dá força,para prosseguirmos o caminho Quaresmal.Também pelo convite que nos deixa nesta Quaresma a cobrir-nos com o saco pobre e esfarrapado das nossas limitações.Obrigada,Frei José Carlos,pela partilha maravilhosamente bela e bem ilustrada .Gostei muito e peço ao Senhor que lhe dê forças e tempo,para continuar a partilhar connosco . Desejo-lhe uma boa semana com paz e alegria.Bem-haja.Que o Senhor o ilumine o ajude e o abençoe.Uma boa noite.
    Um abraço fraterno.
    AD

    ResponderEliminar