terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Pai nosso… (Mt 6,9)

Entro neste espaço que já me é habitual, uns passos em frente, e no primeiro banco ajoelho-me. Diante de mim o altar, a cruz, o sacrário para o qual uma luz trémula ma chama a atenção. Está ali presente de uma forma particular o meu Senhor e o meu Deus, na forma como quis ficar connosco para ser pão de vida, alimento para a caminhada dos seus filhos.
Sem pensar traço sobre o peito o sinal da cruz, renovo em mim o sinal da vitória sobre o mal, e elevo o meu pensamento, vim rezar, colocar diante do altar as minhas preces.
Sem pensar, apresento as minhas necessidades, as minhas preocupações, as minhas quedas e fraquezas, a força que peço ao Senhor para não deixar de acreditar nem desanimar. E rezo a oração que Jesus nos ensinou.
Pai Nosso que estais nos céus… um travão obriga-me a parar, o Espirito leva-me mais longe, para lá de mim e das minhas palavras e preces. Como é difícil Pai passar do meu “eu” para o nosso “nós”, do “Meu Deus” para o “Nosso Pai”, dessa relação tão vertical que me liga a Deus para a relação mais horizontal que me une aos outros homens e mulheres.
E a oração que Jesus nos deixou não faz outra coisa senão recordar-nos que não somos nada sozinhos, que falar verdadeiramente com Deus implica obrigatoriamente reconhecer os outros como parte de mim, como membros vivos do mesmo corpo em que existo, participantes das mesmas minhas necessidades.
Novamente traço o sinal da cruz sobre o peito, e de um ombro ao outro ombro alargo o horizonte e passo a ter presentes todos os meus irmãos, aqueles homens e mulheres que conheço e desconheço, os mais próximos e os mais distantes, e recomeço… Pai Nosso!

 
Ilustração:
“Oração”, de Ernst Hildebrand.

4 comentários:

  1. Que saibamos sempre ter presente que Ele é o "nosso" pai, o pai de todos e de cada um, que com o seu amor infinito nos acolhe mesmo com os nossos erros e os nossos esquecimentos.
    Quando seremos capazes de rezar o Pai nosso, verdadeiramente? Inter pars

    ResponderEliminar
  2. Caro Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que partilha leva-nos à reflexão de como orar em solitário ou em comunidade e que espelhou na oração do “Pai-nosso”. A oração não pode tornar-se num ritual que se faz por medo, repetição de palavras não reflectidas, ou numa espécie de lista pessoal de pedidos no diálogo íntimo com Jesus, na qual se fica absorto nas fragilidades, nas necessidades, no pedido de salvação.
    A oração que Jesus ensinou aos seus discípulos a rezar é a experiência de oração cristã mais completa. Como nos recorda ...” é difícil Pai passar do meu “eu” para o nosso “nós”, do “Meu Deus” para o “Nosso Pai”, dessa relação tão vertical que me liga a Deus para a relação mais horizontal que me une aos outros homens e mulheres.
    E a oração que Jesus nos deixou não faz outra coisa senão recordar-nos que não somos nada sozinhos, que falar verdadeiramente com Deus implica obrigatoriamente reconhecer os outros como parte de mim, como membros vivos do mesmo corpo em que existo, participantes das mesmas minhas necessidades.”…
    “É condição essencial de todo o crente ser guardião dos irmãos na fé e de todos os seres humanos”, afirma-nos Enzo Bianchi.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos desinstala e recentra. Bem-haja.
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar
  3. São estas palavras, Frei José Carlos, uma inspiração para o nosso recolhimento e a elevação do nosso espírito para o Pai, lembrando-nos que, ao abrir o nosso coração a presentes e ausentes, conhecidos e desconhecidos, vivemos amoravelmente a Oração que Ele nos ensinou.
    Um bom dia e um fraterno abraço,
    GVA

    ResponderEliminar
  4. Expresso graças a Deus que crer no pão nosso de cada dia é alimentar a comunhão reta e justa do povo de Deus, bem ao lado dos que penam com sensatez teológica num Deus humano e sempre consagrando a lei dos pobres, onde também haja defesa dos que na distante hierarquia de exércitos se perdoe e concilie esquecendo armas e dialogando cada vez mais.

    ResponderEliminar