No domingo passado o
Evangelho apresentava-nos Jesus a enviar os discípulos em missão dois a dois. Hoje
apresenta-nos o seu regresso, cheios de alegria e com o sentimento de missão
cumprida, se assim o podemos dizer.
É face a esta realidade
da missão cumprida que Jesus convida os discípulos a passar a um lugar isolado
e a descansar, pois o vai e vem das multidões não lhes dava oportunidade para
esse descanso merecido.
Para muitos dos
membros das nossas comunidades e meios urbanos este é também o tempo merecido
de descanso, o tempo das férias, em que podemos mudar de ritmo, mudar de lugar,
fazer uma experiência de vida diferente da habitual. É um direito conquistado
pelos trabalhadores.
Contudo, e antes de
ser um direito que normalizámos juridicamente, o descanso é um dever, é uma
obrigação inerente à nossa própria condição humana, pois necessitamos dele para
viver, para nos encontrarmos nas devidas condições físicas, psicológicas e até
espirituais para realizar a missão que o Senhor nos confiou.
Neste sentido, o
convite de Jesus ao descanso dos apóstolos é para nós um desafio na
concretização deste descanso, pois frequentemente preenchemos de tal modo o
nosso tempo de férias que acabamos por não descansar nada. Quantas vezes não
terminámos já as nossas férias assumindo que necessitávamos de umas férias para
recuperar das férias?
E ao falar de
descanso, deste dever, não podemos esquecer que o domingo é por excelência o
tempo do descanso, um dia que o Senhor confiou à humanidade para que se possa
retemperar nas suas forças, encontrar-se consigo própria e com o seu Criador. E
aqui volta-se a colocar a questão da forma como aproveitamos o tempo de
descanso. Semanalmente é-nos oferecida essa possibilidade, e como é que nós a
aproveitamos?
O descanso semanal do
domingo, ou das férias anuais, vivido cuidadamente revela o respeito pelo
próprio corpo, pela própria condição humana, o sentido do equilibro entre o
corpo e alma, o necessário equilíbrio entre o fazer e o ser.
O descanso
possibilita-nos o encontro connosco e com os outros e de um modo muito
particular com o Outro que é Deus, se assumimos que este tempo de descanso que
são as férias ou o domingo têm também essa função, também nos possibilitam esse
encontro de uma forma mais próxima.
E é este encontro
tripartido, vivido no descanso, que nos permite perceber no regresso ao ritmo
do quotidiano que há irmãos nossos, homens e mulheres, que vão à nossa frente,
que se antecipam à nossa caminhada e missão, tal como aconteceu com a multidão
que precedeu Jesus e os discípulos no lugar onde procuravam refugiar-se e
descansar.
É uma multidão
sedenta, que anda em busca de uma resposta, de uma palavra ou uma luz, é uma multidão
que tantas vezes, e tal como Jesus assume, anda como ovelhas sem pastor,
desorientada, sem esperança ou qualquer sentimento de confiança numa mudança
para melhor.
E face a ela não
podemos deixar de nos compadecer, não podemos deixar de partilhar a sua
situação, pois tal como nos recordava São Paulo na carta aos Efésios, estamos
todos reunidos num só corpo, estamos ligados em Cristo aos que estão mais perto
e àqueles que estão mais longe, somos em conjunto um homem novo.
O descanso vivido à
luz do projecto de Deus, como um tempo de enriquecimento, de fortalecimento,
pois Deus cumula de bens aqueles que ama até durante o sono, torna-nos assim
mais aptos para estar no meio do mundo e dos irmãos, para sermos
verdadeiramente construtores do Reino de Deus.
Desta forma, e conscientes
que a vida no seu ritmo diário é um constante combate, procuremos pois
aproveitar o tempo de descanso que o Senhor nos oferece não só para
restabelecer as nossas forças físicas, mas também para retemperar as nossas
forças espirituais, para recuperar o brilho natural da nossa condição de filhos
de Deus, de membros vivos do corpo ressuscitado de Cristo.
"Jesus Cristo e os Discípulos”, desenho e aguarela de Rembrandt.
Realmente às vezes sabemos gerir muito mal o nosso tempo para encontrar essa ocasião de enriquecimento físico e espiritual que se chama "descanso".Que o Senhor nos ilumine para entendermos a Sua sugestão aos apóstolos. Inter pars
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