quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Carta de frei Francisco Rendeiro em defesa da Escola Apostólica em Aldeia Nova

Retomamos a divulgação do espólio documental do Arquivo Histórico Dominicano Português apresentando uma Carta que frei Francisco Rendeiro dirigiu ao frei Tomás Videira, à data Superior dos dominicanos em Portugal.
Por esta Carta podemos perceber a discussão existente sobre a reabertura da Escola Apostólica em Aldeia Nova face a uma oferta no Fundão também nesse sentido, e como a existência da Escola ali se ficou a dever em grande medida ao frei Francisco Rendeiro, que mais tarde voltará a defendê-la com toda a veemência.
 
Aldeia Nova, 29 de Novembro de 1943
Reverendíssimo Senhor Padre Videira
Recebi a carta de Vossa Reverência que muito agradeço. Deixo para depois do meu retiro, que termina depois de amanhã de manhã, a resposta aos diversos pontos. Por hoje só quero fazer uma advertência sobre o Fundão.
A situação é grave e parece-me que já não devia haver hesitações neste momento. Estamos em fins de Novembro, com tudo decidido para aqui, dinheiro gasto, etc. e agora é que se está a pensar noutra coisa! Parece-me impossível.
E ainda se fosse uma situação boa, mas com os inconvenientes que mostrei a Vossa Reverência na última carta… Lembremo-nos do que nos sucedeu deixando Mogofores. Se deixamos isto pelo Fundão pode ser que dentro de muito breve tenhamos que deixar o Fundão, e então para vir para aqui?
O frei Lourenço deixa-se impressionar facilmente.
A minha opinião é que agora se venha para aqui este ano, pois já vai o ano adiantado e não é tempo de estarmos a pensar noutra coisa. Durante o ano teremos tempo de ver o que isto dá e então melhor se pode julgar. Além disso não é grande a despesa que agora teremos que fazer aqui, além da que está feita e ficaria inutilizada.
Na solução do problema não podemos perder de vista os dados que dizem respeito a isto, coisa nossa (que nos ficou bem comprada) que agora temos que utilizar de alguma maneira se não queremos perder tudo.
Isto a minha opinião, salva plenamente a obediência, quanto mais não fosse para não ter responsabilidades no futuro.
E peço a Vossa Reverência se digne abençoar este pobre filho em São Domingos,
Frei Francisco Rendeiro
 
Ilustrações: Frente e Verso da Carta de frei Francisco Rendeiro ao frei Tomás Videira.
 

O Santíssimo Nome de Maria

Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria.

Não esteja o seu nome ausente da tua boca, não esteja ausente do teu coração.

E para obter o socorro das suas orações, não te separes do exemplo da sua vida.

Se a segues, não te extraviarás; se a invocas, não desesperarás; se pensas nela, não errarás.

Sob a sua protecção, não terás medo; sob a sua direcção, não te cansarás; sob o seu manto, alcançarás a meta.

E assim experimentarás em ti mesmo como é verdadeira esta palavra: E o nome da Virgem era Maria.

Das Homilias de São Bernardo

 
Ilustração: Virgem do Rosário, do escultor francês Georges Serraz, Convento de Cristo Rei, Porto.

Acolhimento para a comunhão

 
De cada homem Cristo espera um acolhimento. Se tu não lhe chegas a dar uma resposta, ele respeita o teu silêncio. Quando tu o acolhes, pelo Espirito Santo, ele cria dentro de ti mesmo uma comunhão íntima com ele. Na surpresa de uma comunhão, ele aloja-se no mais fundo da tua alma. A sua presença é tão clara como a tua própria existência.
Irmão Roger de Taizé

Ilustração: Caminho para o lugar da Ponte das Febres, Caminho Português de Santiago, 1 de Julho de 2012.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Jesus escolheu doze (Lc 6,13)

É no alto do monte e depois de uma noite passada em oração que Jesus escolhe o grupo dos doze Apóstolos, segundo o Evangelho de São Lucas. Ao amanhecer Jesus chama os discípulos e escolhe doze.
Nos nossos sistemas psicológicos, condicionados pelos complexos de inferioridade, certamente deixaríamos que a inveja fizesse o seu ninho e os seus estragos, pensando que havia uns melhores que outros, ou que Jesus tinha preferência por uns em detrimento de outros.
Mas a bem da verdade e para grande surpresa nossa, porque encontramos esses mecanismos a funcionar quando a mãe de Tiago e João pede um lugar privilegiado para os filhos, não encontramos no relato da eleição dos Apóstolos qualquer sinal de murmuração, deserção, ou inveja.
A eleição dos Apóstolos aparece como algo natural, como de direito e do direito daquele que escolheu, e portanto não há lugar para discussões ou dissensões. Foi Jesus que fez a escolha e ela é aceite pela sua autoridade, ainda que na escolha, e como o próprio texto nos diz, no grupo dos eleitos se incluísse aquele mesmo que o traiu.
A eleição dos Apóstolos aparece assim intimamente ligada à pessoa de Jesus e à sua autoridade, à sua missão divina, motivo porque imediatamente a seguir ao momento da escolha nos encontremos com Jesus e os discípulos no meio da multidão.
A escolha que Jesus faz, aqueles que agrega a si, é para a continuidade da sua missão, é para o seu serviço junto dos irmãos, um serviço universal porque como nos conta o texto evangélico tinham vindo homens e mulheres de todas as regiões para se encontrarem com Jesus, para escutarem a sua palavra e serem curados das suas enfermidades.
Ainda hoje Jesus continua a escolher homens e mulheres que quer agregar à sua missão, que quer enviar aos seus irmãos para que lhes anunciem a palavra salvadora do amor e os curem das suas enfermidades.
E tal como aconteceu com os doze Apóstolos, Jesus não escolhe os melhores, nem os mais perfeitos ou dotados, escolhe homens e mulheres que se deixam interpelar, que sonham por algo de diferente, que não ficam paralisados pelo medo de arriscar.
Necessitamos por isso testemunhar a eleição de Jesus, apesar das fraquezas e debilidades que nos marcam, e lutar contra essa tentação diabólica da perfeição que dificulta algumas respostas ao convite de Jesus. Que saibamos dizer que que Jesus não nos quer perfeitos, mas para sermos perfeitos com ele na missão redentora da humanidade.
 
Ilustração: “Envio dos Apóstolos dois a dois”, aguarela de James Tissot, Brooklyn Museum.

No amor de Deus o próximo

 
Os homens crêem que é necessário amar primeiro os homens e só depois Deus. Também eu agi dessa maneira, mas tal não serve para nada. Quando pelo contrário comecei a amar a Deus antes de tudo, neste amor de Deus encontrei o meu próximo, e neste mesmo amor de Deus os meus inimigos tornaram-se meus amigos e criaturas divinas.
Arquimandrita Spiridon

Ilustração: Cruzeiro de San Telmo no lugar da Ponte das Febres, Caminho Português de Santiago, 1 de Julho de 2012.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Levanta-te e põe-te de pé aí no meio! (Lc 6,8)

Jesus encontra-se na sinagoga a ensinar, como tinha feito tantas outras vezes, e no meio da assistência encontra-se um homem com uma mão paralisada.
Face a tal situação Jesus não passa indiferente, não pode deixar que a palavra anunciada fique inactiva, infrutífera. Toda a sua palavra é uma palavra de salvação, de restauração da dignidade de todos aqueles que a perderam por qualquer circunstância.
Neste sentido, Jesus convida o homem enfermo a levantar-se e a colocar-se de pé no meio da sinagoga e da assembleia que o escuta. A palavra vai passar da teoria à prática, vai agir como no momento da criação.
Tal desenvolvimento provoca a fúria dos fariseus e dos escribas, pois não só Jesus cumpre a sua função taumatúrgica como solicita a participação daquele mesmo que é objecto da sua acção. Jesus pede e espera a colaboração daquele sobre o qual vai agir, outorgando-lhe portanto um papel e um poder que os escribas e fariseus não podiam aceitar.
Nesta cura e através da acção do homem que se coloca de pé e no meio da assembleia, os fariseus e os escribas percebem que também o homem é actor da sua própria cura e salvação, que Deus conta com ele e espera a sua quota-parte de participação. E isso deixa-os furiosos.
Face a este acontecimento, face a este milagre, também nós somos convidados a perceber a necessidade que Deus tem da nossa acção e participação, da nossa colaboração na sua acção salvadora. Deus solicita a nossa ajuda e não age em nós ou através de nós sem o nosso consentimento, sem a nossa anuência à sua acção.
Necessitamos por isso levantar-nos, sair do nosso conforto, colocar-nos no meio, sujeitos aos olhares e críticas de todos, até à condenação furiosa, e estender as mãos suplicantes e pobres para que o Senhor actue em nós ou por intermédio de nós. Necessitamos ser actores da “performance” constante de Deus na história dos homens e na nossa própria vida.
 
Ilustração: Jesus curando o paralítico da mão, Mosaico Bizantino da Catedral de Monreal, Sicília.  

Vigilância perpétua

 
Se todos os homens fossem puros budistas, eles dormiriam em paz; mas se todos os homens fossem puros cristãos, eles não dormiriam jamais, eles velariam perpetuamente numa alegria inefável, e então a terra seria o céu.
Arquimandrita Spiridon

Ilustração: Vista de Tui e do Rio Minho, Caminho Português de Santiago, 30 de Junho de 2012.