segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Levanta-te e põe-te de pé aí no meio! (Lc 6,8)

Jesus encontra-se na sinagoga a ensinar, como tinha feito tantas outras vezes, e no meio da assistência encontra-se um homem com uma mão paralisada.
Face a tal situação Jesus não passa indiferente, não pode deixar que a palavra anunciada fique inactiva, infrutífera. Toda a sua palavra é uma palavra de salvação, de restauração da dignidade de todos aqueles que a perderam por qualquer circunstância.
Neste sentido, Jesus convida o homem enfermo a levantar-se e a colocar-se de pé no meio da sinagoga e da assembleia que o escuta. A palavra vai passar da teoria à prática, vai agir como no momento da criação.
Tal desenvolvimento provoca a fúria dos fariseus e dos escribas, pois não só Jesus cumpre a sua função taumatúrgica como solicita a participação daquele mesmo que é objecto da sua acção. Jesus pede e espera a colaboração daquele sobre o qual vai agir, outorgando-lhe portanto um papel e um poder que os escribas e fariseus não podiam aceitar.
Nesta cura e através da acção do homem que se coloca de pé e no meio da assembleia, os fariseus e os escribas percebem que também o homem é actor da sua própria cura e salvação, que Deus conta com ele e espera a sua quota-parte de participação. E isso deixa-os furiosos.
Face a este acontecimento, face a este milagre, também nós somos convidados a perceber a necessidade que Deus tem da nossa acção e participação, da nossa colaboração na sua acção salvadora. Deus solicita a nossa ajuda e não age em nós ou através de nós sem o nosso consentimento, sem a nossa anuência à sua acção.
Necessitamos por isso levantar-nos, sair do nosso conforto, colocar-nos no meio, sujeitos aos olhares e críticas de todos, até à condenação furiosa, e estender as mãos suplicantes e pobres para que o Senhor actue em nós ou por intermédio de nós. Necessitamos ser actores da “performance” constante de Deus na história dos homens e na nossa própria vida.
 
Ilustração: Jesus curando o paralítico da mão, Mosaico Bizantino da Catedral de Monreal, Sicília.  

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao falar-nos da cura que Jesus efectua a um homem que tem uma mão paralisada e que se encontra na sinagoga num dia de sábado e das circunstâncias em que a mesma ocorre, recorda-nos que ...”também nós somos convidados a perceber a necessidade que Deus tem da nossa acção e participação, da nossa colaboração na sua acção salvadora. Deus solicita a nossa ajuda e não age em nós ou através de nós sem o nosso consentimento, sem a nossa anuência à sua acção”. …
    É a nossa liberdade, e a liberdade de Jesus que se entrelaçam, na compaixão de Jesus, revelando um Deus de amor que vence a inflexibilidade de preceitos e privilégios, enfurecendo fariseus e escribas, e na actualidade outros actores.
    Como nos afirma no texto …”Toda a palavra de Jesus é uma palavra de salvação, de restauração da dignidade de todos aqueles que a perderam por qualquer circunstância.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos desinstala, exortando-nos …” a levantar-nos, sair do nosso conforto, colocar-nos no meio, sujeitos aos olhares e críticas de todos, até à condenação furiosa, e estender as mãos suplicantes e pobres para que o Senhor actue em nós ou por intermédio de nós.” Bem-haja.
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva


    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema do Frei José Augusto Mourão, OP.


    levanta-te e anda


    a cada um de nós é dada esta ordem:/”levanta-te e anda”/a fé é um nascimento e um caminho a andar//

    a impotência assumida na fé/tem valor de poder que salva//

    não basta estar de acordo com a mensagem recebida/basta sim o acolhimento da passagem do anjo/que assinala
    o túmulo aberto/basta acreditar no perfume do jardim da páscoa//

    não te rendas às evidências sensíveis/nem dês realidade à morte de que foges//

    que a Palavra de vida nos acorde/desse lugar cómodo/a partir do qual julgamos saber do que falamos/a vida e a morte/
    mal definidas sempre//

    que o revelador nos inicie/no mistério da incorruptibilidade/e da alegria//

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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