Celebramos o terceiro
domingo da Quaresma e, quase sem nos darmos conta, estamos a meio do caminho de
preparação que nos propusemos viver para a celebração da Páscoa deste ano de
dois mil e dezasseis. Urge assim perguntar sobre o que mudámos, o que fizemos
de diferente, aferir os nossos passos no sentido da conversão.
Este é o tempo
propício, a nova oportunidade que o Senhor nos concede, à semelhança do que
acontece no Evangelho de São Lucas que escutámos. Uma vez mais o Senhor, como
bondoso vinhateiro oferece-nos uma nova oportunidade para darmos frutos, para
procurarmos dar frutos, correspondendo ao seu cuidado expresso na adubação e no
amanho da terra.
Esta correspondência,
a resposta que nos compete dar, não pode esquecer esta bondade do Senhor, esta
generosidade do seu amor cuidadoso, mas não pode deixar também de ter presente
duas outras realidades fundamentais e estruturantes da nossa resposta possível,
como são a tentação do orgulho e a relação pessoal e única de Deus com cada um
de nós.
Esta tentação do
orgulho aparece-nos expressa nas histórias dos acidentes que são apresentadas a
Jesus no Evangelho, pois aqueles que se apresentam com as histórias da infelicidade
dos outros não se consideram passiveis da mesma infelicidade, uma vez que eles
se consideram bons, poderíamos dizer até muito bons. É uma mentalidade, uma
cultura da lógica do castigo pelo mal realizado, e que ainda hoje trespassa algumas
das perguntas que colocamos quando algo de mal acontece.
Contudo, Jesus
liberta-nos desta lógica, pois responde àqueles homens que as vítimas do mal
não eram piores que eles, que a sua morte não era uma satisfação por alguma
ofensa a Deus, mas que todos nos encontramos na mesma situação de poder ser
vítimas e por essa razão o verdadeiramente fundamental é a disposição para a
mudança, a nossa atenção à necessidade de conversão.
Como diz São Paulo aos
Coríntios, na leitura que escutámos, estes acidentes, estas catástrofes, são
advertências para a nossa condição e para a nossa situação no mundo, precária e
finita, sujeita a acidentes e transtornos, e portanto o verdadeiramente importante
é o cuidado, é a atenção, como se diz em outras passagens dos Evangelhos é a
vigilância, vigilância face a nós, ao mundo e a Deus.
Esta vigilância atenta
às nossas fragilidades e limitações, às nossas falhas, liberta-nos do orgulho
de pensarmos que somos melhores que os outros, de irmos pela vida como se ela
fosse um conto de fadas e que tudo se resolve com a nossa força e capacidades. Esta
vigilância coloca-nos face a Deus que nos acompanha e que sofre com o nosso
sofrimento e se alegra com a nossa alegria, que nos convoca a sofrer e a
alegrar-nos com o sofrimento e a alegria dos outros.
Por esta razão, por
esta presença pessoal e única, Deus não se apresenta com um nome quando se
revela a Moisés na sarça ardente, mas revela-se como Aquele que é, Aquele que
está presente e se relaciona e por isso pode ser dito Deus de Abraão, Deus de
Isaac e Deus de Jacob.
Este Deus adquire hoje
mesmo o nome de cada um de nós, é o Deus do Manuel, o Deus da Maria ou o Deus
do João, porque continua a ser quem é, sempre foi e será pela eternidade, e
porque contínua presente na relação que se estabelece com ele, no acolhimento
que se lhe presta na vida de cada um.
Na nossa caminhada
quaresmal, neste terceiro domingo, somos assim convidados a olhar a nossa
relação com Deus, a perceber a forma pessoal como Deus se relaciona com cada um
de nós e nos solicita a mesma relação, como nos convida nas circunstâncias da
nossa vida a uma mudança, a uma conversão para que essa relação possa ser cada
vez mais intima e pessoal.
Neste domingo somos igualmente
convidados a perceber os frutos que demos ou ainda não demos, como se encontra
a nossa fertilidade de obras para a eternidade, e nelas a nossa capacidade de
perdão, a nossa bondade e generosidade no sentido de conceder uma nova
oportunidade aos outros que falharam connosco.
Se esperamos a
misericórdia de Deus não podemos esquecer que Ele nos pede a capacidade de
perdoar os outros, de fazer a experiência do perdão, da nova oportunidade, pois
só nesse espirito e dessa forma farão sentido e serão vida as palavras da
oração dominical que rezaremos, “perdoa-nos Senhor como nós perdoamos”.
1 – “O vinhateiro e a figueira”, de James Tissot, Brooklyn Museum.
2 – “Moisés e a sarça ardente”, de Giovanni Antonio Guardi, Dorotheum, Viena.
Quantas oportunidades tivemos? Como as aproveitámos? OU... não olhar para trás, não lamentar o que foi mal e simplesmente olhar o futuro?Inter pars
ResponderEliminarFrei José Carlos,
ResponderEliminarAo ler a Homilia do III Domingo da Quaresma,muito profunda e rica de sentido para a nossa reflexão desta terceira semana da quaresma.Como nos diz S.Paulo aos Coríntios o verdadeiramente importante é o cuidado,é a atenção,como se diz em outras passagens dos Evangelhos é a vigilância,tenta às nossas fragilidades e limitações,às nossas falhas,liberta-nos do orgulho de pensarmos que somos melhores que os outros.
Nesta nossa caminhada quaresmal,neste terceiro domingo,somos assim convidados a olhar a nossa relação com Deus, a perceber a forma pessoal como Deus se relaciona com cada um de nós,como nos convida a uma mudança de vida,a uma conversão para que possa ser cada vez mais íntima e pessoal.
Se esperamos a misericórdia de Deus não podemos esquecer que Ele nos pede a capacidade de perdoar os outros, de fazer a experiência do perdão,da nova oportunidade,pois só nesse espirito e dessa forma farão sentido e serão vida as palavras da oração dominical que rezaremos,"perdoa-nos Senhor como nós perdoamos".
Obrigada,Frei José Carlos,pela maravilhosa partilha,que nos ajuda à nossa reflexão pessoal.Bem-haja.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.Continuação de uma boa semana quaresmal.
Um abraço fraterno.
AD