quarta-feira, 7 de julho de 2010

Os doze Apóstolos

Dizem-nos os Evangelhos que, do grupo de discípulos que o seguia, Jesus escolheu doze, que chamou a si e deu poder de expulsar os demónios e curar as doenças. Parece irrisório e até anedótico quando vemos que pouco antes o mesmo Jesus se tinha dado conta da grandeza do trabalho a fazer e de como eram poucos os trabalhadores para essa seara. Podia perfeitamente ter escolhido mais, porque havia mais gente que o seguia.
Mas Jesus escolheu doze, e deu-lhes poderes especiais para realizar a missão a que os enviava.
Podemos pensar neste número relacionando-o com as doze tribos do povo de Israel, mas podemos e devemos certamente pensar nele à luz do milagre da multiplicação dos pães, à luz da parábola do fermento na massa, porque de facto é isso que estes doze homens são chamados a ser, um fermento no meio da massa dos discípulos e do povo. E portanto não há necessidade de muitos, há apenas necessidade de algo ou alguém que tenha o poder e a capacidade da transformação, do crescimento.
É para nós hoje, e à luz das realidades humanas que compõem a Igreja, mormente na Europa, um desafio, porque sabendo-nos e sentindo-nos também chamados por Jesus, devemos viver essa realidade da dinâmica do fermento no meio da massa.
E se ao grupo dos doze Jesus estabelece uma hierarquia, na qual Pedro é o primeiro e Judas o último porque o traidor, não deixa também de manter as relações pessoais e familiares que há entre aqueles que compõem o grupo, as histórias pessoais de cada um. Assim, encontramos os irmãos lado a lado no seguimento de Jesus, outros que se identificam pela paternidade e outros até pela profissão que exercem ou exerciam antes de seguirem de Jesus.
O seguimento de Jesus, a participação no grupo dos doze, não se faz assim por meio da separação, da segregação ou exclusividade. O seguimento implica a naturalidade, as relações fraternas e familiares, sociais e até políticas. Somos discípulos de Jesus nas “nossas circunstâncias”, para utilizar uma expressão tão querida a Ortega y Gasset. Não há outra maneira de ser, porque de contrário negaríamos o próprio mistério da Encarnação de Jesus, do Filho de Deus. É aqui e agora que podemos e devemos ser discípulos de Jesus, testemunhas da sua Boa Nova, fermento na massa para que ela se transforme em Reino de Deus.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,
    "É aqui e agora que podemos e devemos ser discípulos de Jesus, testemunhas da sua Boa Nova, fermento na massa para que ela se transforme em Reino de Deus."
    Nem sempre "nas nossas circunstãncias", no espaço em que nos movemos,fomos fermento na massa. Como trabalhadores da seara,teremos de estar atentos para não perdermos a oportunidade de o sermos e transformarmos as nossas circunstâncias em Reino de Deus.
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    Obrigada pela meditação de hoje, centrada, na escolha dos doze Apóstolos, sobre a “missão que lhes foi atribuída por Jesus, sobre as relações pessoais e familiares daqueles que compõem o grupo, as histórias pessoais de cada um”, assim como a transposição para os dias de hoje, pela verdade, pela coerência, e pelo realismo que encerra. ... “É para nós hoje, e à luz das realidades humanas que compõem a Igreja, mormente na Europa, um desafio, porque sabendo-nos e sentindo-nos também chamados por Jesus, devemos viver essa realidade da dinâmica do fermento no meio da massa.”…
    ” O seguimento de Jesus, a participação no grupo dos doze, não se faz assim por meio da separação, da segregação ou exclusividade. O seguimento implica a naturalidade, as relações fraternas e familiares, sociais e até políticas. Somos discípulos de Jesus nas “nossas circunstâncias”” …
    Só o seguimento sem rupturas desestruturantes com o passado, com a identidade de cada um de vós, a criação e a manutenção dos laços afectivos, pode permitir de forma verdadeira e sustentada o desenvolvimento da vossa missão como discípulos de Jesus.
    Que Jesus ilumine e abençõe, o Frei José Carlos, e todos os que se sentem como um “instrumento nas mãos de Deus”, “discípulos de Jesus”, a ser “testemunho da sua Boa Nova”, “fermento na massa para que ela se transforme em Reino de Deus.”

    Bem haja, Frei José Carlos. MJS

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