quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Festa de Nossa Senhora do Rosário

A Igreja, e de modo particular a Ordem de São Domingos, celebra hoje a festa de Nossa Senhora do Rosário. Festa instituída em 1572 por uma Bula do Papa Pio V e inicialmente intitulada de Nossa Senhora da Vitória devido à derrota da armada dos turcos pela Liga Católica neste mesmo dia 7 de Outubro em Lepanto no ano de 1571.
É da forma rica e cheia de pormenores bélicos que em 1712 Frei Manuel de Lima, no “Agiológio Dominicano”, descreve o sucedido:
“É já tempo de contarmos o terceiro triunfo, que deu motivo à solenidade do presente dia, e foi a vitória naval no mar de Lepanto, conseguida com a Liga, que fez e afervorou o nosso Pio V.
Tinha o grande imperador Selim tomado tiranamente aos venezianos o reino de Chipre, que havia cem anos possuíam, e quebrado a paz jurada, mandando sitiar Nicósia, por terra e mar, com um terrível exército, roubando as ilhas vizinhas que a Republica tem no arquipélago, com a escravidão de mais de sete mil cristãos. Foi isto no ano de 1570, e no de 71 pôs a mais poderosa armada, que nunca viram os mares, porque, conforme alguns, constava de trezentas galés, que com cento e vinte mil soldados, foram sitiar Famagusta.
O nosso Santo Pontífice, como Pai afectuoso do cristianismo, tratou de pôr remédio a tantos danos e reprimir o orgulho do turco, ligando-se com os Príncipes cristãos contra este comum inimigo. Achou mais dispostos entre todos, o Católico rei Filipe II e a Republica de Veneza. Ajustaram que as galés seriam duzentas e cinquenta navios, com cinquenta mil infantes e quatro mil e quinhentos cavalos ligeiros, dos quais metade correria por conta do monarca das Espanhas e a outra metade se dividiria em três partes, duas por conta dos venezianos, e uma à custa do Papa; e que da presa que se fizesse haveria divisão entre todos da mesma forma.
Nomearam como General da Liga o valoroso D. João de Áustria, filho natural de Carlos V e irmão de Filipe II. General da Igreja, Marco António Colonna; e da Republica de Veneza Barbarigo.
Acharam-se prestes no porto de Messina, no primeiro de Setembro duzentas e oito galés, seis galeotas, vinte navios e mais de sessenta barcos. Saíram do porto a 16 do dito mês e foram dar fundo ao golfo, que chamavam de São João, a esperar notícias da armada inimiga. Constava ela de trezentas galés, e entre elas mais de quarenta reais; e com tudo isto tiveram ânimo os nossos para os investir.
Chamou o Príncipe D. João a conselho os seus capitães e depois de vários pareceres, ajustaram prosseguir a empresa. Saíram com vento contrário duzentas e quatro galés, seis galeotas e quarenta e cinco barcos, e entrando dentro do canal, no domingo de manhã, sete de Outubro, com duas horas de sol, começaram a descobrir a armada inimiga, que logo reconheceram por maior do que publicava a fama. Procuraram sair do estreito e pôr em ordem de peleja sem perder tempo.
Dividiram-se em esquadras e João André Dória tinha a da mão direita, composta de cinquenta e três galés, com galhardetes e bandeiras verdes. Governava o corpo da batalha o Sereníssimo D. João de Áustria e era a sua esquadra composta de sessenta e seus galés, com galhardetes e bandeira de cor de fogo. A esquadra da mão esquerda constava de cinquenta e cinco galés, com galhardetes e bandeiras cor de ouro, e era governada pelo General veneziano Barbarigo. O Marquês de Santa Cruz ia na retaguarda, com trinta galés, de bandeiras e galhardetes brancos, uma milha atrás do corpo da armada. D. João de Cardona com dez galés fazia o ofício de descobridor, com ordem de se incorporar depois à parte mais fraca.
Disposto tudo nesta forma, saiu o Príncipe em um barco animando os soldados, que já se tinham confessado e comungado; e lhes ordenou que rezassem em alta voz o Rosário implorando o patrocínio da Senhora. Repartiram os Agnus Dei bentos pelo Santo Pontífice Pio V para lançarem ao pescoço, e os Comissários publicaram a Indulgência Plenária concedida aos que pelejassem. (….)
Estando as armadas distantes um tiro de canhão, mandou o Príncipe arvorar o estandarte da Liga, bento pelo Santo Pontífice Pio V, no qual estava pintada uma devota imagem de Cristo crucificado. Levantaram as mais galés suas bandeiras, em que se viam imagens da Rainha dos Anjos, e ao aparecerem estas sagradas insígnias, todos os soldados e oficiais se prostraram de joelhos. O Sereníssimo General disse então em voz alta, respondendo os mais com os corações: Peço à Majestade de Deus, que tendo compaixão do seu povo, e não se lembrando das culpas, lhe dê por sua misericórdia vitória de seus inimigos. Dada a bênção pontifícia aos soldados e invocando todos os Santíssimos nomes de Jesus e Maria fizeram o sinal costumado para o conflito. (….)
Foi esta vitória milagrosa concedida ao cristianismo por intercessão da Imperatriz do Céu, e por meio do seu Santíssimo Rosário; pois sendo invocada na armada pelos soldados, e em todo o mundo pelos cristãos, que naquela hora em ponto faziam as costumadas procissões do primeiro domingo do mês, a ela e a esta devoção se atribuiu todo o bom sucesso, felicidade da Igreja e seus católicos.
Assim foi revelado ao Santo Pontífice Pio V, a quem o Senhor manifestou tudo em Roma, na mesma hora em que sucedeu no Mar de Lepanto, como fica dito na sua vida no 1 de Maio. Por esta causa ordenou se solenizasse para sempre este dia, com o título de Santa Maria da Vitória, que depois confirmou Gregório XIII, seu sucessor, atribuindo o triunfo ao Santíssimo Rosário. Gregório XIII decretou se solenizasse no primeiro domingo deste mês”.[1]
[1] LIMA, Frei Manuel de – Agiológio Dominico, TomoQuarto, Lisboa Oficina de António Pedrozo Galram, 1712, 54-55.

1 comentário:

  1. Quisiera contactar con Vd, padre. Soy dominico seglar español y estudio el Rosario y sus cofradías. Puede visitar mi web: www.rosarioensevilla.org

    ResponderEliminar