Passados quarenta dias
sobre o nascimento de Jesus celebramos a Festa da Apresentação de Jesus no
Templo. Maria e José sobem a Jerusalém para cumprir o que estava estipulado na
Lei de Moisés, a consagração daquele que era o primeiro filho e a purificação
daquela que tinha dado à luz.
É um acontecimento que
não pode deixar de ser visto e lido à luz da construção teológica da narração
evangélica, pois, ainda que estivesse estipulado a consagração do primeiro
filho e o rito da purificação da mãe, nada na Lei obrigava a subida a Jerusalém
para o cumprimento de tal rito e consagração.
A apresentação de
Jesus no templo, ainda que enquadrada nos preceitos legais e rituais, é assim
uma espécie de metáfora, como que um prólogo carregado de imagens que
sintetizam a vida e o mistério de Jesus.
Neste sentido, a
oferta e consagração de Jesus no templo de Jerusalém apela inequivocamente para
a consagração e a entrega de Jesus na cruz, é como se um processo se iniciasse
para ter a sua conclusão nas palavras “Pai nas tuas mãos entrego o meu
espirito”. O que aqui se inicia segundo a Lei vai concluir-se de acordo com a
vontade livre daquele que entrega e consagra a sua vida ao Pai.
Por outro lado, a
apresentação de Jesus no templo representa também a oblação perfeita, a oblação
agradável como profetizava Malaquias que escutámos na primeira leitura, uma
oblação que não pode ser obtida pelo sacrifício de touros e carneiros, mas pelo
próprio Filho quando se entrega na cruz no momento em que os cordeiros da
Páscoa são sacrificados.
A apresentação de
Jesus no templo é ainda a manifestação do sacerdócio de Jesus, um sacerdócio
que nunca será exercido no templo edificado por mãos humanas, mas que será
exercido pela fidelidade ao amor de Deus, à misericórdia divina. Ao ser
apresentado no templo Jesus toma de certa forma posse da casa de Deus, o que
lhe permite doze anos mais tarde dizer a José e Maria que era sua obrigação
olhar pela casa de seu Pai.
Nesta metáfora
poliédrica que é a apresentação de Jesus no templo não podemos esquecer que ela
significa ainda o encontro de Deus com o homem, pois no momento da apresentação
deparamos com o velho Simeão que vem ao encontro de Jesus, que é trazido pelo Espirito
Santo para se encontrar com aquele que esperava, e com a profetiza Ana que não
deixa de anunciar a todos o que tinha descoberto naquele menino.
Simeão, que o texto
nos apresenta como um homem justo e piedoso, representa o povo de Israel, bem
como toda a humanidade, que apesar das dificuldades não se cansava de esperar a
salvação, a vinda do Messias. Por seu lado, Ana representa o povo que face ao
encontro e ao conhecimento daquele que é o Salvador não cessa de o anunciar e
apresentar aos outros como salvação.
Simeão e Ana traduzem
assim, no acontecimento da apresentação de Jesus, o encontro da bondade de Deus
com as expectativas da humanidade, a espera confiante e diligente do homem, bem
como a urgência de anunciar e partilhar com os outros a alegria do tesouro
encontrado.
Estas atitudes definem
de certa forma os consagrados que nesta festa da Apresentação de Jesus a Igreja
recorda e apresenta como experiência radical do seguimento de Jesus.
Contudo, não podemos
esquecer que os consagrados no seu desejo intenso de ver Deus e na perseverança
da sua oração e missão são para todos nós memória e apelo do dom do encontro
com Deus, são um convite à renovação pessoal e comunitária do desejo de seguir
Jesus, de lhe ser fiel, e de o levar a todos os homens. Se os consagrados
anunciam o dom de Deus aos homens, o fazem presente e visível, é para que cada
um de nós o tenha presente e renove em si próprio esse mesmo espirito de dom.
Ao celebrarmos nesta
Festa da Apresentação de Jesus os trinta e cinco anos desta paróquia de Cristo
Rei é bom recordar os consagrados que já por aqui passaram e procuraram
testemunhar a alegria do encontro com o Senhor. Contudo, não podemos deixar de
salientar que estes trinta e cinco anos de história são também uma experiência do
encontro com Cristo, de que a Eucaristia comunitária é a expressão mais concreta
e dinâmica, mais realizadora e potenciadora.
Em cada Eucaristia Deus
vem uma vez mais ao nosso encontro, aqui e agora, na Palavra que escutámos, no
Pão da Vida que comungamos e na nossa relação fraterna e amiga Deus vem ao
nosso encontro.
As velas que
abençoámos e acendemos no início da nossa Eucaristia e que cada um vai levar
consigo é um sinal da luz deste encontro com Deus que hoje celebramos, luz que
necessita chegar a todos os povos e a todas as realidades que ainda estão
distantes do amor salvífico de Deus, e que nos compete iluminar.
Que nos deixemos guiar
pelo Espirito Santo nesta missão de levar a luz de Cristo tal como Simeão se
deixou guiar até ao templo de Jerusalém.
Que continue a anunciar o dom de Deus aos homens, com tal convicção que eles não possam deixar
ResponderEliminarde O ter presente e de renovar esse espírito de dom, é o desejo de todos e cada um de nós, hoje e sempre. Inter Pars
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarO texto da Homilia da Festa da Apresentação do Senhor que teceu é profundo, multifacetado, levando-nos a compreender para além do facto histórico do cumprimento da Lei que naquela data não era necessário. Permita-me que respigue algumas passagens que me tocam.
Como nos salienta …”A apresentação de Jesus no templo é ainda a manifestação do sacerdócio de Jesus, um sacerdócio que nunca será exercido no templo edificado por mãos humanas, mas que será exercido pela fidelidade ao amor de Deus, à misericórdia divina. (…)
(…) Nesta metáfora poliédrica que é a apresentação de Jesus no templo não podemos esquecer que ela significa ainda o encontro de Deus com o homem, pois no momento da apresentação deparamos com o velho Simeão que vem ao encontro de Jesus, que é trazido pelo Espirito Santo para se encontrar com aquele que esperava, e com a profetiza Ana que não deixa de anunciar a todos o que tinha descoberto naquele menino.”…
O exemplo de Simeão e de Ana que souberam acolher o Espírito Santo, a sua fé, e a confiança na esperança deviam inspirar-nos e servir-nos de exemplo, que se revelam como ... “a espera confiante e diligente do homem, bem como a urgência de anunciar e partilhar com os outros a alegria do tesouro encontrado.”…
Nesta festa que é também acção de graças pela vida consagrada, como nos recorda …”Se os consagrados anunciam o dom de Deus aos homens, o fazem presente e visível, é para que cada um de nós o tenha presente e renove em si próprio esse mesmo espirito de dom.”…
Saibamos como nos exorta … “deixar guiar pelo Espirito Santo nesta missão de levar a luz de Cristo tal como Simeão se deixou guiar até ao templo de Jerusalém.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homilia, profunda, que nos conduz a uma longa reflexão, a olhar mais atentamente o que nos rodeia com os olhos de Deus, a deixar entrar e guiar-nos pelo Espírito Santo. Bem-haja. Que o Senhor o ilumine e o cumule de todas as bençãos.
Bom início de semana.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva