sábado, 8 de agosto de 2009

Festa de São Domingos

A Ordem dos Pregadores, ou Dominicanos como também somos conhecidos, celebra hoje a festa do seu fundador São Domingos de Guzman.
Neste espaço, fazendo memória do nosso fundador e daqueles que o seguiram e nos precederam apresentamos o início de um Sermão pregado no Convento do Porto em 4 de Agosto de 1728 por frei Francisco de Mello, frade dominicano, Consultor Teólogo da Bula da Cruzada, Lente de Moral da Catedral do Porto e formado em Teologia pela Universidade de Coimbra.

Para ilustrar este texto e festa apresentamos uma imagem da estátua de São Domingos que se encontra na Capela de São Gonçalo de Amarante do antigo Convento de São Domingos de Benfica. É uma peça belissima do Barroco romano do século XVII, atribuida ao escultor Ercole Ferrata e trazida par Portugal e para a sua capela sepulcral por D. Frei Manuel Pereira, frade dominicano, Vigário Geral da Ordem em 1670, 1º Bispo do Rio de Janeiro, Secretário do Rei D. Pedro II e Consultor do Santo Oficio.


SERMÃO DE FREI FRANCISCO DE MELLO
Vos estis lux mundi. Matth. 5
O elevado objecto, que nesta hora ocupa as decorosas atenções deste nobilíssimo, e religiosíssimo congresso, é o esclarecido Patriarca, São Domingos de Gusmão, Pai e Preclaríssimo Príncipe dos Pregadores, timbre singular, e especial brasão, com que a Santidade de Gregório IX, soberanamente o distinguiu, entre os ínclitos Heróis, com que a Igreja Católica se exalta: Dominicus Dux, & Pater inclitus in populu Deis factus, novum Praedicatorum Ordinem instituit.[1]
A este grande Patriarca pois, aplica a Igreja no Evangelho, que hoje se canta, aquele honorifico titulo de luz do mundo, que Cristo Senhor nosso deus aos Varões Apostólicos: Vos estis lux mundi. Mas como este título é um nome genérico, que compreende em si as luzes de todos os Planetas, a do Sol, Lua, e Estrelas: é preciso, que examinemos, a qual deles se devem assemelhar nos luzimentos os Varões Apostólicos, ou luzes evangélicas. Da Escritura Sagrada consta, que estas hão-de ser como de estrelas: Qui ad justitiam erudiunt multos quasi stellae in perpetuas aeternitates.[2] E deve ser a razão, porque assim como as estrelas nem têm diminuições como a Lua, nem padecem eclipses, como o Sol, também as Luzes Evangélicas, nem hão-de diminuir, nem se hão-de eclipsar. E com este fundamento foi dizer o meu Cardeal Hugo, que convém se pareçam as Luzes Evangélicas com as estrelas: Oportet quod sint stellae.[3] E Cornélio Alapide diz também, que às estrelas se devem, assemelhar as Luzes Evangélicas: Insignes Evangelii Praecones sunt stellae.[4]
E se estas devem ser dos Varões Apostólicos, ou Luzes Evangélicas, as suas semelhanças: notem agora, como vem próprio para São Domingos de Gusmão este assunto. A Sibila Eritreia, que floresceu mil e trezentos anos antes da vinda de Cristo, depois de ter vaticinado o mistério altíssimo da Encarnação do Verbo Divino, no nascimento de um Sol, profetizou o de São Domingos no símbolo de uma estrela, que havia, de nascer em Espanha, e daí encher de luzes a todo o mundo.[5] A Sibila Erifile, que floresceu segundo a conta de Santo Agostinho, no tempo de Rómulo, quase dois mil anos antes de São Domingos existir: depois de profetizar os progressos de São Paulo no mundo, vaticinou o nascimento de São Domingos, simbolizando-o em uma estrela.[6]
O Venerável Joaquim Abade, que floresceu no século antecedente, ao em que a luz de São Domingos brilhou, também vaticinou o seu nascimento, no mesmo símbolo de uma estrela, que nasceria no Ducado de Espoleto território de Espanha, para pregar de novo o Evangelho, conta a seita dos Patarenos, a qual, segundo Espondano, teve princípio no ano de 1198.[7] Foi facção Valdense, raiz de seita Albigense, a que São Domingos se opôs em defensa da Igreja: levando a glória de ser o valeroso David, que prostrou aquele monstruoso gigante. Não faltou o céu, em manifestar o sólido, e verdadeiro de tão prodigiosos anúncios; porque quando São Domingos se baptizou, lhe divinizaram na testa uma resplandecente estrela: Stella micans in fronte parvuli. E com este fundamento lhe deu a Igreja o título de estrela: Novum sidus exoritur.[8]
[1] Greg 9, in Bull. Can.
[2] Daniel. 12.
[3] Hug. hic.
[4] Alap. hic.
[5] Bern. de Bust. I. p. Rosarii ter 14. L.O.
[6] Seraf. Thom. Vida de S. Doming. f. 529.
[7] Espondau. an 1198.
[8] Eccles in Officio.

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