Depois de nos últimos domingos termos escutado leituras do Capítulo sexto do Evangelho de São João, hoje retomamos a leitura do Evangelho de São Marcos, o Evangelho base deste ano litúrgico.
E se nas leituras do Evangelho de São João as palavras de Jesus se centravam sobre a alimentação, muito particularmente sobre o alimento que Ele tinha para dar aos seus discípulos, hoje e neste episódio do Evangelho de São Marcos a comida continua a ser o centro das atenções. Desta feita o problema em causa é a forma como se come, as questões higiénicas e rituais que rodeavam o gesto de comer.
Encontramos assim um litígio de Jesus com os fariseus sobre as tradições rituais que se deviam cumprir no momento da alimentação. Tradições desenvolvidas no âmbito da interpretação oral da lei que tinham recebido de Deus, mas que se tinham tornado mais importantes e significativas que a própria lei que lhe dera origem.
Para nós hoje, e face à apreensão de uma possível pandemia de gripe, a questão higiénica colocada pelos fariseus a Jesus é de todo aceitável e até obrigatória. Não criticaremos os fariseus pelas suas preocupações e cuidados higiénicos, nem pelo facto de serem gestos que se inserem em antigas tradições herdadas dos seus antepassados.
E não podemos pensar que a crítica de Jesus, ou o incumprimento das regras higiénicas por parte dos seus discípulos, são sinal de um desleixo e falta de higiene pessoal e comum. Portanto que são atitudes criticáveis e condenáveis.
Neste litígio apresentado por São Marcos a questão ritual e o incumprimento por parte de Jesus e dos seus prende-se com uma ideia religiosa que ultrapassa em muito a questão higiénica e alimentar. Estas práticas e ritos eram formas de preservar a identidade do povo eleito, estavam imbuídas de uma ideia preconceituosa de exclusão de todos os outros que não as praticavam. Ao cumprir-se estes rituais de limpeza e purificação preservava-se o estatuto do povo como povo sacerdotal, como povo destinado a prestar um culto puro e perfeito a Deus.
Jesus tem presente este preconceito, esta concepção, e socorrendo-se do profeta Isaías denuncia a ambiguidade destes mesmos rituais mostrando aos fariseus e ao povo que o escutava que aqueles preceitos não passavam de preceitos humanos, nada tinham de divino ou religioso pois não conseguiam realizar o que verdadeiramente realiza um rito ou gesto religioso, a ligação com Deus.
A prática de lavar as mãos e os pés, o copo e o prato, e tantos outros gestos rituais, não eram mais que sinais delimitativos da fronteira entre os judeus e os não judeus, entre o povo escolhido e o que tinha sido rejeitado. Jesus que se sentia e sabia como enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, a todos os excluídos, não podia aceitar nem pactuar com estes ritos de exclusão, apenas os podia condenar e superar através do incumprimento. Ele não podia aceitar que Deus fosse envolvido em questões de segregação e separação, Ele que vinha para todos os homens de boa vontade.
Terminada a discussão com os fariseus Jesus dedica-se então à formação na verdade daqueles que o escutavam, e entre eles dos seus discípulos que comiam sem se purificarem. Fora do homem não há nada que seja impuro, que possa tirar o homem da sua condição de pureza. É o que nasce no coração do homem que o torna impuro e pode contaminar as coisas que estão nele e fora dele.
Esta centralização da pureza no coração do homem é extremamente importante para Jesus, que de uma forma velada se faz eco da profecia de Ezequiel. O coração do homem é que é o verdadeiro lugar de habitação de louvor de Deus. O coração do homem é o templo no qual habita Deus e por isso só aí verdadeiramente pode haver pureza, se pode procurar a pureza.
Ezequiel diz na sua profecia que Deus derramará uma água pura sobre o coração do homem e que desde esse momento o homem deixará o seu coração de pedra para se encontrar com o seu coração de carne. A pureza é desta forma algo que está fora do controlo do homem, das suas acções ou rituais de purificação, é uma acção de Deus que ocorre no íntimo do coração do homem.
Para nós cristãos esta purificação aconteceu no momento do baptismo, quando fomos purificados com a água do lado de Cristo, essa água que manou do seu peito aberto no momento da morte na cruz. Desde esse momento estamos purificados no nosso coração e qualquer pensamento imoral, perversão ou vício que possa nascer em nós é uma adulteração e violação desta pureza alcançada, é uma ofensa a Deus e à força do Espírito Santo que habita em nós e que alcançámos também no momento do baptismo, pois juntamente com a água do lado jorrou o sangue da Vida do Senhor.
Peçamos por isso ao Senhor que continue a purificar o nosso coração com a sua graça, através da força do Espírito Santo, e que nós através da escuta da sua Palavra e do seu acolhimento humilde, sejamos cada vez mais capazes de ir espelhando por meio da caridade a pureza que há em nós.
E se nas leituras do Evangelho de São João as palavras de Jesus se centravam sobre a alimentação, muito particularmente sobre o alimento que Ele tinha para dar aos seus discípulos, hoje e neste episódio do Evangelho de São Marcos a comida continua a ser o centro das atenções. Desta feita o problema em causa é a forma como se come, as questões higiénicas e rituais que rodeavam o gesto de comer.
Encontramos assim um litígio de Jesus com os fariseus sobre as tradições rituais que se deviam cumprir no momento da alimentação. Tradições desenvolvidas no âmbito da interpretação oral da lei que tinham recebido de Deus, mas que se tinham tornado mais importantes e significativas que a própria lei que lhe dera origem.
Para nós hoje, e face à apreensão de uma possível pandemia de gripe, a questão higiénica colocada pelos fariseus a Jesus é de todo aceitável e até obrigatória. Não criticaremos os fariseus pelas suas preocupações e cuidados higiénicos, nem pelo facto de serem gestos que se inserem em antigas tradições herdadas dos seus antepassados.
E não podemos pensar que a crítica de Jesus, ou o incumprimento das regras higiénicas por parte dos seus discípulos, são sinal de um desleixo e falta de higiene pessoal e comum. Portanto que são atitudes criticáveis e condenáveis.
Neste litígio apresentado por São Marcos a questão ritual e o incumprimento por parte de Jesus e dos seus prende-se com uma ideia religiosa que ultrapassa em muito a questão higiénica e alimentar. Estas práticas e ritos eram formas de preservar a identidade do povo eleito, estavam imbuídas de uma ideia preconceituosa de exclusão de todos os outros que não as praticavam. Ao cumprir-se estes rituais de limpeza e purificação preservava-se o estatuto do povo como povo sacerdotal, como povo destinado a prestar um culto puro e perfeito a Deus.
Jesus tem presente este preconceito, esta concepção, e socorrendo-se do profeta Isaías denuncia a ambiguidade destes mesmos rituais mostrando aos fariseus e ao povo que o escutava que aqueles preceitos não passavam de preceitos humanos, nada tinham de divino ou religioso pois não conseguiam realizar o que verdadeiramente realiza um rito ou gesto religioso, a ligação com Deus.
A prática de lavar as mãos e os pés, o copo e o prato, e tantos outros gestos rituais, não eram mais que sinais delimitativos da fronteira entre os judeus e os não judeus, entre o povo escolhido e o que tinha sido rejeitado. Jesus que se sentia e sabia como enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, a todos os excluídos, não podia aceitar nem pactuar com estes ritos de exclusão, apenas os podia condenar e superar através do incumprimento. Ele não podia aceitar que Deus fosse envolvido em questões de segregação e separação, Ele que vinha para todos os homens de boa vontade.
Terminada a discussão com os fariseus Jesus dedica-se então à formação na verdade daqueles que o escutavam, e entre eles dos seus discípulos que comiam sem se purificarem. Fora do homem não há nada que seja impuro, que possa tirar o homem da sua condição de pureza. É o que nasce no coração do homem que o torna impuro e pode contaminar as coisas que estão nele e fora dele.
Esta centralização da pureza no coração do homem é extremamente importante para Jesus, que de uma forma velada se faz eco da profecia de Ezequiel. O coração do homem é que é o verdadeiro lugar de habitação de louvor de Deus. O coração do homem é o templo no qual habita Deus e por isso só aí verdadeiramente pode haver pureza, se pode procurar a pureza.
Ezequiel diz na sua profecia que Deus derramará uma água pura sobre o coração do homem e que desde esse momento o homem deixará o seu coração de pedra para se encontrar com o seu coração de carne. A pureza é desta forma algo que está fora do controlo do homem, das suas acções ou rituais de purificação, é uma acção de Deus que ocorre no íntimo do coração do homem.
Para nós cristãos esta purificação aconteceu no momento do baptismo, quando fomos purificados com a água do lado de Cristo, essa água que manou do seu peito aberto no momento da morte na cruz. Desde esse momento estamos purificados no nosso coração e qualquer pensamento imoral, perversão ou vício que possa nascer em nós é uma adulteração e violação desta pureza alcançada, é uma ofensa a Deus e à força do Espírito Santo que habita em nós e que alcançámos também no momento do baptismo, pois juntamente com a água do lado jorrou o sangue da Vida do Senhor.
Peçamos por isso ao Senhor que continue a purificar o nosso coração com a sua graça, através da força do Espírito Santo, e que nós através da escuta da sua Palavra e do seu acolhimento humilde, sejamos cada vez mais capazes de ir espelhando por meio da caridade a pureza que há em nós.
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