À medida que nos vamos
aproximando da celebração da Páscoa, nesta caminhada quaresmal, as leituras da
Palavra de Deus e nomeadamente o Evangelho vão-nos introduzindo na radicalidade
do mistério que celebraremos.
Neste sentido a
leitura do Evangelho de São João, confirmada pela leitura da Epístola aos
Hebreus, apresenta-nos esse grande desafio que representou para Jesus, como
representa para cada um de nós, o cumprimento da vontade do Pai, a obediência.
É inquestionável que o
Filho enquanto Verbo estava em plena e total sintonia com o projecto salvífico
do Pai, criador de toda a humanidade. O Filho fez-se homem por sua vontade e
liberdade, pelo seu amor divino, para reconduzir os homens ao seio do Pai.
Contudo, ao fazer-se
homem assumiu também a liberdade humana, essa liberdade que lhe permitia, como
permite a cada um de nós, anuir ou rejeitar o projecto de Deus, e que em
determinados momentos foi colocada à prova.
O episódio que o
Evangelho de São João nos relata neste domingo foi para Jesus a confirmação que
a sua obediência, a sua adesão ao projecto de Deus, ia ser consumada, realizada
plenamente. A chegada dos gregos, e o seu desejo de verem Jesus, manifestava
que a missão de Jesus estava a chegar ao fim, alcançava a sua hora como tão bem
o Evangelho nos indica.
A bem da verdade, não
podemos deixar de ter presente que este desafio e este combate entre a vontade
divina e a vontade humana esteve sempre presente na vida de Jesus, e se para
nós é mais fácil recordar o momento das tentações no deserto como confronto com
a tentação de não ser fiel, não podemos deixar de ter presente também o momento
do encontro de Jesus no templo quando tinha doze anos.
Já nessa altura se colocava
a questão da fidelidade e da obediência, e por isso vemos Jesus responder a
Maria que deveriam já saber que o seu lugar e a sua missão era estar na casa de
seu Pai, cuidar da casa de seu Pai. O baptismo por João no rio Jordão é outro
momento de submissão, de completo assumir da vontade do Pai, pois Jesus desce
ao rio como a humanidade pecadora, sem que tivesse necessidade disso, para
poder resgatar a humanidade com o seu baptismo de penitência.
E são estas submissões,
esta consonância da vontade e liberdade humanas com a vontade e o plano divino
que conduzem à confirmação divina expressa nessa voz que se faz ouvir do alto
tanto no momento do baptismo, como na transfiguração e neste momento do encontro
com os gregos.
Face ao compromisso da
vontade humana com a vontade divina Deus Pai confirma o seu projecto, o seu
amor e fortalece o Filho na sua vontade humana para levar a cabo a missão que
tinha assumido desde o princípio.
Diante destes
acontecimentos, percebemos que a obediência que Jesus vive e que Deus Pai pede
não é uma obediência submissa, cega, passiva, mas uma obediência activa, iluminada,
poderíamos dizer dialogante.
Diante deste
acontecimento, e desta obediência, somos também nós desafiados a vivê-la, e de
uma forma completamente nova, livre, não como uma lei que se nos impõe desde
fora, mas como uma lei que está no nosso coração e procuramos fazer vida.
Tal como escutávamos
na promessa feita a Jeremias, realizada em cada um de nós pelo baptismo, o
Senhor imprimiu já no nosso coração essa lei que nos faz reconhecer que não só somos
povo de Deus mas de modo mais significativo e pleno somos filhos de Deus.
Deste modo somos um
povo e filhos que já não necessitam ser instruídos no que devem fazer, mas que
vivem o que sabem, porque desde o coração têm conhecimento do que lhes foi
oferecido com amor e confiança pelo Pai.
E na medida em que o
vivermos, em que a nossa adesão for cada vez mais completa, na nossa liberdade,
receberemos da parte de Deus Pai a confirmação do seu amor, que é a graça e a
força do Espirito Santo para prosseguir com fidelidade e segurança.
Nesta caminhada de preparação
para a celebração da Páscoa, o Senhor Deus vem assim ao nosso encontro neste
quinto domingo da Quaresma, confirmando-nos nos passos que ainda certamente
vacilantes demos, mas que partindo do coração estão em plena sintonia com a
vontade de Deus.
Procuremos pois
continuar a caminhar com confiança, confirmados pela Palavra do Senhor que não
abandona nem desamara aqueles que o procuram e lhe são fiéis.
“Mãe apresentando os filhos a Jesus”, de Mattia Preti, Pinacoteca de Brera, Milão.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi com muito interesse a Homilia do V Domingo da Quaresma,que nos dá força para prosseguirmos a nossa caminhada quaresmal.Como nos diz o Frei José Carlos..."Procuremos pois continuar a caminhar com confiança,confirmados pela Palavra do Senhor que não abandona nem desampara aqueles que o procuram e lhe são fieis.Obrigada,Frei José Carlos,maravilhosa Meditação profunda e pela bela ilustração.Que o Senhor o ilumine o guarde e o abençoe.Votos de uma boa semana,com paz e alegria.Bem-haja.
Um abraço fraterno.
AD