segunda-feira, 10 de abril de 2017

Maria ungiu os pés de Jesus com perfume. (Jo 12,3)

Seis dias antes da Páscoa Jesus encontra-se em Betânia, é convidado da casa de Marta, Maria e Lázaro. Uma vez mais regressa à casa dos amigos, onde sabe que pode repousar, que se pode fortalecer com a amizade que lhe tributam. Os discípulos, íntimos da família estão também ali.
Durante a refeição que é servida aos convidados e amigos, Maria vem até junto de Jesus, ajoelha-se ao seu lado, e sem que ninguém o pudesse prever começa a ungir os pés do Mestre e Amigo. Surpresa geral e até um olhar de escândalo, Judas queixa-se do desperdício, afinal com o dinheiro gasto com aquele perfume podia alimentar-se os pobres.
Mas Maria sabe muito bem o que faz, da intimidade da escuta de Jesus, percebeu que é no tempo presente que podemos e devemos cuidar daqueles que futuramente serão defuntos. É no tempo presente, no aqui e no agora, enquanto estão vivos que convém amá-los, que convém perfumá-los, cuidar do seu corpo divinamente.
Celebrando desta forma requintada o corpo do Senhor, ungindo Jesus com um perfume de alto preço, Maria anuncia profeticamente que o corpo não está destinado à destruição, anuncia a ressurreição, anuncia a habitação divina no corpo de cada homem e mulher.
Num outro encontro, há já algum tempo, uma mulher da Samaria tinha perguntado a Jesus sobre o lugar onde se deveria adorar a Deus. Maria, irmã de Lázaro, responde-lhe neste gesto desmesurado da unção dos pés de Jesus, nesta atitude de prostração aos pés do amigo.
Horas mais tarde o próprio Jesus vai repetir a cena, não ungindo os pés dos discípulos, mas também ele inclinando-se aos pés de cada um para os lavar, para os libertar do pó da terra e confiar-lhes a graça divina, a participação na sua glória. O gesto de Jesus ao lavar os pés aos discípulos confirma o gesto e a unção de Maria em Betânia, o templo de Deus é a carne do homem, é o homem vivo.
Face a estes gestos de Maria e de Jesus não podemos deixar de olhar para a nossa vida, para os nossos gestos e tentar perceber como eles são ou não gestos de unção, gestos que perfumam a vida daqueles com que nos cruzamos. Não se trata de saber se somos melhores ou piores que os outros, se somos exemplares nas nossas atitudes, mas de perceber se compreendemos verdadeiramente que o corpo do homem e da mulher é habitação de Deus, é templo do Espirito Santo.
Se o compreendermos verdadeiramente trataremos o corpo do outro com um respeito e uma doçura infinitas, quer no assento do transporte público quer na intimidade dos lençóis de linho, quer na cadeira do tribunal quer na cama do bloco cirúrgico. O cuidado e o respeito serão manifestações de que acreditamos que a morte não tem a última palavra sobre nós, sobre o nosso corpo. Ele ressuscitará uma vez que é habitado por Deus.

 
Ilustração:
“Maria ungindo os pés de Jesus”, de Daniel Gerhartz.     

2 comentários:

  1. " A morte não tem a última palavra sobre nós". Realmente precisamos de acreditar nisto, verdadeiramente, para que os nossos gestos sejam testemunho desta realidade.Aproveitemos estes últimos dias para preparar a Ressurreição. Inter pars

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  2. Grata,Frei José Carlos pelas suas palavras tão profundas,como nos diz no texto,se o compreendermos verdadeiramente trataremos o corpo do outro com um respeito e uma doçura infinitas.O cuidado e o respeito serão manifestações de que acreditamos que a morte não tem a última palavra sobre nós,sobre o nosso corpo.Ele ressuscitará uma vez que é habitado por Deus.Obrigada,Frei José Carlos por esta maravilhosa partilha,que nos ajuda a refletir com mais profundidade nesta semana muito especial.Que o Senhor o ilumine e o proteja.Gostei muito das suas palavras profundas e também da ilustração.Bem-haja.Desejo-lhe uma boa semana Santa.
    Um abraço fraterno.
    AD

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