Celebramos neste domingo a Santíssima Trindade, mistério central da nossa fé, mas simultaneamente mistério desconcertante para a nossa racionalidade. Como é possível que Deus, que o nosso Deus, seja um e ao mesmo tempo três, seja um único Deus em três pessoas distintas?
Na análise mais básica, de índole psicológica ou psiquiátrica, parece que estamos diante de um processo complexo de esquizofrenia, alguém que se desdobra em personalidades para realizar a sua existência. Contudo, e não sendo um processo de esquizofrenia, é de facto um processo de revelação pessoal, da revelação do ser de Deus.
Deus que se revela a Moisés como aquele que é, o Deus dos pais, o Deus Pai que se compadece dos seus filhos, dos seus eleitos e os socorre no momento de aflição e angústia. Deus que se revela novamente e novamente resgatando da aflição e da morte quando encarna em Jesus Cristo, aquele que é Filho e um com o Pai. Deus que se revela em línguas de fogo no dia de Pentecostes e é a memória projectora do amor do Pai e do Filho.
Este é o mistério, ou melhor, a imagem do mistério que nos é possível e dado contemplar e compreender, porque como diz Santo Agostinho nas suas “Confissões”, “rara é a alma que falando da Trindade sabe o que diz, pois ninguém é capaz de compreender mistério tão profundo”. Contudo, e ainda assim, apesar da inacessibilidade e incompreensibilidade, é possível falar das imagens que a revelação nos transmitiu e nos permitem uma aproximação ao mistério.
A primeira dessas imagens é a da paternidade. Deus revela-se como Pai, não só porque tem um Filho, mas porque é fonte e origem de tudo o criado, é Pai de toda a obra da criação. E no coração de qualquer homem, mais sublinhada ou mais difusa, a paternidade está presente, habita esse desejo de gerar uma vida, de criar uma obra para a eternidade. No coração de todo o homem habita essa faísca geradora e criadora da paternidade divina e por isso é possível compreender Deus como Pai. Todos herdamos da sua paternidade.
A outra imagem é a da verdade, a da revelação da verdade. Há algo inato no homem que propicia a verdade e por isso se começa bem cedo a dizer às crianças que devem dizer sempre a verdade. Ainda que depois os adultos sejam suficientemente infiéis a este conselho. Mas há uma verdade que buscamos, que esperamos, uma verdade às vezes indefinida, mas que nos foi revelada em Jesus Cristo de uma forma muito concreta e por isso até inaceitável. A verdade de Jesus Cristo é a verdade da humanidade, da sua potencialidade divina e por essa razão é tão frequentemente rejeitada. De cada vez que negamos verdade da humanidade negamos a verdade da divindade.
A terceira imagem da Trindade é a do dom do amor, a da paixão que como a pomba tem asas para elevar o homem sobre as suas próprias limitações e mesquinhezes. O amor eleva-nos, aquece-nos como um fogo, faz-nos brilhar como as estrelas mais luzentes da noite escura, faz com que Deus aconteça e se realize em nós.
Apesar de tudo isto o mistério continua inacessível, desconhecido, e cada vez mais indizível, pois na medida em que nos afastamos da nossa condição humana fazemos com que seja cada vez menos possível dizer o mistério de Deus uno em três pessoas distintas.
Hoje muitas crianças e jovens não sabem o que é um pai, o que significa a paternidade. E não é porque sejam órfãos, bem pelo contrário, frequentemente têm até mais que um pai. Muitas destas mesmas crianças e jovens não sabem onde está a verdade, o que ela significa, pois a mensagem que lhes entra pelos olhos e pelos ouvidos é que vale tudo para se atingir os fins, mesmo a negação da sua consciência. E quando o amor é apenas uma satisfação dos seus desejos físicos, uma compensação do vazio relacional, como poderão experimentar o dom do amor, a elevação jubilosa provocada pela entrega e pela dádiva de si próprio?
Somos seres criados à imagem de Deus, ou seja à imagem da Trindade; de cada vez que atentamos contra a nossa humanidade, contra esta imagem de Deus, atentamos conta a Trindade e a sua possibilidade de revelação e compreensão. É necessário refazer o homem, a verdade da humanidade, para se poder traçar de novo o caminho para a Trindade e para o seu conhecimento e compreensão.
Tal graça só nos pode ser dada pela própria Trindade, pelo próprio Deus. Peçamos-lhe assim como pedia Santa Teresa do Menino Jesus: “Ó Face adorável de Jesus, única Beleza que arrebata o meu coração, digna-te imprimir em mim a tua divina semelhança, para que não possas olhar a alma da tua pequena esposa sem Te contemplares a Ti mesmo”[1].
[1] SANTA TERESA DO MENINO JESUS – Oração 16, in Obras Completas. Paço de Arcos, Edições Carmelo, 1996, 1091.
Na análise mais básica, de índole psicológica ou psiquiátrica, parece que estamos diante de um processo complexo de esquizofrenia, alguém que se desdobra em personalidades para realizar a sua existência. Contudo, e não sendo um processo de esquizofrenia, é de facto um processo de revelação pessoal, da revelação do ser de Deus.
Deus que se revela a Moisés como aquele que é, o Deus dos pais, o Deus Pai que se compadece dos seus filhos, dos seus eleitos e os socorre no momento de aflição e angústia. Deus que se revela novamente e novamente resgatando da aflição e da morte quando encarna em Jesus Cristo, aquele que é Filho e um com o Pai. Deus que se revela em línguas de fogo no dia de Pentecostes e é a memória projectora do amor do Pai e do Filho.
Este é o mistério, ou melhor, a imagem do mistério que nos é possível e dado contemplar e compreender, porque como diz Santo Agostinho nas suas “Confissões”, “rara é a alma que falando da Trindade sabe o que diz, pois ninguém é capaz de compreender mistério tão profundo”. Contudo, e ainda assim, apesar da inacessibilidade e incompreensibilidade, é possível falar das imagens que a revelação nos transmitiu e nos permitem uma aproximação ao mistério.
A primeira dessas imagens é a da paternidade. Deus revela-se como Pai, não só porque tem um Filho, mas porque é fonte e origem de tudo o criado, é Pai de toda a obra da criação. E no coração de qualquer homem, mais sublinhada ou mais difusa, a paternidade está presente, habita esse desejo de gerar uma vida, de criar uma obra para a eternidade. No coração de todo o homem habita essa faísca geradora e criadora da paternidade divina e por isso é possível compreender Deus como Pai. Todos herdamos da sua paternidade.
A outra imagem é a da verdade, a da revelação da verdade. Há algo inato no homem que propicia a verdade e por isso se começa bem cedo a dizer às crianças que devem dizer sempre a verdade. Ainda que depois os adultos sejam suficientemente infiéis a este conselho. Mas há uma verdade que buscamos, que esperamos, uma verdade às vezes indefinida, mas que nos foi revelada em Jesus Cristo de uma forma muito concreta e por isso até inaceitável. A verdade de Jesus Cristo é a verdade da humanidade, da sua potencialidade divina e por essa razão é tão frequentemente rejeitada. De cada vez que negamos verdade da humanidade negamos a verdade da divindade.
A terceira imagem da Trindade é a do dom do amor, a da paixão que como a pomba tem asas para elevar o homem sobre as suas próprias limitações e mesquinhezes. O amor eleva-nos, aquece-nos como um fogo, faz-nos brilhar como as estrelas mais luzentes da noite escura, faz com que Deus aconteça e se realize em nós.
Apesar de tudo isto o mistério continua inacessível, desconhecido, e cada vez mais indizível, pois na medida em que nos afastamos da nossa condição humana fazemos com que seja cada vez menos possível dizer o mistério de Deus uno em três pessoas distintas.
Hoje muitas crianças e jovens não sabem o que é um pai, o que significa a paternidade. E não é porque sejam órfãos, bem pelo contrário, frequentemente têm até mais que um pai. Muitas destas mesmas crianças e jovens não sabem onde está a verdade, o que ela significa, pois a mensagem que lhes entra pelos olhos e pelos ouvidos é que vale tudo para se atingir os fins, mesmo a negação da sua consciência. E quando o amor é apenas uma satisfação dos seus desejos físicos, uma compensação do vazio relacional, como poderão experimentar o dom do amor, a elevação jubilosa provocada pela entrega e pela dádiva de si próprio?
Somos seres criados à imagem de Deus, ou seja à imagem da Trindade; de cada vez que atentamos contra a nossa humanidade, contra esta imagem de Deus, atentamos conta a Trindade e a sua possibilidade de revelação e compreensão. É necessário refazer o homem, a verdade da humanidade, para se poder traçar de novo o caminho para a Trindade e para o seu conhecimento e compreensão.
Tal graça só nos pode ser dada pela própria Trindade, pelo próprio Deus. Peçamos-lhe assim como pedia Santa Teresa do Menino Jesus: “Ó Face adorável de Jesus, única Beleza que arrebata o meu coração, digna-te imprimir em mim a tua divina semelhança, para que não possas olhar a alma da tua pequena esposa sem Te contemplares a Ti mesmo”[1].
[1] SANTA TERESA DO MENINO JESUS – Oração 16, in Obras Completas. Paço de Arcos, Edições Carmelo, 1996, 1091.
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