segunda-feira, 1 de junho de 2009

Os Dominicanos para Thomas Merton

Dizem que não é bonito falar de nós, que pode até ser pecado porque nos atrai ao orgulho. Não sei se é por essa razão, mas nós, os Dominicanos, não temos por hábito falar de nós, é como se tivéssemos um certo pudor em apresentar-nos, em dizer quem somos e o que fazemos. Podíamos quase afirmar que somos pouco sociáveis, que estamos distantes ou ausentes da galáxia de comunicação em que hoje todos nós vivemos e onde é comum e natural falar de si.
E depois, verdade seja dita, quando falamos de nós não sabemos muito bem o que dizer, raramente o fazemos bem, e algumas vezes não nos assenta nada bem o que dizemos. Há como que qualquer coisa em nós de indizível, de inclassificável e certamente por isso se torna tão difícil falar sobre nós.
Assim, quando encontramos algumas palavras que nos expressam ou apresentam não devemos desperdiçá-las, não as devemos deixar esquecidas na nossa memória pessoal ou nas notas das nossas leituras. As palavras que se seguem são de Thomas Merton, monge Trapista, e encontrei-as no seu livro “O Sinal de Jonas”, e transmitem alguma coisa do que somos.
Penso no espírito de São Domingos. É um espírito que tem pouco ou nada a ver com o nosso, mas é importante e hoje significa muito mais para mim do que significava há quatro anos atrás. Queria ter iniciado os meus estudos de teologia mais imbuído do espírito de São Domingos. Precisamente o que mais me falta são as características dominicanas da concisão, definição e precisão em teologia.
Admito que a sua precisão é às vezes o fruto de uma simplificação extremada, mas em qualquer caso resulta bem. O forte contraste das cores do hábito dominicano – o branco e o negro – constitui um bom símbolo da mentalidade dos dominicanos, aos quais agradam as divisões e distinções taxativas.
Admiro São Domingos, sobretudo pelo seu amor à Escritura e pelo seu respeito pelo estudo da Escritura, de que fez o núcleo da sua contemplação e pregação. Eu meditei frequentemente com a Escritura, mas nunca a estudei a sério na minha vida, e esta é uma falta que lamento. Agora que terminei as aulas de teologia e tenho quatro meses para me dedicar à Escritura, para completar o tempo requerido pelo Direito Canónico, pedirei a São Domingos que me guie no estudo da Escritura durante estes meses e em toda a minha vida.
As primeiras comunidades de dominicanos procediam com brevidade e prontidão à recitação do Oficio, tudo o contrário dos cistercienses do século XIII, para entregar-se aos livros; e aos frades exortava-se a que prolongassem as suas vigílias no estudo. Não que este constituísse precisamente a essência da vocação dominicana, mas cada uma das suas casas estava dedicada ao estudo, o qual os conduzia à contemplação, a qual por sua vez se desbordava na pregação.
Creio que o Papa Honório III se refere de modo explícito à vida dominicana considerando-a essencialmente contemplativa, mas sem que isso implique alguma contradição entre contemplação e actividade. Em qualquer caso o que estudavam era a Escritura, a Bíblia era o seu livro de texto da teologia.
Desejaria que São Domingos me concedera finalmente uma compreensão deste problema da contemplação oposta à acção, de tal modo que me resultasse tão claro e definido como a silhueta das paisagens da França meridional
.”
[1]
[1] MERTON, Thomas – El Signo de Jonas. Diários (1946-1952). Bilbao, Desclée de Brouwer, 2007, 243-244.

2 comentários:

  1. Estimado,
    Estava procurando um texto das origens da vida dominicana e do nosso pai Domingos. Encontrei daí o seu blog que tenho lido sempre que posso. Na oportunidade, manifesto a alegria de escrever estas linhas a você e me apresentar. Sou o Walber Meirelles Ladeira, atualmente leigo dominicano do Brasil. Fui frade da Província Frei Bartolomeu de Las Casas. Hoje moro em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Sou professor de sociologia por aqui e também membro de uma das nossas fraternidades dominicanas. Meu blog é: www.walbermladeira.blogspot.com/ Fico por aqui deixando o abraço fraterno.

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  2. Parabéns, Frei Carlos o seu blog tem sido um sucesso. Quase todos os dias o visito.Tem sido uma grande fonte de inspiração i informação religiosa.
    Agradeço o seu empenho e que Deus o ajude muito para poder continuar.
    Ir. Francisca, op

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