segunda-feira, 14 de julho de 2014

Não vim trazer a paz mas a espada! (Mt 10,34)

Em cada celebração da Eucaristia, quando nos preparamos para receber o Corpo do Senhor, somos convidados à paz, a partilhar a paz de Cristo com os nossos irmãos.
Face a este convite é inevitável que fiquemos perplexos, até de certo modo perturbados, quando ouvimos Jesus dizer que não veio trazer a paz mas a espada.
De que modo nos podemos situar face a estas palavras? Que paz afinal nos traz Jesus e que paz somos convidados a partilhar?
Para compreender estas palavras de Jesus não podemos perder o contexto do texto evangélico, não podemos perder de vista que esta afirmação aparece no seguimento das perseguições que Jesus anuncia aos seus discípulos.
E não podemos perder de vista também uma outra frase de Jesus, uma outra expressão extremamente similar e que se encontra no mesmo Evangelho de São Mateus. Quase logo no início da sua vida pública Jesus diz que não veio revogar a Lei ou os profetas, mas levá-los à perfeição.
Jesus apresenta-se desde o primeiro momento como alguém que não é um revolucionário, mas como alguém que visa a perfeição, a plenitude, que vive e convida a viver de forma radical as diversas realidades que se nos apresentam.
Assim, se a Lei e os profetas são levados à perfeição por Jesus, a espada a que ele se refere representa a radicalidade do seguimento, uma radicalidade que implica dor e sofrimento, mas igualmente a paz da fidelidade, a consciência de se saber fiel até ao fim, combatente do bom combate.
Quem se coloca no seguimento dos passos de Jesus não pode esperar a paz do mundo, a paz das conciliações, porque o seguimento representa uma luta, um combate constante no discernimento de uma resposta fiel e verdadeira.
Contudo, para aquele que perseverar no gume da espada, no campo do combate, espera-o a paz da vitória, a paz do testemunho do Filho diante do Pai. Aquele que arriscar perder a vida tem a garantia que a encontrará!

 
Ilustração: “Jesus expulsando os vendilhões do templo”, de Antoine Jean-Baptiste Thomas, igreja Saint Roche de Paris.

2 comentários:

  1. É demasiado fácil esquecer que seguir Cristo é escolher uma luta constante para encontrar a resposta fiel que Ele espera mas que só ela nos dará a verdadeira paz. Inter Pars

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  2. Caro Frei José Carlos,

    A leitura do excerto do Evangelho de São Mateus (Mt 5,10) sobre as orientações de Jesus aos doze discípulos antes da partida em missão revela-se aparentemente incoerente com a expectativa de paz de que Jesus é portador.
    A radicalidade do seguimento de Cristo molda a existência de cada um de nós e manifesta-se ao longo da vida de formas distintas na relação que criámos e vamos fortificando com Deus.
    Seguir Jesus é aprender a ser manso e humilde de coração, o que não significa ser passivo, é saber amar o nosso próximo sem ressentimentos, é saber travar o “bom combate”, é perdoar e carregar a cruz até ao fim, ainda que saibamos que somente alguns de nós são capazes desta fidelidade.
    Como nos salienta no texto da Meditação ...” Quem se coloca no seguimento dos passos de Jesus não pode esperar a paz do mundo, a paz das conciliações, porque o seguimento representa uma luta, um combate constante no discernimento de uma resposta fiel e verdadeira. Quem se coloca no seguimento dos passos de Jesus não pode esperar a paz do mundo, a paz das conciliações, porque o seguimento representa uma luta, um combate constante no discernimento de uma resposta fiel e verdadeira.”…
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas que nos ajudam a interpretar as palavras de Jesus, que nos confortam e estimulam a não desistir do bom combate.
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom descanso.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

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