O Evangelho de São
Mateus que acabámos de escutar apresentava-nos a parábola do semeador, uma
parábola cujo sentido Jesus explicou aos discípulos em privado quando estes o
questionaram sobre o porquê da utilização das parábolas.
Assim sendo, poderíamos
dizer que não havia nenhuma necessidade de uma homília neste domingo, pois que
podemos nós acrescentar à explicação que o próprio Jesus dá das palavras que
utilizou?
Contudo, não podemos
ser tão simplistas, porque a explicação da parábola nasce de uma constatação
extremamente importante para os discípulos e que nos desafia ainda hoje no modo
como anunciamos a Palavra de Deus.
De facto, quando os discípulos
interrogam Jesus sobre a utilização das parábolas, o que está em causa, o que
está subjacente à questão, são os fracos resultados da pregação de Jesus. Para os
discípulos a estratégia e o método usados por Jesus estavam a necessitar de uma
revisão, pois não estavam a produzir novos adeptos.
Nesta sentido, a
parábola do semeador questiona-nos também a nós como Igreja, e a cada um de nós
pessoalmente como enviado por Deus, sobre os fracos resultados das nossas
missões, da nossa evangelização, das nossas actividades pastorais. Não estaremos
nós a necessitar de uma revisão ou reforma da estratégia e metodologia de
anúncio do Evangelho?
Tendo presente o
desafio do Concílio Vaticano II, de não deixarmos de estar atentos aos sinais
dos tempos, esta revisão é necessária e permanente, pois o mundo em que nos
situamos e a Igreja é chamada a estar presente está em constante mudança.
Contudo, nesta
adequação aos tempos e desafios não podemos perder de vista o que a parábola do
semeador nos ensina, o que nos deixa como eixo central de toda e qualquer
actividade, porque afinal é dessa forma que Deus actua na história e foi dessa
forma que Jesus nos mostrou que deve ser toda a nossa actividade missionária e
pastoral.
A parábola diz-nos que
o semeador saiu a semear, confiante e esperançado de uma boa colheita, e nessa
confiança não olhou aos terrenos nos quais lançou a semente, bem pelo contrário
foi generoso, livre, não teve qualquer preconceito face aos terrenos que
encontrou, mesmo perante aqueles que aos olhos humanos estariam excluídos de
qualquer sementeira.
Esta liberdade e
generosidade apresentam-se-nos como um grande desafio, uma vez que tão
frequentemente excluímos terrenos, áreas de intervenção, irmãos nossos, em que
não apostamos, em que não temos a ousadia de lançar a Palavra de Deus.
Tal falta de coragem e
liberalidade denuncia por outro lado a falta de confiança que temos na Palavra,
na sua eficácia, que tal como nos dizia o profeta Isaías na primeira leitura
não volta para o seu céu sem cumprir a sua missão. Se arriscarmos sair a semear
certamente algum fruto há-de aparecer.
Outro dado importante
que deriva da parábola do semeador é o da qualidade do terreno, das condições
do terreno no qual a semente é lançada, e que surpreendentemente pode ser
alterado, assim haja vontade e disposição para isso.
Esta possibilidade de
mudança de terreno é apresentada por Jesus quando faz referência às atitudes
dos seus ouvintes, ouvintes que endureceram o seu coração para que não sejam
convertidos e sejam curados, ou seja, para que possam dar uma boa colheita.
O semeador sai a
semear e fá-lo generosamente, mas espera que da parte do terreno no qual a
semente cai haja um acolhimento, uma abertura a que a semente germine, colha
raízes, cresça e frutifique. A sementeira da Palavra exige assim a livre colaboração
daquele que recebe a semente, exige a colaboração na obra da graça que Deus
opera em cada um de nós.
Colaboração,
acolhimento e processo de crescimento, que como nos diz São Paulo na Carta aos
Romanos não está isenta de sofrimento, à semelhança dos processos de gestação e
maternidade. Contudo, quanta alegria se experimenta quando se alcançam os
frutos do sacrifício, quando se vê o filho nascido, a obra terminada, o prémio
da glória alcançado.
Todo o atleta se sujeita
a sacrifícios para alcançar os melhores resultados, ainda que sem garantia
nenhuma de os alcançar. Como não sujeitar-nos aos sacríficos que conduzam aos
bons frutos, quando temos a garantia da sementeira generosa que Deus opera em
nós?
Que a celebração desta
Eucaristia e os desafios que a Palavra de Deus nos coloca nos disponha à
generosidade nas nossas acções e à confiança nos bons resultados.
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarO semeador da parábola semeia em todos os terrenos sem se preocupar com as sementes desperdiçadas porque não desiste de evangelizar e sabe que algumas das sementes vão dar os seus frutos. É uma semente que não acaba, é o Amor infinito de Deus que não desiste de cada um de nós e se manifesta em permanência. Ele é a semente que se dá a cada um de nós, para ser acolhida, para frutificar verdadeiramente.
Como nos salienta no texto da Homilia que teceu …” A parábola diz-nos que o semeador saiu a semear, confiante e esperançado de uma boa colheita, e nessa confiança não olhou aos terrenos nos quais lançou a semente, bem pelo contrário foi generoso, livre, não teve qualquer preconceito face aos terrenos que encontrou, mesmo perante aqueles que aos olhos humanos estariam excluídos de qualquer sementeira.
Esta liberdade e generosidade apresentam-se-nos como um grande desafio, uma vez que tão frequentemente excluímos terrenos, áreas de intervenção, irmãos nossos, em que não apostamos, em que não temos a ousadia de lançar a Palavra de Deus.”…
Peçamos ao Senhor que a alegria e a ousadia do lançamento da Palavra de Deus seja acolhida e alimentada por cada um de nós para que frutifique e o processo de transformação de todos se faça realidade. Deus não desiste de nós, não nos abandona ainda que continuemos a questionar-nos ou a ler a “Bíblia como ateus” ou agnósticos.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Homilia que nos questiona e desafia. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Votos de um bom dia e de uma boa semana.
Um abraço mui fraterno,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarFiquei maravilhada ao ler e reler esta profunda e bela Meditação do Evangelho de São Mateus: A parábola do semeador.Gostei muito ! Obrigada,pelas palavras partilhadas tão profundas e muito esclarecedoras que nos ajudam à nossa reflexão. Grata,pela beleza da ilustração.Continuação de uma boa semana com paz e alegria.Desejo-lhe um bom descanso.Bem-haja,Frei José Carlos.Que o Senhor o ilumine o abençoe e o proteja.
Um abraço fraterno.
AD