Terminada a leitura do
Evangelho temos que assumir que a palavra tesouro suscitou em nós, em cada um
de nós, uma panóplia de imagens e recordações. Todos temos um tesouro, maior ou
menor, mais valioso ou menos valioso, umas vezes exposto para admiração de todos,
outras vezes escondido para que não nos seja roubado.
Tal como no conto do
Ali Babá e dos quarenta ladrões, todos temos a nossa caverna do tesouro, que
tanto pode ser o cofre no qual se guardam as jóias de família, como a caixa
velha de sapatos na qual se guardam os cromos de jogadores que coleccionámos no
último mundial de futebol.
O tesouro fascina-nos,
tal como fascinou aquele homem que trabalhava o campo e foi vender tudo quanto possuía
para adquirir o terreno no qual o tesouro se encontrava escondido. Atitude em
certa medida insensata, e ainda mais para o negociante de pérolas, uma vez que
se desfaz de tudo quanto tem para ficar com algo que não poderá usar, de que
não se poderá servir ou tirar qualquer benefício material.
Para o bem e para o
mal, o tesouro tem este magnetismo, tem esta capacidade de nos fazer perder a
cabeça, de nos tornar loucos, uma vez que face ao tesouro tudo perde valor,
tudo passa a ser relativo. Por definição o tesouro não tem preço e por isso, para
possuir o tesouro, é necessário renunciar a muitos outros bens, deixar outras
coisas para trás, perder o que já se tem. O tesouro exige opções radicais.
O tesouro e a pérola
que um e outro homem encontram, e pelos quais se desfazem de tudo o que
possuem, coloca em evidência uma outra realidade, uma realidade que nos atinge
no nosso dia a dia e no nosso caminhar na fé. O tesouro que Deus nos oferece do
Reino encontra-se já na nossa vida, no nosso campo, ele precede-nos e de certa
maneira espera-nos, aguarda que o saibamos encontrar.
O Reino de Deus não se
encontra assim escondido em qualquer lugar mágico ou sagrado, mas bem pelo
contrário encontra-se escondido no coração do nosso dia a dia, da nossa vida
quotidiana. É no mundo do trabalho, no mundo da família, no mundo das relações
de amizade, no nosso existir quotidiano que se encontra o tesouro do Reino.
Contudo, e face ao
preço do tesouro, inacessível a cada um de nós, para o encontrarmos temos que
comprar o campo, temos que nos desfazer de tudo aquilo que nos impossibilita de
aceder ao tesouro, temos que nos empobrecer para sermos enriquecidos. A descoberta
do tesouro exige de nós rupturas, cortes com aquelas realidades que
inviabilizam o seu acesso, um compromisso total. Aceder ao tesouro exige ser
dono do campo.
Neste sentido não
podemos deixar de fazer a Deus o mesmo pedido que fez o rei Salomão, ou seja
que nos conceda o dom da sabedoria, pois só com esse dom podemos de facto
discernir o que nos impede de chegar ao tesouro, de encontrar os meios para ultrapassar
essas barreiras e apreciar com todo o gosto o valor do tesouro que nos é
oferecido e aplicar os esforços necessários para adquirir o campo.
É esta sabedoria que nos
ilumina também no processo de ascensão e identificação com o dono do campo e do
tesouro, uma vez que na medida em que nos vamos desprendendo dos bens que temos
para possuir o tesouro vamos passando de servos a amigos e de amigos a
herdeiros do senhor e proprietário do campo e do tesouro.
Peçamos por isso ao
Senhor que a nossa herança, o nosso tesouro, seja cumprir as suas palavras,
amar os seus mandamentos, pois valem mais que milhões em ouro e prata.
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarÉ como afirma no texto da Homilia do XVII Domingo do Tempo Comum que teceu ...” O Reino de Deus não se encontra assim escondido em qualquer lugar mágico ou sagrado, mas bem pelo contrário encontra-se escondido no coração do nosso dia a dia, da nossa vida quotidiana. É no mundo do trabalho, no mundo da família, no mundo das relações de amizade, no nosso existir quotidiano que se encontra o tesouro do Reino.” …
É um Reino que não está à venda, cuja pertença nos é oferecida, cuja construção começa aqui, mas que exige de cada um de nós um compromisso, um esforço, o abdicar de certas formas de estar, transmitidas de geração em geração, mas vazias de verdade, de sentido, de fraternidade. É fácil dizer, difícil fazer, desejar e aceitar “ser insignificante”, num processo de transformação que se deseja e que preenche os nossos corações.
Que o Senhor nos ajude, nos dê o dom da sabedoria, como nos salienta no texto, para …” discernir o que nos impede de chegar ao tesouro, de encontrar os meios para ultrapassar essas barreiras e apreciar com todo o gosto o valor do tesouro que nos é oferecido e aplicar os esforços necessários para adquirir o campo.” …
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homilia, profunda, que nos exorta a ir mais além para fazer parte do tesouro …” passando de servos a amigos e de amigos a herdeiros do senhor e proprietário do campo e do tesouro”…
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Votos de uma boa semana.
Bom descanso.
Um abraço mui fraterno,
Maria José Silva
É verdade! O tesouro que Deus nos dá encontra-se no nosso coração; é a nossa vocação de Homens,o nosso caminhar para a santidade, o responder cada dia à filiação de Deus pedindo-lhe a sabedoria para encontrar a "pérola que vale mais que tudo e pela qual se deixa pai,mãe, terra..."
ResponderEliminarObrigado Frei pela certeza que colocou no meu coração. CR1