Levada pelo seu anjo
da guarda, partiu hoje para a casa do Pai a Irmã Isabel.
Muitas pessoas,
nomeadamente em Castelo Branco a conheceram como Madre Isabel, outras
conheceram-na como Sister Isabel enquanto viveu no Bom Sucesso, e num período
muito recente em Vitória foi conhecida como Soror Isabel.
Para mim foi e
continuará a ser a Irmã Isabel, a minha “santinha” como o frei José Maria a baptizou,
depois de tantos telefonemas para o Convento de São Domingos de Lisboa, sempre
em busca de um sacerdote que lhe assegurasse a Eucaristia.
Na sua ânsia de
silêncio e recolhimento, de responder à primeira vocação para a clausura, não realizada
por razões familiares, e que nestes últimos tempos acompanhei como irmão e
confessor, sei que não aprovaria esta exposição, ainda que pelas diversas
circunstâncias da vida e cargos que desempenhou tivesse sempre estado muito
exposta.
Contudo não posso
deixar de partilhar neste momento de dor e tristeza o muito que se lhe deve da
minha vocação dominicana. Não posso deixar de recordar a minha primeira visita
a Caleruega, completamente organizada por ela, os livros que me facultou, os
rosários que me ofereceu para o hábito, as horas de partilha fraterna.
Não posso deixar de
recordar as suas palavras experientes, o seu carinho e preocupação, os
incentivos a não desistir quando me diziam que esta vida não era para mim. Pouco
antes do noviciado comentava-me o grande desafio da vida religiosa: não são os
votos, pobreza, castidade e obediência, os mais difíceis, esses vão-se vivendo,
o maior desafio da vida consagrada e dominicana é a vida comum, a nossa vida comunitária.
Como diz o nosso antigo Mestre da Ordem Timotyh Radcliffe, é de facto surpreendente
como tantos gatos bravos conseguem viver metidos no mesmo saco.
Não posso deixar
também de recordar o seu gosto pela Eucaristia bem celebrada, pela beleza e
cuidado da celebração. Vivia profundamente essas realidades, ordenadas,
equilibradas, sem direito a invenções ou devaneios. O mistério era para ela demasiado
grande para se brincar com ele. Quanta dor o Senhor lhe conhece por não ter
tido acesso nos últimos tempos à celebração da Eucaristia.
Dor sentida também
pela impossibilidade de usar o hábito e de não ver as pessoas que a assistiam
no seu leito de sofrimento vestidas com o hábito. E quantas voltas na vida lhe
deu essa fidelidade ao hábito. Amava profundamente o nosso hábito branco e negro,
e nele a Ordem de São Domingos em que tinha professado.
As fotografias que
ilustram esta breve memória foram tiradas em Maio de dois mil e treze, em
Vitória, Espanha, quando se retirava para a vida de clausura e silêncio a que
aspirava.
A luz que entra pela
porta do Santuário da Virgem de Estibaliz é imagem dessa luz que sempre
procurou na sua vida religiosa, que o Mosteiro de Santa Cruz em Vitória parecia
oferecer-lhe e agora contempla já na sua fonte original.
Surpreendida, enquanto
tomávamos um chá num bar, ouço-a ainda dizer-me “seu maroto”, como tantas vezes me
disse, sempre que brincava com ela. Mas não é verdade que só brincamos com aqueles
que sentimos verdadeiramente nossos irmãos?
Junto de Deus não
deixes minha “santinha” de pedir pela minha fidelidade tal como pedistes aqui
na terra.
Não há comentários suficientemente "grandes" para almas que foram grandes nas suas aspirações e na sua vida. Nem exposições demasiadas quando elas são a verdade. E a verdade, neste caso, é que há mais uma santa no céu a velar pela fidelidade e a santidade do amigo, do irmão. Ir. Teresa, O.P.
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarUm grande obrigada pelas palavras partilhadas em “Memória da Madre Isabel Rodellar, O.P.”. A Irmã Isabel “contempla já a Luz original que sempre procurou na sua vida religiosa”. Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Um abraço mui fraterno,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarGrata,pela maravilhosamente bela partilha,de testemunho profundo da madre Isabel Rodellar,O.P.Gostei muito da beleza da ilustração,onde podemos ver a nossa santinha tão feliz...Obrigada,Frei José Carlos,pela bela recordação que acaba de partilhar connosco.Ela viveu a sua vida religiosa em cheio,com um amor muito grande à Eucaristia,isso é tudo ! Que o Senhor o ilumine o ajude e o abençoe.Desejo-lhe uma boa tarde com paz e alegria.
Um abraço fraterno.
AD