quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Em memória da Madre Isabel Gutierrez Rodellar, OP

Levada pelo seu anjo da guarda, partiu hoje para a casa do Pai a Irmã Isabel.
Muitas pessoas, nomeadamente em Castelo Branco a conheceram como Madre Isabel, outras conheceram-na como Sister Isabel enquanto viveu no Bom Sucesso, e num período muito recente em Vitória foi conhecida como Soror Isabel.
Para mim foi e continuará a ser a Irmã Isabel, a minha “santinha” como o frei José Maria a baptizou, depois de tantos telefonemas para o Convento de São Domingos de Lisboa, sempre em busca de um sacerdote que lhe assegurasse a Eucaristia.   
Na sua ânsia de silêncio e recolhimento, de responder à primeira vocação para a clausura, não realizada por razões familiares, e que nestes últimos tempos acompanhei como irmão e confessor, sei que não aprovaria esta exposição, ainda que pelas diversas circunstâncias da vida e cargos que desempenhou tivesse sempre estado muito exposta.
Contudo não posso deixar de partilhar neste momento de dor e tristeza o muito que se lhe deve da minha vocação dominicana. Não posso deixar de recordar a minha primeira visita a Caleruega, completamente organizada por ela, os livros que me facultou, os rosários que me ofereceu para o hábito, as horas de partilha fraterna.
Não posso deixar de recordar as suas palavras experientes, o seu carinho e preocupação, os incentivos a não desistir quando me diziam que esta vida não era para mim. Pouco antes do noviciado comentava-me o grande desafio da vida religiosa: não são os votos, pobreza, castidade e obediência, os mais difíceis, esses vão-se vivendo, o maior desafio da vida consagrada e dominicana é a vida comum, a nossa vida comunitária. Como diz o nosso antigo Mestre da Ordem Timotyh Radcliffe, é de facto surpreendente como tantos gatos bravos conseguem viver metidos no mesmo saco.  
Não posso deixar também de recordar o seu gosto pela Eucaristia bem celebrada, pela beleza e cuidado da celebração. Vivia profundamente essas realidades, ordenadas, equilibradas, sem direito a invenções ou devaneios. O mistério era para ela demasiado grande para se brincar com ele. Quanta dor o Senhor lhe conhece por não ter tido acesso nos últimos tempos à celebração da Eucaristia.
Dor sentida também pela impossibilidade de usar o hábito e de não ver as pessoas que a assistiam no seu leito de sofrimento vestidas com o hábito. E quantas voltas na vida lhe deu essa fidelidade ao hábito. Amava profundamente o nosso hábito branco e negro, e nele a Ordem de São Domingos em que tinha professado.
As fotografias que ilustram esta breve memória foram tiradas em Maio de dois mil e treze, em Vitória, Espanha, quando se retirava para a vida de clausura e silêncio a que aspirava.
A luz que entra pela porta do Santuário da Virgem de Estibaliz é imagem dessa luz que sempre procurou na sua vida religiosa, que o Mosteiro de Santa Cruz em Vitória parecia oferecer-lhe e agora contempla já na sua fonte original.
Surpreendida, enquanto tomávamos um chá num bar, ouço-a ainda dizer-me “seu maroto”, como tantas vezes me disse, sempre que brincava com ela. Mas não é verdade que só brincamos com aqueles que sentimos verdadeiramente nossos irmãos?
Junto de Deus não deixes minha “santinha” de pedir pela minha fidelidade tal como pedistes aqui na terra.

 

3 comentários:

  1. Não há comentários suficientemente "grandes" para almas que foram grandes nas suas aspirações e na sua vida. Nem exposições demasiadas quando elas são a verdade. E a verdade, neste caso, é que há mais uma santa no céu a velar pela fidelidade e a santidade do amigo, do irmão. Ir. Teresa, O.P.

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  2. Caro Frei José Carlos,

    Um grande obrigada pelas palavras partilhadas em “Memória da Madre Isabel Rodellar, O.P.”. A Irmã Isabel “contempla já a Luz original que sempre procurou na sua vida religiosa”. Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

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  3. Frei José Carlos,

    Grata,pela maravilhosamente bela partilha,de testemunho profundo da madre Isabel Rodellar,O.P.Gostei muito da beleza da ilustração,onde podemos ver a nossa santinha tão feliz...Obrigada,Frei José Carlos,pela bela recordação que acaba de partilhar connosco.Ela viveu a sua vida religiosa em cheio,com um amor muito grande à Eucaristia,isso é tudo ! Que o Senhor o ilumine o ajude e o abençoe.Desejo-lhe uma boa tarde com paz e alegria.
    Um abraço fraterno.
    AD

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