domingo, 13 de julho de 2014

Homilia do XV Domingo do Tempo Comum

O Evangelho de São Mateus que acabámos de escutar apresentava-nos a parábola do semeador, uma parábola cujo sentido Jesus explicou aos discípulos em privado quando estes o questionaram sobre o porquê da utilização das parábolas.
Assim sendo, poderíamos dizer que não havia nenhuma necessidade de uma homília neste domingo, pois que podemos nós acrescentar à explicação que o próprio Jesus dá das palavras que utilizou?
Contudo, não podemos ser tão simplistas, porque a explicação da parábola nasce de uma constatação extremamente importante para os discípulos e que nos desafia ainda hoje no modo como anunciamos a Palavra de Deus.
De facto, quando os discípulos interrogam Jesus sobre a utilização das parábolas, o que está em causa, o que está subjacente à questão, são os fracos resultados da pregação de Jesus. Para os discípulos a estratégia e o método usados por Jesus estavam a necessitar de uma revisão, pois não estavam a produzir novos adeptos.
Nesta sentido, a parábola do semeador questiona-nos também a nós como Igreja, e a cada um de nós pessoalmente como enviado por Deus, sobre os fracos resultados das nossas missões, da nossa evangelização, das nossas actividades pastorais. Não estaremos nós a necessitar de uma revisão ou reforma da estratégia e metodologia de anúncio do Evangelho?
Tendo presente o desafio do Concílio Vaticano II, de não deixarmos de estar atentos aos sinais dos tempos, esta revisão é necessária e permanente, pois o mundo em que nos situamos e a Igreja é chamada a estar presente está em constante mudança.
Contudo, nesta adequação aos tempos e desafios não podemos perder de vista o que a parábola do semeador nos ensina, o que nos deixa como eixo central de toda e qualquer actividade, porque afinal é dessa forma que Deus actua na história e foi dessa forma que Jesus nos mostrou que deve ser toda a nossa actividade missionária e pastoral.
A parábola diz-nos que o semeador saiu a semear, confiante e esperançado de uma boa colheita, e nessa confiança não olhou aos terrenos nos quais lançou a semente, bem pelo contrário foi generoso, livre, não teve qualquer preconceito face aos terrenos que encontrou, mesmo perante aqueles que aos olhos humanos estariam excluídos de qualquer sementeira.
Esta liberdade e generosidade apresentam-se-nos como um grande desafio, uma vez que tão frequentemente excluímos terrenos, áreas de intervenção, irmãos nossos, em que não apostamos, em que não temos a ousadia de lançar a Palavra de Deus.
Tal falta de coragem e liberalidade denuncia por outro lado a falta de confiança que temos na Palavra, na sua eficácia, que tal como nos dizia o profeta Isaías na primeira leitura não volta para o seu céu sem cumprir a sua missão. Se arriscarmos sair a semear certamente algum fruto há-de aparecer.
Outro dado importante que deriva da parábola do semeador é o da qualidade do terreno, das condições do terreno no qual a semente é lançada, e que surpreendentemente pode ser alterado, assim haja vontade e disposição para isso.
Esta possibilidade de mudança de terreno é apresentada por Jesus quando faz referência às atitudes dos seus ouvintes, ouvintes que endureceram o seu coração para que não sejam convertidos e sejam curados, ou seja, para que possam dar uma boa colheita.
O semeador sai a semear e fá-lo generosamente, mas espera que da parte do terreno no qual a semente cai haja um acolhimento, uma abertura a que a semente germine, colha raízes, cresça e frutifique. A sementeira da Palavra exige assim a livre colaboração daquele que recebe a semente, exige a colaboração na obra da graça que Deus opera em cada um de nós.
Colaboração, acolhimento e processo de crescimento, que como nos diz São Paulo na Carta aos Romanos não está isenta de sofrimento, à semelhança dos processos de gestação e maternidade. Contudo, quanta alegria se experimenta quando se alcançam os frutos do sacrifício, quando se vê o filho nascido, a obra terminada, o prémio da glória alcançado.
Todo o atleta se sujeita a sacrifícios para alcançar os melhores resultados, ainda que sem garantia nenhuma de os alcançar. Como não sujeitar-nos aos sacríficos que conduzam aos bons frutos, quando temos a garantia da sementeira generosa que Deus opera em nós?
Que a celebração desta Eucaristia e os desafios que a Palavra de Deus nos coloca nos disponha à generosidade nas nossas acções e à confiança nos bons resultados.

 
Ilustração: “O Semeador”, de Ivan Grohar-Sejalec, Galeria Nacional da Eslovénia.   

2 comentários:

  1. Caro Frei José Carlos,

    O semeador da parábola semeia em todos os terrenos sem se preocupar com as sementes desperdiçadas porque não desiste de evangelizar e sabe que algumas das sementes vão dar os seus frutos. É uma semente que não acaba, é o Amor infinito de Deus que não desiste de cada um de nós e se manifesta em permanência. Ele é a semente que se dá a cada um de nós, para ser acolhida, para frutificar verdadeiramente.
    Como nos salienta no texto da Homilia que teceu …” A parábola diz-nos que o semeador saiu a semear, confiante e esperançado de uma boa colheita, e nessa confiança não olhou aos terrenos nos quais lançou a semente, bem pelo contrário foi generoso, livre, não teve qualquer preconceito face aos terrenos que encontrou, mesmo perante aqueles que aos olhos humanos estariam excluídos de qualquer sementeira.
    Esta liberdade e generosidade apresentam-se-nos como um grande desafio, uma vez que tão frequentemente excluímos terrenos, áreas de intervenção, irmãos nossos, em que não apostamos, em que não temos a ousadia de lançar a Palavra de Deus.”…
    Peçamos ao Senhor que a alegria e a ousadia do lançamento da Palavra de Deus seja acolhida e alimentada por cada um de nós para que frutifique e o processo de transformação de todos se faça realidade. Deus não desiste de nós, não nos abandona ainda que continuemos a questionar-nos ou a ler a “Bíblia como ateus” ou agnósticos.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Homilia que nos questiona e desafia. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Votos de um bom dia e de uma boa semana.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

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  2. Frei José Carlos,

    Fiquei maravilhada ao ler e reler esta profunda e bela Meditação do Evangelho de São Mateus: A parábola do semeador.Gostei muito ! Obrigada,pelas palavras partilhadas tão profundas e muito esclarecedoras que nos ajudam à nossa reflexão. Grata,pela beleza da ilustração.Continuação de uma boa semana com paz e alegria.Desejo-lhe um bom descanso.Bem-haja,Frei José Carlos.Que o Senhor o ilumine o abençoe e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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