quinta-feira, 27 de março de 2014

Outros pediam um sinal do céu. (Lc 11,16)

As tentações que Jesus experimentou no deserto são uma síntese das tentações que sofreu ao longo de toda a sua vida e missão, são uma síntese das tentações de todos nós.
Podemos ver esta permanência das tentações cada vez que Jesus é interpelado no sentido de um sinal extraordinário, de um sinal do céu, como acontece quando expulsa um demónio mudo.
Mesmo após o milagre, aqueles que assistem e são testemunhas do acontecimento, pedem um sinal mais extraordinário, como se a palavra de alguém que era mudo não fosse já por si só um grande sinal, um sinal do céu e da Palavra que se tinha feito carne.
Estes pedidos de algo extraordinário, de um sinal do céu, esbarram sempre na persistência da humildade dos sinais de Jesus, assim como os nossos pedidos esbarram no grande sinal da cruz, na qual o despojamento total é o maior e mais verdadeiro dos sinais que Jesus nos dá.
É na cruz e no escândalo da sua pobreza e finitude que Jesus revela o incondicional amor de Deus por todos os homens, que se revela a vitória sobre o inimigo, pois Jesus despoja-o das suas armas, apresenta-se mais forte na sua humildade e obediência.
É na nudez despojada da cruz que Jesus vence as armadilhas do ter, do poder e do parecer com que o demónio desde Adão tenta afastar o homem do seu criador e do verdadeiro projecto de vida feliz que Deus oferece.
É por este sinal que o homem pode aceder à sua verdadeira dignidade, pode viver a sua realidade de filho de Deus.
Neste sentido, quando nos assalta a tentação de pedir um sinal a Deus, não podemos deixar de trazer à memória e ao coração, colocar até diante dos nossos olhos, que o sinal que Deus nos dá é a cruz de Jesus, a memória da sua misericórdia infinita, do seu amor por cada um de nós.
Que a Quaresma nos ajude a contemplar esta manifestação do amor de Deus e a assumi-la em cada dia como verdadeiramente propriedade nossa.

 

Ilustração: "Crucifixão", de Antoon Van Dyck, Igreja de São Zacarias, Veneza.    

5 comentários:

  1. Não é um comentário Fr. José Carlos, e desculpe a ousadia, mas a unica forma de lhe enviar um abrço de parabéns!
    João

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  2. Caro Frei José Carlos,

    Paulo afirmou:”Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Coríntios, 12-10)”. Afirmação difícil de entender e a qual nem sempre somos capazes de aplicar na vida de muitos de nós. Quando nos entregamos a Cristo, encontramos a graça e a força verdadeira, somos mais fortes do que quando estamos sozinhos, mas … para tal, é preciso conseguir “despojar-nos” interior e exteriormente, deixar Cristo viver em nós. Querer fazer o caminho com o Senhor e confiar no Seu Amor, na Sua bondade e misericórdia infinita.
    Como nos salienta, …” É na nudez despojada da cruz que Jesus vence as armadilhas do ter, do poder e do parecer com que o demónio desde Adão tenta afastar o homem do seu criador e do verdadeiro projecto de vida feliz que Deus oferece.(…) e,
    (…) quando nos assalta a tentação de pedir um sinal a Deus, não podemos deixar de trazer à memória e ao coração, colocar até diante dos nossos olhos, que o sinal que Deus nos dá é a cruz de Jesus, a memória da sua misericórdia infinita, do seu amor por cada um de nós.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos ajuda a reflectir, a repensar os nossos gestos e comportamentos, que nos dá força. Obrigada pela bela ilustração. Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o proteja.
    Continuação de um bom dia.
    Um abraço mui fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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  3. Obrigado pelas suas palavras sempre tão inspiradoras. Abraço amigo, Zé Alberto

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  4. O ter, o poder e o parecer são realmente as tentações que se nos apresentam todos os dias. O desejo do poder económico, a vontade de dominar pessoas e situações, a máscara que nos mostra diferentes
    são "apetites" que nos afastam de Deus e tornam mais difícil o testemunhá-Lo.CR1

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