Neste final de Agosto
de dois mil e catorze o relato evangélico da morte de João Baptista traz-nos
inevitavelmente à memória a recente execução do jornalista americano James
Foley. Um e outro, em circunstâncias diversas, mas intrinsecamente semelhantes,
foram decapitados, executados de uma forma bárbara por homens que não tinham a
cabeça no lugar, poderíamos dizer acéfalos.
João Baptista e James
Foley foram vítimas do ódio, de um desejo sórdido de eliminar aqueles que expõem
a verdade, que apontam o que está errado. João apontava a imoralidade da
relação de Herodes com a mulher de seu irmão, James apontava as atrocidades e
violência exercida sobre os civis inocentes. Um e outro pagaram pela sua
fidelidade à verdade, pela sua coerência face à dignidade das vítimas, pelo seu
não compromisso com aquilo que é a utilização do outro.
Os seus algozes, ao
cometerem tal atrocidade, mostraram que não eram nem são senhores das suas
cabeças, que se deixam influenciar por promessas irresponsáveis e alucinadas. Os
algozes de João Baptista e de James Foley mostram-nos que se deixaram vencer e
vivem na servidão mais desumana e aviltante que é a da imagem perante os outros.
Sem autoridade moral não são capazes de dizer não e servem-se da força para não
serem desmascarados diante dos outros.
João Baptista e James Foley
assemelham-se na barbárie de que são vítimas, no martírio que sofrem, mas igualmente
no fundamento que estrutura as suas atitudes e denúncias. Um e outro alicerçam
as suas vidas na verdade, radicam os seus gestos e palavras naquele que é a
Verdade e a Vida, Jesus Cristo.
João Baptista e James
Foley acreditaram em Jesus, e se o primeiro lhe mandou perguntar se era
verdadeiramente o Messias e face à resposta continuou desde a prisão a sua
missão de percursor, o segundo pela fé em Jesus morto e ressuscitado expressa
na oração diária foi incapaz de abandonar as zonas de conflito e virar as
costas à missão de denunciar a violência e as atrocidades da guerra.
João Baptista e James
Foley desafiam-nos assim na fidelidade do nosso compromisso pela verdade e pela
vida, e questionam-nos diante dos respeitos humanos e das imagens que construímos,
das quais somos escravos e nos conduzem muitas vezes à injustiça. Neste sentido
importa perguntar: é melhor perder a cabeça ou não ter cabeça?
Nota: Escolhi esta
fotografia pelo pormenor que me chamou a atenção e testemunha a fé de James Foley. Ele tem uma pulseira
de nós pela qual se pode rezar o Terço.
Que junto de Deus interceda por nós e
pela paz tão necessária no mundo!
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