sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dá-me a cabeça de João Baptista! (Mc 6,25)

Neste final de Agosto de dois mil e catorze o relato evangélico da morte de João Baptista traz-nos inevitavelmente à memória a recente execução do jornalista americano James Foley. Um e outro, em circunstâncias diversas, mas intrinsecamente semelhantes, foram decapitados, executados de uma forma bárbara por homens que não tinham a cabeça no lugar, poderíamos dizer acéfalos.
João Baptista e James Foley foram vítimas do ódio, de um desejo sórdido de eliminar aqueles que expõem a verdade, que apontam o que está errado. João apontava a imoralidade da relação de Herodes com a mulher de seu irmão, James apontava as atrocidades e violência exercida sobre os civis inocentes. Um e outro pagaram pela sua fidelidade à verdade, pela sua coerência face à dignidade das vítimas, pelo seu não compromisso com aquilo que é a utilização do outro.
Os seus algozes, ao cometerem tal atrocidade, mostraram que não eram nem são senhores das suas cabeças, que se deixam influenciar por promessas irresponsáveis e alucinadas. Os algozes de João Baptista e de James Foley mostram-nos que se deixaram vencer e vivem na servidão mais desumana e aviltante que é a da imagem perante os outros. Sem autoridade moral não são capazes de dizer não e servem-se da força para não serem desmascarados diante dos outros.
João Baptista e James Foley assemelham-se na barbárie de que são vítimas, no martírio que sofrem, mas igualmente no fundamento que estrutura as suas atitudes e denúncias. Um e outro alicerçam as suas vidas na verdade, radicam os seus gestos e palavras naquele que é a Verdade e a Vida, Jesus Cristo.
João Baptista e James Foley acreditaram em Jesus, e se o primeiro lhe mandou perguntar se era verdadeiramente o Messias e face à resposta continuou desde a prisão a sua missão de percursor, o segundo pela fé em Jesus morto e ressuscitado expressa na oração diária foi incapaz de abandonar as zonas de conflito e virar as costas à missão de denunciar a violência e as atrocidades da guerra.
João Baptista e James Foley desafiam-nos assim na fidelidade do nosso compromisso pela verdade e pela vida, e questionam-nos diante dos respeitos humanos e das imagens que construímos, das quais somos escravos e nos conduzem muitas vezes à injustiça. Neste sentido importa perguntar: é melhor perder a cabeça ou não ter cabeça?

 
Ilustração: James Foley no exercício da sua missão jornalística na Síria.

Nota: Escolhi esta fotografia pelo pormenor que me chamou a atenção e testemunha a fé de James Foley. Ele tem uma pulseira de nós pela qual se pode rezar o Terço.
Que junto de Deus interceda por nós e pela paz tão necessária no mundo!

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