sábado, 23 de agosto de 2014

O abismo face à verdade

 
Acho que é precisamente nos anacoretas do século XX que se manifesta com uma nitidez especial, quase perfeita, tanto a sublimidade como a impotência que os leigos sempre notaram nos homens em retiro no deserto. Os anacoretas das casas comunais nunca esquecem o abismo que se abre entre o destino do eremita em prol da verdade secreta e o destino do pregador e profeta dessa verdade. Provavelmente, o anacoreta moderno nunca pensa sequer superar este abismo, nem, pelo menos, aproximar-se da sua beira. No mundo há muitos anacoretas, mas os pregadores e os profetas são raros, muito raros.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 109.

Ilustração: Carvalhos centenários em Rua de Francos, Caminho Português de Santiago.

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