Acho que é precisamente nos anacoretas do século XX que se manifesta
com uma nitidez especial, quase perfeita, tanto a sublimidade como a impotência
que os leigos sempre notaram nos homens em retiro no deserto. Os anacoretas das
casas comunais nunca esquecem o abismo que se abre entre o destino do eremita
em prol da verdade secreta e o destino do pregador e profeta dessa verdade. Provavelmente,
o anacoreta moderno nunca pensa sequer superar este abismo, nem, pelo menos,
aproximar-se da sua beira. No mundo há muitos anacoretas, mas os pregadores e
os profetas são raros, muito raros.
Vassili Grossman, Bem Hajam! Apontamentos de Viagem à Arménia, 109.
Ilustração: Carvalhos centenários em Rua de Francos, Caminho Português
de Santiago.
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