A leitura do Evangelho
que escutámos apresenta-nos a participação de Jesus num banquete na casa de um
fariseu importante. Pelos Evangelhos sabemos que não foi o único a que Jesus
assistiu, e que outros aconteceram, e certamente muitos mais que aqueles que
estão consignados nos textos evangélicos.
Mas se alguns ficaram
registados é porque algo de verdadeiramente significativo aí aconteceu, é
porque serviram de quadro à revelação da pessoa e da mensagem de Jesus, como
aconteceu neste caso que o Evangelho de Lucas hoje nos relata.
Neste sentido não
podemos esquecer a referência em que desde o primeiro momento o banquete é
situado, ou seja, num sábado, o que nos remete imediatamente para o horizonte
do Reino e das bodas do Cordeiro.
Assim, e apesar da
questão do protocolo social estar presente, o que Jesus desperta é a questão do
protocolo para o banquete do Reino, o que nos interessa saber e viver para
podermos verdadeiramente tomar assento à mesa do banquete celeste.
Quando Jesus chama a
atenção para os lugares que cada um pode ocupar num banquete, Jesus está apenas
a tomar parte numa discussão comum ao seu tempo, uma questão rabínica sem
resposta exacta sobre o protocolo a seguir nas refeições de maior importância
social.
A questão dos lugares
à mesa era uma questão real, porque os lugares não eram atribuídos pelo dono da
casa e anfitrião, de acordo com as suas relações e a sua importância social,
mas eram tomados por cada um dos convidados, que a partir de uma avaliação
pessoal se aproximavam ou afastavam da presidência da mesa e do anfitrião.
O conselho de Jesus é
assim um convite à prudência e à boa educação, prudência e educação que estavam
mais ou menos consignadas socialmente, mas que em determinadas situações não
eram tidas em atenção e não eram observadas. Podemos inferir que tal estaria a
acontecer com ele ao lançar a questão.
Contudo, não foi por
uma questão protocolar e por qualquer incidente com Jesus que este
acontecimento foi registado pelos Evangelhos, mas porque há uma semelhança
entre a prudência de ocupar os lugares menos importantes no banquete e a
humildade necessária para participar nas bodas do Reino.
Ao ocupar o último
lugar, ao humilhar-se, aquele que foi convidado é chamado e exaltado pelo dono
da casa, pelo anfitrião do banquete, para um lugar mais importante e mais
próximo de si. A humildade do último lugar é elevada e retribuída pelo convite
e chamamento do anfitrião do banquete.
No horizonte do Reino
de Deus e das Bodas do Cordeiro a mesma humildade é também recompensada, ou
melhor dizendo, é uma condição prévia à participação no banquete que é já a
recompensa, porque o humilde reconhece que nada é e nada pode e portanto tudo
espera daquele que o convida e tudo lhe pode dar. O humilde está aberto ao
outro, está disponível, apresenta-se numa atitude de acolhimento que lhe
permite ser elevado por aquele que convida.
O humilde é como o
publicano da parábola que se dirige ao templo para rezar e apenas pede perdão
de nada ter para dar, enquanto o fariseu, cheio de si próprio, apenas se
compara com os outros, exaltando-se a si mesmo mas perdendo toda a oportunidade
de conversão e salvação.
A humildade é assim a
atitude que permite o acolhimento do dom que vem de Deus, que permite a
percepção da gratuidade divina, do seu amor e da sua bondade sem limites.
E é por causa desta
gratuidade, desta bondade sem limites de Deus, que Jesus completa a conversa
sobre os lugares à mesa com a recomendação de serem convidados para os
banquetes aqueles que são pobres e doentes, aqueles que não podem retribuir de
nenhuma maneira o convite que lhes é feito.
Desta forma e com este
convite manifestamos o amor de Deus, a sua bondade, a sua gratuidade, a
dignidade a que somos elevados dignificando os nossos irmãos que não nos podem
recompensar, vivemos aqui e agora o mistério da encarnação do Filho de Deus que
humildemente assumiu a nossa condição pecadora.
A humildade está assim
intimamente associada à caridade, porque só quem não se centra egoisticamente
em si, quem é humilde, pode olhar o outro e amar o outro verdadeiramente como
ele é.
Procuremos pois tomar
assento no banquete do Reino acolhendo e dignificando aqueles que se aproximam
de nós, porque como diz Jesus serão esses mesmos que acolhemos e dignificamos
que nos indicarão os melhores lugares que nos foram destinados pelo Senhor no
Banquete do Cordeiro.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO excerto do Evangelho de S.Lucas do XXII Domingo do Tempo Comum e o texto da Homília que teceu aborda o propósito de Jesus que vai mais além do explanar de um conjunto de regras sociais. Estas são o pretexto para Jesus falar-nos do caminho da conversão, do amor aos mais frágeis, dos excluídos, da importância da humildade e da caridade na vida de cada um de nós. Em resumo, é a pregação da participação do banquete do Reino, de que Jesus nos deu testemunho.
Como nos salienta …” não foi por uma questão protocolar e por qualquer incidente com Jesus que este acontecimento foi registado pelos Evangelhos, mas porque há uma semelhança entre a prudência de ocupar os lugares menos importantes no banquete e a humildade necessária para participar nas bodas do Reino.(…)
(…) No horizonte do Reino de Deus e das Bodas do Cordeiro a mesma humildade é também recompensada, ou melhor dizendo, é uma condição prévia à participação no banquete que é já a recompensa, porque o humilde reconhece que nada é e nada pode e portanto tudo espera daquele que o convida e tudo lhe pode dar. O humilde está aberto ao outro, está disponível, apresenta-se numa atitude de acolhimento que lhe permite ser elevado por aquele que convida.” …
É a escuta da Palavra de Jesus, de cada um de nós e dos outros não só com os ouvidos do corpo de cada um, mas com o ouvido do nosso coração, da voz interior do nosso ser mais intímo que nos permite entrar em relação, acolher Deus e os outros e a coerência com essa Palavra que nos levará a participar no banquete do Reino.
Como nos afirma …” A humildade é assim a atitude que permite o acolhimento do dom que vem de Deus, que permite a percepção da gratuidade divina, do seu amor e da sua bondade sem limites. (…)
(…) A humildade está assim intimamente associada à caridade, porque só quem não se centra egoisticamente em si, quem é humilde, pode olhar o outro e amar o outro verdadeiramente como ele é.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homília, profunda, maravilhosamente ilustrada, que conduz a uma profunda reflexão sobre a forma de ser e de estar de cada um de nós em relação a Deus e aos outros, por recordar-nos a “importância de acolher e dignificar os que se aproximam de nós”.
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Bom descanso. Boa semana.
Um abraço fraterno e amigo,
Maria José Silva