Encontramos no início
do Evangelho de São Mateus a apresentação da genealogia de Jesus, a enumeração de
quarenta e duas gerações de uma linhagem que retrocede até Abraão, o Pai da fé.
Diante da monotonia,
qual formula matemática que se repete indefinidamente, não podemos deixar de
nos questionar sobre esta genealogia, e sobretudo quando na última geração
percebemos uma inversão, uma quebra na linhagem. No momento em que se previa que
o autor assinalasse que José gerou Jesus, eis que é dito que Jesus nasceu de
Maria, esposa de José.
Estamos assim diante
de uma inflexão, uma interrupção, que quebra a linhagem natural e revela por si
própria uma novidade, uma outra realidade. Jesus é descendente da grande família
que acredita e vive nas suas limitações humanas a fé num Deus único e salvador,
mas é também o princípio de uma outra linhagem, de uma outra família.
Este corte revela-nos
simplisticamente que Jesus não caiu do céu, não é um fenómeno extraterrestre,
mas pelo contrário é herdeiro de uma história e de uma vida que assume plenamente
com o que tem de fidelidade e infidelidade, de graça e de pecado.
Este corte revela-nos
igualmente que a sua missão e a sua família são a totalidade do género humano e
portanto não podia ficar confinado a uma tribo ou a um clã. A sua vida pertence
à totalidade da humanidade.
Jesus Cristo, membro
da família de Israel, é por Maria filho de Deus e por isso irmão de todos os
homens e mulheres. Esta novidade misteriosa não pode deixar de nos tocar e
implicar numa leitura mais abrangente das nossas relações.
Todos somos filhos da
nossa família, do nosso povo, somos herdeiros de uma tradição e de uma fé que
não podemos esquecer nem negar, mas pelo facto de sermos irmãos por Jesus
Cristo estamos implicados no acolhimento e na realização plena do outro que é
diferente, que não é da nossa família nem do nosso povo e que até pode não
partilhar a nossa fé.
A filiação de Jesus
por Maria abre-nos inevitavelmente à novidade e à surpresa do diferente.
Abrirmo-nos e acolher essa novidade não será o apelo deste Natal? Inter Pars
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarPor nós homens e para nossa salvação Jesus de natureza divina, fez-se homem, assumiu a nossa natureza, excepto no pecado, manifestação do amor de Deus por todos nós. Como nos afirma, Jesus ...” é herdeiro de uma história e de uma vida que assume plenamente com o que tem de fidelidade e infidelidade, de graça e de pecado (…) irmão de todos os homens e mulheres”…
Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação, importante e interessante a forma como aborda a genealogia de Jesus, por exortar-nos à fraternidade ao recordar-nos que …”pelo facto de sermos irmãos por Jesus Cristo estamos implicados no acolhimento e na realização plena do outro que é diferente, que não é da nossa família nem do nosso povo e que até pode não partilhar a nossa fé.” Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Continuação de boa semana. Bom descanso.
Um abraço fraterno e amigo,
Maria José Silva