terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Genealogia de Jesus Cristo (Mt 1,1)

Encontramos no início do Evangelho de São Mateus a apresentação da genealogia de Jesus, a enumeração de quarenta e duas gerações de uma linhagem que retrocede até Abraão, o Pai da fé.
Diante da monotonia, qual formula matemática que se repete indefinidamente, não podemos deixar de nos questionar sobre esta genealogia, e sobretudo quando na última geração percebemos uma inversão, uma quebra na linhagem. No momento em que se previa que o autor assinalasse que José gerou Jesus, eis que é dito que Jesus nasceu de Maria, esposa de José.    
Estamos assim diante de uma inflexão, uma interrupção, que quebra a linhagem natural e revela por si própria uma novidade, uma outra realidade. Jesus é descendente da grande família que acredita e vive nas suas limitações humanas a fé num Deus único e salvador, mas é também o princípio de uma outra linhagem, de uma outra família.
Este corte revela-nos simplisticamente que Jesus não caiu do céu, não é um fenómeno extraterrestre, mas pelo contrário é herdeiro de uma história e de uma vida que assume plenamente com o que tem de fidelidade e infidelidade, de graça e de pecado.
Este corte revela-nos igualmente que a sua missão e a sua família são a totalidade do género humano e portanto não podia ficar confinado a uma tribo ou a um clã. A sua vida pertence à totalidade da humanidade.
Jesus Cristo, membro da família de Israel, é por Maria filho de Deus e por isso irmão de todos os homens e mulheres. Esta novidade misteriosa não pode deixar de nos tocar e implicar numa leitura mais abrangente das nossas relações.
Todos somos filhos da nossa família, do nosso povo, somos herdeiros de uma tradição e de uma fé que não podemos esquecer nem negar, mas pelo facto de sermos irmãos por Jesus Cristo estamos implicados no acolhimento e na realização plena do outro que é diferente, que não é da nossa família nem do nosso povo e que até pode não partilhar a nossa fé.
A filiação de Jesus por Maria abre-nos inevitavelmente à novidade e à surpresa do diferente.

 
Ilustração: “Árvore de Jessé”, de Absolon Stumme, Museu Nacional de Varsóvia.

2 comentários:

  1. Abrirmo-nos e acolher essa novidade não será o apelo deste Natal? Inter Pars

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  2. Caro Frei José Carlos,

    Por nós homens e para nossa salvação Jesus de natureza divina, fez-se homem, assumiu a nossa natureza, excepto no pecado, manifestação do amor de Deus por todos nós. Como nos afirma, Jesus ...” é herdeiro de uma história e de uma vida que assume plenamente com o que tem de fidelidade e infidelidade, de graça e de pecado (…) irmão de todos os homens e mulheres”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação, importante e interessante a forma como aborda a genealogia de Jesus, por exortar-nos à fraternidade ao recordar-nos que …”pelo facto de sermos irmãos por Jesus Cristo estamos implicados no acolhimento e na realização plena do outro que é diferente, que não é da nossa família nem do nosso povo e que até pode não partilhar a nossa fé.” Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Continuação de boa semana. Bom descanso.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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