O tempo frio que se
faz sentir nestes dias obriga-nos a um certo recolhimento, poderíamos dizer até
a uma espécie de retiro das nossas actividades mais movimentadas e exteriores.
E se para muitos este
recolhimento é motivo de tristeza e angústia, de um certo estado depressivo,
para nós cristãos esta vida mais tranquila é a oportunidade para nos confrontarmos
com a festa do Natal e a forma como a estamos preparar.
Poderíamos dizer que
este tempo frio é a oportunidade para aferirmos da luz que ilumina os nossos
passos, como diz o profeta Isaías; a oportunidade para verificarmos se a nossa
vida nos seus mais diversos elementos constituintes é iluminada pelas luzes
provisórias e frágeis desta nossa sociedade, ou pelo contrário pela luz
verdadeira, sob a qual podemos caminhar sem perigo de nos enganarmos.
Para São Paulo, e como
podemos constatar na Carta aos Romanos que escutámos, caminhar à luz do mundo,
à luz de tudo o que é excesso e mundano, é como caminhar nas trevas da noite. Necessitamos
por isso revestir-nos das armas da luz para que possamos levantar-nos e sair
desse sono que nos entorpece e não nos deixa apreciar verdadeiramente e em
plenitude a vida que nos foi oferecida.
Neste sentido, é
interessante notar como as três leituras fazem referência a elementos
militares, bélicos, como se este caminhar à luz do Senhor fosse um combate, um
desafio, para o qual são necessárias armas, preparação, disciplina e um constante
exercício.
O texto da Carta de São
Paulo aos Romanos é o mais explícito ao solicitar que nos revistamos das armas
da luz, armas que como Isaías nos diz não podem ser lanças nem espadas, mas
devem ser arados e foices, ou seja, instrumentos que permitem o cultivo, o
cuidado da terra e do campo que é o outro que comigo vive e partilha a vida.
O Evangelho, com o convite
à vigilância, uma vez que não sabemos a que hora virá o ladrão, coloca-nos nesse
estado de alerta, de expectativa, que se torna verdadeiramente vigilância efectiva
na medida em que é vivida de forma activa, como um treino de ginásio para o
combate que nos espera.
O Advento que hoje
iniciamos, este tempo litúrgico de preparação para a celebração do Nascimento
do nosso Salvador, é assim um tempo de combate, um tempo de vigilância, um
tempo de revisão ou aferição, ao qual está obrigatoriamente subjacente a
esperança, que não nos deixa deprimir nem desanimar face a tantos planos e
projectos que em outros anos e Adventos assumimos mas não fomos capazes de
levar adiante.
O Advento que hoje
iniciamos, e com ele mais um ano litúrgico, é assim a oportunidade de recomeçar
a nossa caminhada, de rever os nossos princípios e objectivos e procurar pautar
a nossa vida por eles.
Não se trata de
abandonar o mundo, de prescindir de tudo num excesso zeloso, mas de
redimensionar e revalorizar todas as realidades à luz daquele menino cujo
nascimento comemoramos e cuja vida alterou definitivamente a nossa condição
humana.
Aquilo que considero imprescindível
no Natal é verdadeiramente imprescindível, ou pelo contrário é mais um devaneio
e uma futilidade que me isola e afasta dos outros, mesmo daqueles que partilham
o mesmo tecto? Não estarei a esconder num embrulho o amor que necessito dos
outros e que os outros necessitam e esperam de mim?
Se o Natal é a
comemoração do nascimento de Jesus há dois mil anos, ele é também a
oportunidade do seu nascimento hoje, neste ano, no meu coração, no coração
daqueles que me rodeiam, na nossa história construída fraternamente juntos.
Para que tal aconteça
necessitamos revestir-nos das armas da luz, que são a esperança, o amor, a
justiça, a verdade, necessitamos combater o nosso egoísmo e egocentrismo, necessitamos
fazer o exercício de sair de nós próprios para vigilantes perceber as necessidades
dos outros e tentar solucioná-las na medida das nossas possibilidades.
Procuremos pois
iniciar este Advento e a nossa preparação para o Natal com este espirito de
combate, convictos que na medida da nossa disposição e do nosso esforço o
nascimento de Jesus acontecerá verdadeiramente uma vez mais na nossa vida.
Frei José Carlos, boa tarde.
ResponderEliminarQue quietude espiritual vivi ao ler a sua homilia! De parágrafo em parágrafo, os combates transformaram-se em pacífica esperança! A doçura com que abordou a Palavra e no-la fez entendível, como é habitual, transformou-a em regra de vida, em propósito a concretizar num Advento que não terminará no Natal. Tocou, com certeza, muitos corações que o escutaram na sua celebração.
Um abraço fraterno,
GVA
Neste Natal ,deixemos que a esperança encha as nossas vidas e despidos de todo o egoismo abramos o coração ao amor, à fraternidade, à abertura aos outros. Inter Pars
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarGrata pela partilha da Homília do I Domingo do Advento que teceu, excelente texto de reflexão que nos desinstala, de preparação para a peregrinação que iniciámos até ao Nascimento de Jesus, nosso Salvador. Tempo de silêncio, de meditação, “espécie de retiro” como o intitulou, de balanço, mas de alegre esperança, renovada.
Como nos recorda …”Se o Natal é a comemoração do nascimento de Jesus há dois mil anos, ele é também a oportunidade do seu nascimento hoje, neste ano, no meu coração, no coração daqueles que me rodeiam, na nossa história construída fraternamente juntos.
Para que tal aconteça necessitamos revestir-nos das armas da luz, que são a esperança, o amor, a justiça, a verdade, necessitamos combater o nosso egoísmo e egocentrismo, necessitamos fazer o exercício de sair de nós próprios para vigilantes perceber as necessidades dos outros e tentar solucioná-las na medida das nossas possibilidades.”…
Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Votos de uma boa semana com paz, alegria, coragem, confiança e esperança.
Um abraço fraterno e amigo,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi com muito interesse a Homília do I Domingo do Advento,maravilhosamente bela e profunda,duma beleza de Meditação tão rica e esclarecedora,para o começo da caminhada do Advento,e pela bela ilustração .Bem-haja,Frei José Carlos,pelas palavras partilhadas connosco,que muito gostei.Que o Senhor o ilumine o proteja e o abençoe.Desejo-lhe uma boa noite e um bom descanso.
Um abraço fraterno.
AD