sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

São como crianças sentadas na praça. (Mt 11,16)

É uma plateia expectante que procurar escutar Jesus, mas entre os presentes encontram-se fariseus e escribas, homens que assumiram que a lei existe à medida da sua compreensão, da forma como a esquadrinharam e a encerraram nos seus próprios esquemas.
Desta forma não há lugar para a novidade, não há lugar para a surpresa, pois tudo está feito, tudo está submetido aos mesmos princípios. Até Deus não escapa, pois a sua acção é ritmada pelo sabor das respostas preestabelecidas, prevista pelo cânone da compreensão do homem.
E quando o esquema se inverte, quando o mecanismo deixa de funcionar, porque não é um relógio suíço, e surpreende pela novidade e pela extravagância, eis que surge a crítica, o amuo, o desprezo, a negação da novidade.
Jesus coloca em evidência esta situação apelando à imagem das crianças sentadas na praça, crianças que reagem contrariamente ao que era suposto face ao tom e ao ritmo da música.
Mas ao fazê-lo coloca em evidência igualmente a surpresa de Deus, a liberdade de Deus, que vem ao encontro do homem nas formas mais inusitadas, fora de qualquer esquema, invertendo mesmo os esquemas mais perfeitos.
Os caminhos do Senhor são insondáveis, são desconhecidos para o coração do homem, porque só o amor conduz a acção de Deus, e por isso são surpreendentes todos os seus caminhos, os seus gestos, a sua Palavra.
Sentados na praça da vida cumpre assumir a forma tantas vezes condicionante como concebemos Deus, como respondemos a Deus, e converter essa nossa forma à surpresa de Deus, à novidade que todos os dias acontece se nos dispusermos a isso.

 
Ilustração: “Crianças brincando”, de Arpad Cserépy, Colecção Particular. 

2 comentários:

  1. E as novidades, que "acontecem todos os dias se nos dispusermos a isso" são motivo para darmos graças a Deus e nos alegrarmos com Ele. Inter Pars

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  2. Caro Frei José Carlos,

    Leio, saboreando cada palavra do texto da Meditação que teceu e partilha connosco, integrando-o no Evangelho do dia de hoje e na maravilhosa ilustração que nos oferece. E, se tudo parece passado, faz-se presente face à realidade dos tempos que vivemos, e é simultaneamente futuro.
    Como nos salienta ...” Os caminhos do Senhor são insondáveis, são desconhecidos para o coração do homem, porque só o amor conduz a acção de Deus, e por isso são surpreendentes todos os seus caminhos, os seus gestos, a sua Palavra.”…
    Saibamos ir mais além da nossa “entranhada verdade”, da nossa “inflexibilidade”, da nossa “compreensão”, e deixemo-nos conduzir pelo Senhor, com confiança e esperança, …”à novidade que todos os dias acontece se nos dispusermos a isso” como nos convida, Frei José Carlos.
    Grata pelas palavras partilhadas, profundas, que nos desinstalam, pelo desafio a que somos chamados em permanência. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o proteja.
    Bom descanso. Bom fim-de-semana com paz, alegria, coragem, confiança e esperança.
    Um abraço mui fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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