Não é uma questão sem importância,
pois havia regras e estatutos para o funcionamento do templo. Aparecer alguém a
ensinar no seu espaço, sem que para isso estivesse credenciado, representava de
facto um atentado, um atentado ao instituído, ao poder estabelecido.
Competia aos
sacerdotes e doutores da lei ensinar, apresentar e explicar a Lei de Deus, e
todos aqueles que assumissem ou reivindicassem esse poder, esse serviço,
entravam em conflito com a autoridade e o poder do templo.
É por esta razão que
os príncipes dos sacerdotes se dirigem a Jesus, quando ele se encontra a
ensinar no templo, e o interrogam sobre a autoridade para o fazer. Não era
sacerdote, doutor da lei, e portanto infringia as normas e o estatuto do templo
e da classe.
A questão colocada é
assim legítima, mas se Jesus não responde aos príncipes dos sacerdotes, pelo
contrário lhes coloca uma outra questão que aparentemente não tem nada a ver
com o assunto, é porque aqueles que o questionavam não tinham nenhuma
autoridade, a sua vida era uma mentira que imediatamente se torna patente.
Face à questão colocada
por Jesus sobre o baptismo de João manifesta-se a duplicidade de critérios, a
falsidade, o interesse em salvaguardar o estatuto e o poder. Aqueles que
questionam Jesus são homens de coração duplo, apenas interessados em que a multidão
não entre em conflito com eles. É a imagem que importa, a segurança do poder,
mais que a verdade que deveriam defender e ensinar.
Face aos cálculos e à
hipocrisia da resposta Jesus recusa-se determinantemente a responder, a
justificar a sua acção e o seu ensino no templo, pois aqueles que o questionam
não têm autoridade.
Este silêncio de Jesus
é para nós um convite, um desafio, a discernirmos os nossos verdadeiros
motivos, a verdade das nossas acções e dos nossos critérios. Necessitamos encontrar-nos
com as nossas motivações mais profundas para que a nossa autoridade, a nossa
palavra, ou o nosso testemunho não sejam colocados em causa, não sejam
descobertos em praça e revelados na sua nudez de interesses.
Necessitamos confrontar-nos
com a coerência e verdade da nossa vida, para que também cada um de nós possa
dizer que não tem porque dizer as razões do que faz, uma vez que elas estão bem
expostas e patentes naquilo mesmo que fazemos.
Que o Menino Jesus,
que nos preparamos para acolher, nos ajude a discernir os nossos motivos e razões
mais profundas, de modo a que a luz da verdade brilhe em nós como brilhou nele.
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarNo silêncio deste final de tarde, confortou-me ler o texto da Meditação que preparou e partilha. Convida-nos a questionar como vivemos no fundo de cada um de nós, a coerência entre o que pensamos ou julgamos ser e a verdade das nosssas acções, a nossa relação com Deus e com os outros, nossos irmãos.
Como nos salienta, ...” Necessitamos encontrar-nos com as nossas motivações mais profundas para que a nossa autoridade, a nossa palavra, ou o nosso testemunho não sejam colocados em causa, não sejam descobertos em praça e revelados na sua nudez de interesses.”…
Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …”Que o Menino Jesus, que nos preparamos para acolher, nos ajude a discernir os nossos motivos e razões mais profundas, de modo a que a luz da verdade brilhe em nós como brilhou nele.”
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, corajosas, que nos desinstalam e estimulam a assumirmo-nos como somos, por inteiro, a sermos verdadeiros e coerentes, sem máscaras. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Bom descanso.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva