segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Também eu não vos digo com que autoridade faço isto! (Mt 21,27)

Não é uma questão sem importância, pois havia regras e estatutos para o funcionamento do templo. Aparecer alguém a ensinar no seu espaço, sem que para isso estivesse credenciado, representava de facto um atentado, um atentado ao instituído, ao poder estabelecido.
Competia aos sacerdotes e doutores da lei ensinar, apresentar e explicar a Lei de Deus, e todos aqueles que assumissem ou reivindicassem esse poder, esse serviço, entravam em conflito com a autoridade e o poder do templo.
É por esta razão que os príncipes dos sacerdotes se dirigem a Jesus, quando ele se encontra a ensinar no templo, e o interrogam sobre a autoridade para o fazer. Não era sacerdote, doutor da lei, e portanto infringia as normas e o estatuto do templo e da classe.
A questão colocada é assim legítima, mas se Jesus não responde aos príncipes dos sacerdotes, pelo contrário lhes coloca uma outra questão que aparentemente não tem nada a ver com o assunto, é porque aqueles que o questionavam não tinham nenhuma autoridade, a sua vida era uma mentira que imediatamente se torna patente.
Face à questão colocada por Jesus sobre o baptismo de João manifesta-se a duplicidade de critérios, a falsidade, o interesse em salvaguardar o estatuto e o poder. Aqueles que questionam Jesus são homens de coração duplo, apenas interessados em que a multidão não entre em conflito com eles. É a imagem que importa, a segurança do poder, mais que a verdade que deveriam defender e ensinar.
Face aos cálculos e à hipocrisia da resposta Jesus recusa-se determinantemente a responder, a justificar a sua acção e o seu ensino no templo, pois aqueles que o questionam não têm autoridade.
Este silêncio de Jesus é para nós um convite, um desafio, a discernirmos os nossos verdadeiros motivos, a verdade das nossas acções e dos nossos critérios. Necessitamos encontrar-nos com as nossas motivações mais profundas para que a nossa autoridade, a nossa palavra, ou o nosso testemunho não sejam colocados em causa, não sejam descobertos em praça e revelados na sua nudez de interesses.
Necessitamos confrontar-nos com a coerência e verdade da nossa vida, para que também cada um de nós possa dizer que não tem porque dizer as razões do que faz, uma vez que elas estão bem expostas e patentes naquilo mesmo que fazemos.
Que o Menino Jesus, que nos preparamos para acolher, nos ajude a discernir os nossos motivos e razões mais profundas, de modo a que a luz da verdade brilhe em nós como brilhou nele.

 
Ilustração: “Jesus ensinando no pórtico de Salomão”, de James Tissot, Brooklyn Museum.

1 comentário:

  1. Caro Frei José Carlos,

    No silêncio deste final de tarde, confortou-me ler o texto da Meditação que preparou e partilha. Convida-nos a questionar como vivemos no fundo de cada um de nós, a coerência entre o que pensamos ou julgamos ser e a verdade das nosssas acções, a nossa relação com Deus e com os outros, nossos irmãos.
    Como nos salienta, ...” Necessitamos encontrar-nos com as nossas motivações mais profundas para que a nossa autoridade, a nossa palavra, ou o nosso testemunho não sejam colocados em causa, não sejam descobertos em praça e revelados na sua nudez de interesses.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e …”Que o Menino Jesus, que nos preparamos para acolher, nos ajude a discernir os nossos motivos e razões mais profundas, de modo a que a luz da verdade brilhe em nós como brilhou nele.”
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas, corajosas, que nos desinstalam e estimulam a assumirmo-nos como somos, por inteiro, a sermos verdadeiros e coerentes, sem máscaras. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom descanso.
    Um abraço mui fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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