As nossas sociedades
urbanas terão certamente alguma dificuldade em compreender a imagem que Jesus
usa do pastor quando se refere à sua missão salvadora. Estamos longe desse modo
de vida e da experiência, ainda que apenas visual, da relação que se estabelece
entre o pastor e as suas ovelhas, e que era tão conhecida dos ouvintes de Jesus
e dos primeiros destinatários dos Evangelhos.
Apesar destas
dificuldades, não se torna difícil nem estranho compreender que alguém saia do
seu lugar, da sua zona de conforto, para ir à procura daqueles que considera
seus, sejam amigos, companheiros, pessoas que amamos e por isso procuramos para
além das nossas fronteiras.
É o que acontece com
Jesus, que se considera um pastor atento e cuidadoso que parte à procura das
ovelhas perdidas, pois também elas devem fazer parte do seu rebanho, do seu
grupo, também elas são objecto da sua missão.
E nessa busca, nesse
processo e missão, a voz apresenta-se como um meio para o reconhecimento e o
encontro. Jesus diz que as ovelhas perdidas escutarão a sua voz e haverá um só
rebanho e um só pastor. Ele será o pastor de todas as ovelhas.
Num mundo cheio de
vozes e ruido, solicitações de várias ordens e ofertas de felicidade,
necessitamos encontrar os critérios que nos permitem reconhecer a verdadeira
voz, a voz do Bom Pastor, de modo a não nos enganarmos e acabarmos mais
perdidos que antes.
Assim, não podemos
deixar de reconhecer que a voz do Bom Pastor, a voz de Jesus, é uma voz cheia
de ternura, de paz e amor. É uma voz que convida ao amor, à amizade e carinho,
uma voz que se opõe ao ódio, ao rancor, que outras vozes estranhas despertam em
nós.
A voz do bom Pastor é
também uma voz que convida à comunhão e à partilha, e por isso recusa toda a
divisão e acumulação. A Voz do Bom Pastor abre-nos inevitavelmente ao outro,
desperta-nos para o outro, enquanto as vozes que são salteadoras e mercenárias
nos isolam, marginalizam e excluem os outros.
A voz do Bom Pastor
descobre-nos o irmão, aquele que é imagem de Deus, ao contrário das vozes
desconhecidas que nos sugerem o outro sempre como inimigo ou opositor. A voz do
Bom Pastor abre-nos à diferença contrariamente às vozes que egoisticamente nos
reflectem apenas como imagens no espelho.
Reconhecer a verdadeira
voz, a voz do Bom Pastor, é possibilitar uma caminhada que nos conduz à
liberdade, à verdadeira liberdade, enquanto as vozes mercenárias e salteadoras,
que todos os dias nos acediam, apenas conduzem a liberdades que prontamente se
revelam como falsas e ilusórias.
Conscientes desta
liberdade e dos perigos das falsas vozes, não podemos deixar de fazer ecoar por
todo o mundo o convite de Jesus a escutar a sua voz, a fazer silêncio para
escutarmos a sua voz que nos enche de paz e alegria.
Obrigado por nos lembrar que temos que estar atentos à voz do Bom Pastor que nos convida a sair de nós e ir ao encontro dos irmãos, a partilhar, a fazer comunhão, a testemunhar o convite de Jesus para que O sigamos. Obrigado por nos recomendar um ambiente de silêncio em que possamos distinguir a verdadeira voz da que é falsidade e engano. Inter Pars
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarHoje, como noutros momentos tem acontecido, depois da leitura do Evangelho do dia de hoje e de algumas linhas que escreva no blog “Vitae Fratrum Ordinis Praedicatorum”, continuei a reflectir sobre o simbolismo da imagem do Bom Pastor e do rebanho que é muito forte, intemporal e bela mesmo para os mais jovens que não tiveram a oportunidade de observar e conhecer o quotidiano e a relação que se establece entre o pastor e as suas ovelhas. A minha reflexão centrava-se no conceito de ovelha perdida, entendida por alguns de nós de forma pejorativa, como aquela que anda por “caminhos menos bons” mas é também a pessoa que encontra em Jesus o seu refúgio e, no diálogo com Jesus lhe pede que a ilumine no caminho, na decisão a tomar com serenidade..., ou aqueles que não estão disponíveis para seguir Jesus, pelas razões mais diversas, ou ainda os que desconhecem Jesus.
Leio e reflicto com muito interesse o que escreveu sobre a missão de Jesus, a procura das ovelhas perdidas e do papel da voz que é sempre veículo de uma mensagem ainda que a mesma possa ser um simples som ... para que o reconhecimento e o seguimento seja o verdadeiro.
É como nos realça a voz do amor, da fraternidade, da partilha, da procura e do encontro com o próximo que nos conduz à verdadeira liberdade, e passo a citá-lo ...” Reconhecer a verdadeira voz, a voz do Bom Pastor, é possibilitar uma caminhada que nos conduz à liberdade, à verdadeira liberdade, enquanto as vozes mercenárias e salteadoras, que todos os dias nos acediam, apenas conduzem a liberdades que prontamente se revelam como falsas e ilusórias.”…
Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação, profunda, que nos ajuda a reflectir, a centrar-nos no que é verdadeiramente importante. Obrigada pela ilustração, intemporal, bela.
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Bom descanso.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva