segunda-feira, 12 de abril de 2010

Carta de Santa Catarina de Sena ao Arcebispo de Otranto

Carta 183 de Santa Catarina de Sena
Ao Arcebispo de Otranto, Jacomo d’Itri

Em nome de Jesus Cristo crucificado e da doce Maria.
Meu querido e reverendo pai em Cristo Jesus, eu, vossa indigna filha Catarina, serva e escrava dos servidores de Jesus Cristo, escrevo-vos no seu precioso sangue, desejosa de vos ver um bom pastor, fiel a Cristo Jesus, na luz e no conhecimento da sua bondade.
Vós sabeis que aquele que caminha na noite com uma lanterna não tropeça; da mesma forma a alma que é iluminada por Deus não pode tropeçar, porque ela abre os olhos da inteligência e da razão, considerando o caminho que segue o seu doce Mestre.
De tal forma que, desde que ela descobre este caminho, pelo desejo e pela vontade que tem de seguir o Mestre, se lança nele rapidamente com zelo e sem negligência. Ela não pára para virar a cabeça, ou seja, para se olhar a si mesma. Pelo conhecimento que tem dos seus pecados e dos seus vícios ela vê-se perfeitamente, ela reconhece-se como não-ser, e conhece em si a infinita bondade de Deus que lhe deu todo o ser que ela possui. Tal é o conhecimento para o qual se deve voltar e onde sempre deve permanecer.
Eu digo que ela não deve voltar-se para se olhar a si mesma por amor-próprio, por complacência ou pelo prazer de qualquer criatura. Eu digo que a alma, iluminada pela verdadeira luz, não se volta por acaso; desde que ela se viu e encontrou a bondade de Deus empenha-se no caminho e percorre todas as vias que tomou o doce Jesus e os santos que o seguiram. Ela toma Jesus por modelo, ela deseja e ama tanto seguir a via directa para alcançar o seu objectivo, o seu doce fim, que ela não se importa nem dos espinhos, nem das tribulações, nem dos ladroes que a querem despojar; ela não se preocupa nem tem medo de nada; o que quer que seja que encontra no caminho não segue atrás. O amor retirou-lhe todo temor servil.
A alma caminha então nos passos daqueles que seguiram Cristo, ela vê bem e conhece que eles eram criaturas como ela, que eles foram saciados e alimentados da mesma maneira, porque a bondade e as liberalidades que ela encontra em Deus hoje são as mesmas das quais ele fez prova no passado.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e reflicto na carta 183 ao Arcebispo de Otrante de Santa Catarina de Sena. Hesito se devo comentá-la. O que desencadeia esta carta ao Arcebispo? ..."desejosa de vos ver um bom pastor, fiel a Cristo Jesus, na luz e no conhecimento da sua bondade". Não importa. "A priori" não devo, não posso, fazer "juízos de valor". O importante é a fé e a determinação de Santa Catarina de Sena no projecto que abraçou e a actualidade desta carta. (...) Vós sabeis que aquele que caminha na noite com uma lanterna não tropeça; da mesma forma a alma que é iluminada por Deus não pode tropeçar, porque ela abre os olhos da inteligência e da razão, considerando o caminho que segue o seu doce Mestre".
    Frei José Carlos, não somos "Santos", somos frágeis, conquanto isto não sirva como álibi para continuarmos a pecar, pergunto como "caminhar sempre sem tropeçar"?

    Que Jesus Cristo nos ilumine para que sigamos o caminho do Bem.

    Obrigada por nos questionar em permanência. Bem haja. MJS

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  2. Boa noite Maria José
    Não sei dizer-lhe o motivo particular que desencadeia esta carta de Santa Catarina. A obra de onde a retirei e traduzi não dá o contexto histórico da sua origem. Contudo, creio que se insere na grande preocupação e missão que orientou Catarina na reforma da vida eclesial no século XIV. A paz da Igreja e a vida fiel e coerente dos seus pastores foi uma preocupação constante. Não podemos esquecer que estamos a viver o Sisma do Ocidente com a existência de dois Papas.
    Quanto "a caminhar sem tropeçar", só seguindo os passos de Cristo, confiantes na sua graça, podemos ter essa esperança. A continuação da carta de Catarina creio que nos dá também uma resposta, uma ajuda nesse sentido. Amanhã colocarei mais um trecho da mesma.

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