Ordenado presbítero pelo tio bispo rapidamente se viu instituído do título de Deão da catedral da cidade, ainda que a idade não garantisse a maturidade necessária para tal ofício. Razão pela qual no dia da tomada de posse, depois de todas as diligências junto de Roma para garantir benefícios e rendimentos, passeou pela cidade com a maior pompa e vaidade.
Foi neste passeio pomposo que a graça divina fez a sua intervenção, pois uma queda do cavalo num charco de lama, e a humilhação consequente, levou-o a abandonar todas as dignidades de que tinha sido instituído e a procurar o pobre convento dos dominicanos que há poucos anos se tinha fundado na cidade.
Foi a surpresa geral para todos os que o conheciam ver a sua austeridade de vida, a sua pobreza, a oração constante e o estudo da Sagrada Escritura a que de novo se dedicava com afinco. Rapidamente se dedicou à pregação colhendo nas regiões de Castela, Galiza e norte de Portugal os frutos desse trabalho.
Devido à sua virtude e fama de pregador foi escolhido por Fernando III de Castela para acompanhar os exércitos reais numa campanha militar a Sevilha e Córdova. Terminada a campanha regressou à Galiza onde continuou a desenvolver a sua missão de pregador. Residindo no Convento de Santiago de Compostela percorria toda a região pregando e administrando os sacramentos. Foi em Tuy que terminou os seus dias.
Conta a tradição que “passado o dia de Páscoa caiu enfermo, e conhecendo ser esta a última doença, quis retirar-se ao Convento de Compostela, porque ainda o não tinhamos em Tuy. Principiou a jornada, mas tendo andado pouco caminho lhe faltaram de todo as forças, e vendo que não podia passar adiante, disse ao companheiro: ‘Filho já conheço ser vontade de Deus, que os meus trabalhos tenham fim nesta cidade, donde saímos, convém voltarmos a ela’. Voltaram para Tuy e agravando-se o mal pediu os sacramentos que recebeu com grande devoção. Chamou depois o hóspede, que o tinha em casa e disse-lhe: ‘Irmão, o piedoso Senhor, que nos dá sempre mais do que nós merecemos, quer pagar-me com prémio eterno estas pequenas fadigas. É vontade sua que eu morra nesta cidade porque me quer fazer protector dela. Quisera também pagar-vos a caridade que tendes usado comigo. Mas que pode dar-vos um pobre religioso? Tomai este meu cingidoiro e guardai-o que um dia vos servirá’. Feita esta diligência pôs os olhos em uma imagem de Cristo que tinha nos braços e entre afectuosos colóquios lhe entregou a alma no oitavo dia da Páscoa de 1246. Foi o seu corpo sepultado na igreja Catedral onde até ao presente está em sumptuoso sepulcro que o famoso historiador e bispo da mesma Sé D. Lucas lhe mandou fabricar, pela grande devoção que lhe tinha.”[1] Bonita capela que ainda hoje se encontra na catedral.
[1] LIMA, Frei Manuel de – Agiológio Dominico, Tomo II, Lisboa, Oficina de António Pedrozo Galrram, 1710, 71.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO Beato Pedro Gonçalves soube entender a intervenção da graça divina naquele incidente que transformou a sua vida faustosa numa vida de humildade, de oração constante, de estudo afincado da Sagrada Escritura.
Assim Deus nos ajude a valorizar os incidentes da nossa vida e a entendê-los como chamamento para uma caminhada de verdadeiros cristãos.
Tenha uma santa noite.
GVA
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por esta partilha sobre a vida de um Santo Dominicano. É importante conhecer os bons exemplos para nos servirem de referência, do caminho a seguir. É este o exemplo do Beato Pedro Gonçalves. ..."Foi a surpresa geral para todos os que o conheciam ver a sua austeridade de vida, a sua pobreza, a oração constante e o estudo da Sagrada Escritura a que de novo se dedicava com afinco. Rapidamente se dedicou à pregação colhendo nas regiões de Castela, Galiza e norte de Portugal os frutos desse trabalho".
Que Deus nos ilumine nas decisões a tomar e nos fortaleça para que possamos agir de forma coerente com o que dizemos e/ou pensamos ser. Bem haja. MJS