segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Jesus escolheu doze entre os quais Simão e Judas (Lc 6,13-16)

Entre o conjunto de discípulos escolhidos por Jesus para seus Apóstolos encontramos Simão, chamado o zelote, e Judas filho de Tiago, também conhecido por Tadeu.
São discípulos que passam quase despercebidos no conjunto e na narração dos Evangelhos, mas que nos desafiam na medida da sua vocação, do chamamento de que são objecto por parte de Jesus.
O primeiro a desafiar-nos é Simão, que face à referência ideológica e partidária nos leva a perceber uma grande conversão, uma mudança radical de ideologia e de método.
Ao ser denominado por zelote, o autor do Evangelho informa-nos da procedência de Simão, do grupo político a que pertencia, um grupo que pretendia e lutava pela libertação do jugo romano através da força, daquilo que hoje denominamos a guerrilha. Sabemos que historicamente foi um grupo que teve os seus ideólogos e os seus mártires.
Ao incorporar o grupo dos discípulos e depois dos Apóstolos Simão teve que redirigir a sua força revolucionária para uma outra dimensão ou realidade; da força da violência Simão viu-se convidado à força da Palavra, à força do mandamento do amor. Se havia alguma liberdade a conquistar ela não podia ser conquistada pela violência, mas pela obediência e pelo serviço ao outro, mesmo que esse outro fosse o opressor.
Diante de Simão somos também nós convidados e desafiados a reorientar a nossa força, a violência que algumas vezes desponta em nós e nos conduz à tentativa de submissão ou destruição do outro. A nossa força não pode deixar de ser o amor e o serviço, só eles podem ter alguma influência na conversão o outro.
Judas Tadeu mostra-nos na sua vocação a habitabilidade de Deus entre os homens, no coração de cada homem que opta por acolher com amor a Palavra de Jesus.
É no momento da última ceia, depois da primeira promessa do Espirito Santo, que Judas Tadeu pergunta a Jesus sobre o momento da sua manifestação. Perante a possibilidade de uma manifestação mais pessoal ou mais universal, Jesus oferece a Judas Tadeu a única manifestação possível, ou seja a do seu amoroso acolhimento, a da habitabilidade de Deus com cada homem e consequentemente com toda a humanidade na medida do amor que se lhe tem. Deus faz morada naquele que lhe tem amor e acolhe a sua Palavra.
Neste sentido, e face a esta resposta a Judas Tadeu, somos também convidados a manifestar a presença de Deus através do acolhimento apaixonado da sua Palavra, a deixar que ela habite em nós e ilumine todas as realidades que nos rodeiam.
Simão e Judas conduzem-nos assim, neste dia em que celebramos a sua festa, a uma fé relacional, a uma fé viva e activa, à consciência da habitação de Deus connosco, às palavras de São Paulo que em nós são ainda um projecto, “não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”.

 
Ilustração: “Virgem Maria com o Menino Jesus e São Simão e São Judas”, de Federico Barocci, Galeria Nacional delle Marche, Urbino.    

2 comentários:

  1. Caro Frei José Carlos,

    No dia em que celebramos a festa de dois dos Santos Apóstolos, Simão, o Cananeu, e Judas Tadeu, é com alegria que leio e reflicto o belo e profundo texto da Meditação que teceu. Através dele compreendemos que Jesus não fez exclusões na escolha dos Apóstolos e a resposta dada a Judas na última Ceia dirigi-se também a cada um de nós. É preciso estar disponível interiormente, ter um coração aberto para acolher Jesus e a Sua Palavra. Jesus mostra-nos que o importante são as pessoas, na sua diversidade, em união e comunhão com Ele.
    Como nos recorda …” Simão e Judas conduzem-nos assim, neste dia em que celebramos a sua festa, a uma fé relacional, a uma fé viva e activa, à consciência da habitação de Deus connosco, às palavras de São Paulo que em nós são ainda um projecto, “não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”.”
    Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, de esclarecimento, que nos dão força e confiança e ajudam-nos no peregrinar da vida, por salientar-nos que …” A nossa força não pode deixar de ser o amor e o serviço, só eles podem ter alguma influência na conversão do outro.” (…) e ” somos também convidados a manifestar a presença de Deus através do acolhimento apaixonado da sua Palavra, a deixar que ela habite em nós e ilumine todas as realidades que nos rodeiam.”…
    Que o Senhor o cumule de todas as graças.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    esperança

    bendito sejas, Pai, pelo teu Filho/e pela boa notícia/que ele fez ressoar em toda a terra//

    é ele que nos tira do sono/que leva à morte,/nos aguenta de pé/na vigilância e na expectativa//

    bendito sejas/pelo Espírito Santo e pela esperança/de que nos tornastes os depositários/neste tempo//

    está nos nossos corações e nas nossas mãos/a promessa do teu reino/para que acenda em nós/a chama da vigília//

    é por isso que somos solidários/do teu desígnio/ e do combate dos nossos irmãos//

    bendito sejas pela alegria/que nos preparas/e pela sua germinação/no presente das nossas vidas

    (In, dizer Deus, ao (des)abrigo do Nome, Difusora Bíblica, 1ª. edição, Junho de 1991)

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  2. Frei José Carlos,

    Grata,pela bela partilha do Evangelho de São Lucas,e pela profunda Meditação que nos propôs,na festa dos Apóstolos Simão e Judas.Como nos diz o Frei José Carlos:"A nossa força não pode deixar de ser o amor e o serviço, só eles podem ter alguma influência na conversão do outro. E também nós somos convidados a manifestar a presença de Deus,através do acolhimento apaixonado da sua Palavra, a deixar que ela habite em nós e ilumine todas as realidades que nos rodeiam.Obrigada,Frei José Carlos,pelas maravilhosasa palavras partilhadas nesta excelente Meditação.Bem-haja.Desejo-lhe um bom dia com paz e alegria.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno.
    AD

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