Os santuários estão
cheios, apinham-se de gente na expectativa do ritual que se repete cada dia, cada
ano.
No templo de Jerusalém
um murmúrio percorre a multidão, uma inquietação atinge cada um que compõe a
massa expectante. Zacarias, o sacerdote, há muito que entrou no interior do
templo e não sai.
No templo moderno do
centro comercial, uma outra multidão inquieta, irrequieta, fervilha e murmura. Não
há tempo, já se esgotou, que aborrecimento, e impacientemente culpam-se os
adolescentes irreverentes que não se calam.
Entre os murmúrios e
as luzes, face à euforia de algo que se desconhece, num e noutro templo, eis
que um convite se faz premente, silêncio! Silêncio por favor!
Zacarias saíu mudo do
interior do templo, confirmando à multidão inquieta que algo tinha acontecido,
algo de muito extraordinário. É o princípio de um silêncio que também a sua
esposa Isabel vai guardar durante cinco meses, partilhando a mudez do
sacerdote.
Um silêncio
necessário, obrigatoriamente necessário, porque um e outro necessitam passar do
estado de espera para o estado de acolhimento. Ambos necessitam deixar de
esperar um filho para acolherem o filho que Deus lhes prometeu e anunciou.
Também nós,
expectantes de uma festa de Natal, da ceia com a família, dos presentes e da
alegria das crianças, necessitamos fazer silêncio, calar no nosso coração os
ruídos externos e internos para que o Menino Deus possa ser acolhido.
Necessitamos passar da
expectativa das luzes que brilham e rebrilham para o acolhimento da verdadeira
luz que é Cristo, da luz que ilumina a nossa humanidade. Necessitamos passar
das iguarias gastronómicas ao verdadeiro Pão que nos dá a vida. Necessitamos
deixar de esperar uma prenda para podermos acolher o Dom de Deus que se nos
oferece.
Silêncio! É tempo de
fazer um pouco de silêncio, para que a transformação possa acontecer, para que
possamos perceber nesse silêncio a semente de vida eterna que germina na
humanidade e na nossa vida, para perceber e viver com alegria verdadeira a
noite de paz e de luz que se aproxima.
Que consigamos fazer esse silêncio, não só exterior mas sobretudo interior, para podermos acolher o Menino que vem e compreender a Graça que nos oferece.
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarComo precisamos fazer silêncio! Sempre e particularmente neste período que vivemos para estarmos predispostos ao acolhimento do Menino Deus, a Luz que nos chega de Belém. Como nos recorda ...” Necessitamos passar da expectativa das luzes que brilham e rebrilham para o acolhimento da verdadeira luz que é Cristo, da luz que ilumina a nossa humanidade.(…)
(…) É tempo de fazer um pouco de silêncio, para que a transformação possa acontecer, para que possamos perceber nesse silêncio a semente de vida eterna que germina na humanidade e na nossa vida, para perceber e viver com alegria verdadeira a noite de paz e de luz que se aproxima.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação que teceu, profundo, maravilhosamente ilustrado, por levar-nos pelo caminho que nos conduz a “acolher e a guardar a verdadeira luz que é Cristo” para que o Natal não seja uma festa gastronómica e de embrulhos, de falsas partilhas, com que camuflamos as nossas fragilidades, as nossas feridas, os nossos limites e interrogações.
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Bom descanso.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva
P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe de novo um poema de Frei José Augusto Mourão, OP
a areia dos dias
nas tuas mãos a areia destes dias/e o vento que os dispersa//
(de esperança e de perdão as cores do deserto)//
e cada grão nos lembra a seara/e toda a pedra a água//
ilumina as nossas viagens/da duna inumerável à margem de verdura/
do silêncio equívoco, dobrado,/ao curso do teu Nome//
afeiçoe a tua mão o nosso ouvido/a diferidos sons, inseguras formas/
do que não tem forma//
pensa as nossas chagas,/o desatino das questões que um nó aperta//
e que o teu Espírito habite a alegria/de invocar-te nesta hora quase imóvel por que passas,/
visitação silenciosa e criadora//
(In, “O Nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)