terça-feira, 16 de março de 2010

Jesus cura o paralítico da piscina

Jesus sobe a Jerusalém para uma festa e junto à piscina de Betsatá encontra um paralítico. Havia trinta e oito anos que estava enfermo.
Queres ser curado, perguntou-lhe Jesus, cheio de compaixão pelo estado daquele homem, cheio de compaixão pelo seu sofrimento. Era a primeira vez que se encontravam, o pobre homem não sabia quem ele era e por isso surpreendido pela pergunta nada lhe pede. A iniciativa é de Jesus, é ele que vem ao encontro do enfermo, é ele que vem ao encontro de cada um de nós. E a mesma pergunta baila ainda nos seus lábios, queres ser curado?
A resposta do paralítico mostra-nos que não tinha percebido nada, ou como é tão comum no Evangelho de São João ficou preso na materialidade das palavras de Jesus sem perceber de facto o que ele lhe dizia. Assim, responde a Jesus que não tem ninguém que o ajude a lançar-se para a piscina quando a água se agita. É um pobre e um pobre até da solidariedade humana, pois ninguém o ajuda a curar-se.
Jesus quer no entanto outra cura, não o quer lançar para dentro das águas, quer curá-lo pela sua própria palavra, palavra que criou as águas e as acalmou numa noite de tempestade. Jesus quer a cura total daquele homem.
Levanta-te, toma a tua enxerga e anda, ordena-lhe Jesus. E no mesmo instante o homem ficou curado, tomou a sua enxerga e começou a andar.
É uma ordem de Jesus, uma ordem que o paralítico executa sem questionar e sem hesitar. Podemos interrogar-nos como tal foi possível, porque o homem apenas se tinha queixado da falta de ajuda para se lançar à água e Jesus em nada o ajudava nesse sentido. Só a autoridade da palavra de Jesus podiam ter movido a confiança do homem.
É uma ordem e uma palavra que também hoje nos são dirigidas, porque se queremos responder à pergunta de Jesus se queremos ser curados, temos que assumir que uma resposta positiva acarreta inevitavelmente colocar-se de pé, carregar com a enxerga e caminhar.
Colocar-se de pé na nossa dignidade de homens e mulheres, de filhos de Deus, herdeiros do reino dos céus. Só de pé podemos ser quem somos, temos dignidade, podemos erguer os olhos para Deus e olhar os olhos dos nossos irmãos. Só de pé estamos em condições e com forças para carregar a nossa enxerga.
Enxerga que não é mais que a nossa condição nas suas limitações, o fardo da nossa existência tantas vezes desviada do bom caminho. São Tomás, no seu Comentário ao Evangelho de São João, diz que esta enxerga sobre a qual o paralítico repousa é o pecado e que a toma às costas quando assume a penitência por esse pecado.
Hoje carregamos a nossa enxerga quando conscientes das nossas fragilidades e limitações, das nossas infidelidades, olhamos os olhos dos irmãos, esperamos confiantemente em Deus e procuramos caminhar nas vias do bem e da verdade.
Queremos ser curados e nesse sentido à ordem de Jesus assumimos quem somos, carregamos com a nossa história tantas vezes de infidelidade e seguimos o caminho. E se alguém nos disser que não podemos seguir porque é sábado, porque não podemos carregar com a enxerga que é demasiado escandalosa, resta-nos apenas responder como o paralítico “aquele que me curou disse-me para andar e carregar com a minha enxerga”, a sua palavra e o seu poder é maior que qualquer sábado que qualquer infidelidade ou pecado. É por ele e pela sua palavra que caminho.

4 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Hoje ao ler a meditação "Jesus cura o paralítico da piscina" sinto-me talvez como o paralítico que não percebeu nada, ..., preso na materialidade das palavras. Na realidade só quando temos uma "coluna vertebral direita", temos dignidade, "podemos erguer os olhos para Deus e olhar os olhos dos nossos irmãos" e carregar a nossa "enxerga", a "nossa história tantas vezes de infidelidade e seguirmos o caminho" porque a "palavra e o poder de Jesus é maior que qualquer infidelidade ou pecado". Será que interpretei correctamente?
    Peço a Jesus que o encoraje sempre a prosseguir com determinação a frase com que encerra esta meditação: "É por ele e pela sua palavra que caminho." Bem haja por nos "abalar" e "exortar" a assumir as nossas fragilidades e limitações inerentes à nossa condição humana. MJS

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  2. Olá Maria José
    interpretou lindamente, exactamente como o quis dizer.
    Obrigado pelo apoio e votos, os quais retribuo, desejando que continue também a seguir o seu caminho fiada na Palavra e no Amor.

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  3. Tenho diante de mim o exemplo da mulher que carregou sempre a sua enxerga e que dela me transmitiu a integridade com que sempre viveu.A frase que me dizia muitas vezes e que recordo como lema era muito semelhante à que o Frei José Carlos nos deixa como conclusão.Pode crer que é para os seus seguidores a bússola do seu trajecto.
    Bem haja,
    GVA

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  4. Frei José Carlos,

    Muita obrigada por haver tido a amabilidade de responder à minha interrogação tão sincera. Na verdade li e reli e tentei "ler" nas entrelinhas, Se de facto, a meditação dirigia-se a todos, também pressenti que podia haver algo de mais profundo, mais pessoal. Nestas situações, por discrição, tenho reservas em fazer qualquer comentário ... Ficamos demasiado expostos nos "blogs". Mas como muitas vezes tem escrito é "necessário ultrapassar os nossos receios". Bem haja. MJS

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