terça-feira, 30 de março de 2010

A traição de Judas

Um pouco de pão ensopado no molho da carne, é esta a oferta de Jesus a Judas. Um sinal para João e Pedro que queriam saber quem seria o traidor, mas para o ainda não traidor um último convite, um último gesto de abertura e eleição, de uma eleição muito especial para a qual era necessário cortar com tudo, abdicar de todos os seus projectos e preconceitos.
O gesto de Jesus é um gesto de hospitalidade, um gesto muito especial reservado para um convidado especial, que se desejava brindar pela sua presença no banquete ou na festa. Judas percebe a intenção de Jesus, percebe o pedido e a eleição e por isso aceita o pão molhado no prato da carne. Contudo não é capaz do passo final, não é capaz de abdicar de tudo para a entrega da eleição e por isso, como nos diz São João no Evangelho, é depois de engolir o pão que Satanás entrou nele.
A recusa do convite de Jesus, da sua predilecção e eleição é assim sempre uma traição, uma porta aberta à entrada de Satanás, do mal perturbador das nossas vidas e acções, uma noite escura na qual se entra, como Judas entrou, e na qual é difícil perceber o sentido e a verdade do que fazemos. Perante a recusa da luz de Cristo nada mais resta que a escuridão da nossa desorientação.
Nesta mesma cena, neste mesmo momento da recusa de Judas, uma outra traição se anuncia, não de alguém que sai para a noite mas de alguém que fica na sala, que afirma a defesa e a entrega da vida por Jesus. É a traição de Pedro que negará Jesus três vezes antes do galo cantar. Jesus sabe-o e Pedro de certa forma também, apesar da sua convicção e confiança nas suas forças. No momento da dor, do fracasso, em que a vida se colocará em perigo Pedro negará o Senhor.
Contudo, e ainda aí, Pedro manter-se-á com Jesus, fixo no rosto que verá passar já carregado de humilhação e maus-tratos. Então arrepender-se-á e chorará amargamente porque não foi capaz de defender o Senhor de entregar a sua vida junto com a dele.
É este o milagre da passagem da Páscoa, de ressuscitar dos nossos pecados e das nossas infidelidades, de não perdermos nunca o olhar do rosto de Jesus, de aceitar o pão que nos oferece do seu próprio amor, para estarmos sempre com ele, apesar de tudo.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,
    Será traição passar horas sem rezar,de lhe negarmos o olhar ainda que se saiba que Ele não afasta os Seus olhos dos nossos, de sentir o íntimo alívio do perdão num fugaz momento de silêncio, de teimosamente chegar à exaustão física, escondendo-nos atrás da falta de tempo para Lhe agradecer, para O louvar?
    Tenha uma santa noite,
    GVA

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  2. Frei José Carlos,

    Li e reli as palavras do Frei José Carlos sobre a "Traição de Judas" para interrogar-me sobre se a "traição" tinha vários graus, diversos cambiantes ... e diferentes destinatários. Neste período, em especial, mas durante todo o ano vamos falando muitas vezes da traição de Judas quando reflectimos sobre a morte , a paixão e a ressureição do Senhor. No dia a dia, traímos, algumas vezes Jesus, de forma diferente mas traímos também o nosso semelhante, até os amigos que confiaram em nós, com gestos aparentemente insignificantes mas com consequências. ... "Perante a recusa da luz de Cristo nada mais resta que a escuridão da nossa desorientação". Mas deixa-nos uma esperança à semelhança do milagre da Páscoa ..."de não perdermos nunca o olhar do rosto de Jesus, de aceitar o pão que nos oferece do seu próprio amor, para estarmos sempre com ele, apesar de tudo." Que Jesus nos abençoe e nos dê a fé, o amor, para que sejamos, cada dia, mais justos e humildes. Bem haja por tudo. MJS

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