quarta-feira, 25 de julho de 2012

Aproximou-se a mãe dos filhos de Zebedeu para fazer um pedido (Mt 20,20)

É no caminho para Jerusalém, e depois de Jesus ter anunciado aos discípulos que ali o esperava a morte, que a mãe dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, se vem prostrar diante de Jesus para lhe fazer um pedido.
É um pedido ousado, fruto objectivamente de uma mãe que quer o melhor para os seus filhos, pois não pede nada mais que a direita e a esquerda do governo que Jesus pode instaurar na cidade santa, um governo pelo qual todos aspiravam.
Inevitavelmente, tal ousadia provoca a crítica e a murmuração entre os companheiros, manifestando dessa forma as mesmas aspirações, ainda que caladas pela vergonha ou o cálculo de um momento mais oportuno.
No conjunto apenas Jesus se mantém sereno, tranquilo, compreensível face ao pedido e às expectativas, e por isso, ainda que não respondendo positivamente ao pedido da mãe também não a censura nem rejeita, não se indigna como os outros discípulos.
Esta tranquilidade de Jesus leva-nos, ou devia levar-nos, a uma santa ousadia, nomeadamente nos pedidos que fazemos a Deus, na nossa oração de petição.
Deus não se escandaliza com os nossos pedidos, com as nossas aspirações e pretensões, Deus não se ofende com as nossas buscas humanas de satisfação, porque sabe que há um bem que desejamos, que profundamente aspiramos, ainda que algumas vezes estejamos equivocados na busca que realizamos para o alcançar.
Deus escuta as nossas orações mais loucas, os nossos pedidos mais ousados, porque em cada pedido está presente essa sede que nos aproxima ou pode aproximar dele. E ainda que não nos responda como esperamos, ou que nos responda como à mãe de Tiago e João, “poderão beber o cálice que eu hei-de beber?”, sabeis verdadeiramente o que pedis, qual o poder da morte face ao que pedis, Jesus não deixa de nos acompanhar nem de nos escutar nas nossas mais verdadeiras necessidades e demandas.
A cada pedido mais ousado e mais louco Deus corresponde com uma resposta purificante, uma resposta em silêncio que nos leva a medir as verdadeiras dimensões e consequências do pedido. Deus vem sempre ao encontro das nossas mais profundas aspirações e por isso necessita proceder a um processo de purificação e de enobrecimento dos nossos pedidos mais ousados e descabidos, para que eles revelem o que verdadeiramente necessitamos.
Segundo a Carta de São Paulo aos Efésios, em Jesus Cristo nós temos acesso livre e pronto ao Pai. Procuremos aceder com a mais profunda sinceridade e humildade, pois o Senhor prometeu escutar a voz daqueles que humildemente e em verdade se lhe dirigissem.

Ilustração: Botafumeiro, turíbulo gigante da Catedral de Santiago. 7 de Julho de 2012.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e fico a reflectir o texto da Meditação que teceu no dia da festa do Apóstolo São Tiago. Nas palavras partilhadas, transmite-nos a confiança em Jesus e também a possibilidade de cada um de nós ousar pedir a Deus, na oração de petição, com humildade e verdade, o que desejamos, certos da bondade e do amor infinito de Deus.
    Como nos salienta ...” Deus não se escandaliza com os nossos pedidos, com as nossas aspirações e pretensões, Deus não se ofende com as nossas buscas humanas de satisfação, porque sabe que há um bem que desejamos, que profundamente aspiramos, ainda que algumas vezes estejamos equivocados na busca que realizamos para o alcançar.
    Deus escuta as nossas orações mais loucas, os nossos pedidos mais ousados, porque em cada pedido está presente essa sede que nos aproxima ou pode aproximar dele.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei josé Carlos e …” Procuremos aceder com a mais profunda sinceridade e humildade, pois o Senhor prometeu escutar a voz daqueles que humildemente e em verdade se lhe dirigissem.”
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha, que faz-nos sentir confiantes da humanidade e compreensão de Jesus e amados por Deus. Que o Senhor o ilumine, o abençõe e proteja. Peçamos a São Tiago que interceda junto de Jesus para que continue a restabelecer-se, com paz e serenidade.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen:

    Escuto ...


    Escuto mas não sei
    Se o que oiço é silêncio
    Ou Deus

    Escuto sem saber se estou ouvindo
    O ressoar das planícies do vazio
    Ou a consciência atenta
    Que nos confins do universo
    Me decifra e fita

    Apenas sei que caminho como quem
    É olhado amado e conhecido
    E por isso em cada gesto ponho
    Solenidade e risco

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  2. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe este belo e maravilhoso texto que partilhou connosco,do Evangelho de São Mateus no dia da festa do Apóstolo São Tiago,que muito gostei.Como nos diz o Frei José Carlos,Deus não se escandaliza com os nossos pedidos,com as nossas aspirações e pretenções,Deus escuta as nossas orações mais loucas,os nossos pedidos mais ousados,porque em cada pedido está presente essa sede que nos aproxima ou pode aproximar dele."Procuremos aceder com a mais profunda sinceridade e humildade,pois o Senhor prometeu escutar a voz daqueles que humildemente e em verdade se lhe dirigissem".
    Obrigada,Frei José Carlos,por esta bela Meditação que partilha connosco,muito profunda e esclarecedora,que nos ajudou a Meditar mais profundamente a Palavra de Deus.Bem-haja,Frei José Carlos.Desejo-lhe um bom descanso.Continuação de uma boa semana.Que o Senhor o ilumine o proteja e o abençõe.
    Um abraço fraterno.
    AD

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