quarta-feira, 11 de julho de 2012

Jesus nós deixámos tudo para te seguir. (Mt 19,27)

Ao celebrarmos neste dia a festa de São Bento, o Pai dos Monges, o Evangelho de São Mateus recorda-nos, e traz à nossa reflexão, a reclamação de Pedro, “nós deixámos tudo para te seguir”.
A proposta de seguimento de Jesus é assaz radical e apresenta-se com bastante rudeza e dureza. Para seguir o Mestre é necessário abandonar casas, famílias, terras, estatutos e reconhecimentos.
No mundo monástico essa radicalidade atinge a própria autonomia e vontade, pois o monge já não é senhor de si nem da sua vontade, seguir a Cristo acarreta a obediência, um serviço cujo centro deixa de ser o próprio para ser o outro.
A radicalidade do seguimento, e a forma como foi vivida por tantos homens e mulheres que se consagraram a Deus e ao seu Reino de uma forma particular, leva-nos muitas vezes a pensar que estamos isentos dessa mesma radicalidade, que ela pertence a esses mesmos que se dedicam de forma consagrada ao seguimento do Mestre.
E no entanto, ser discípulo, optar pelo seguimento de Jesus, é enveredar pela radicalidade, é aceitar que para além dos monges e dos missionários, das irmãs de vida contemplativa ou de vida activa, todos estamos incluídos e chamados a uma vida diferente, de abandono de tudo.
Abandono que vivemos e concretizamos na medida em que colocamos tudo nas mãos de Deus, em que contamos com ele mais que connosco ou com as nossas forças; abandono que vivemos na medida em que tudo procuramos realizar por ele e com ele; abandono que vivemos na medida em que nos deixamos consagrar e estruturar pela sua graça transfigurante.
Desta forma ao deixarmos tudo receberemos cem vezes mais como Jesus promete a Pedro e aos seus discípulos.

Ilustração: Morte de São Bento. Pintura no claustro do Mosteiro Beneditino de Samos. Caminho de Santiago. 22 de Maio de 2010.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja, por nos recordar no dia em que celebrámos a festa de S.Bento que ...” ser discípulo, optar pelo seguimento de Jesus, é enveredar pela radicalidade, é aceitar que para além dos monges e dos missionários, das irmãs de vida contemplativa ou de vida activa, todos estamos incluídos e chamados a uma vida diferente, de abandono de tudo.
    Abandono que vivemos e concretizamos na medida em que colocamos tudo nas mãos de Deus, em que contamos com ele mais que connosco ou com as nossas forças; abandono que vivemos na medida em que tudo procuramos realizar por ele e com ele; abandono que vivemos na medida em que nos deixamos consagrar e estruturar pela sua graça transfigurante.”…
    Que a vida e os ensinamentos de S.Bento nos sirvam de exemplo e inspiração no nosso peregrinar, participando na construção de um mundo mais fraterno e solidário.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas que nos questionam e encorajam. Que o Senhor o abençõe e proteja.
    Continuação de boa semana. Bom descanso.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que partilhe novamente o texto desta oração.

    A ESTRADA
    DA CONFIANÇA

    Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da confiança. Dá-nos um coração capaz de amar serenamente aquilo que somos
    ou que não somos, aquilo com que sonhámos ou as coisas que não escolhemos e que, contudo, fazem parte da nossa vida.
    Ensina-nos a devolver a todos os Teus filhos e a todas as criaturas a extraordinária Bondade com que nos amas. Não permitas
    que o nosso espírito se feche no medo ou no ressentimento: ensina-nos que é possível olhar a noite não para dizer que pesa
    em todo o lugar o escuro, mas que a qualquer momento uma luz se levantará.
    Dá-nos ousadia de criar e recriar continuamente mesmo partindo daquilo que não é ideal, nem perfeito. E quando nos sentirmos mais frágeis ou sobrecarregados recebamos, com igual confiança, a nossa vida como um Dom e cada dia como um dia de Deus.

    (In, Um Deus Que Dança, Itinerários para a Oração, José Tolentino Mendonça, 2011)

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