A Ordem dos Pregadores celebra neste dia dois de Agosto a memória da Beata Joana de Aza, a mãe de São Domingos. Para os habitantes de Caleruega, onde viveu e esteve sepultada, é a Santa Joana, celebrada a dezoito de Agosto com tanto brilho como o seu filho Domingos. Para os dominicanos, filhos de São Domingos, é a “abuela”, a avó de todos nós.
A Beata Joana nasceu em 1140 na fortaleza de Aza, um pequeno castelo da província de Burgos. Foram seus pais Dom Garcia Garcés e Dona Sancha Pérez, que tiveram ainda mais cinco filhos e quatro filhas. Sendo seu pai Senhor da Casa de Aza e Alferes Mor de Castela não surpreende que Joana Garcia de Aza, a Beata Joana, tenha contraído matrimónio com um homem ligado também à defesa e à conquista mourisca, Dom Félix Ruiz de Guzman, filho do Conde Dom Rodrigo Nuñez de Guzman.
A data deste matrimónio passou despercebida na documentação que chegou até nós, bem como a data da instalação da família em Caleruega, local onde passariam certamente a maior parte das suas vidas, cuidando das terras e vigiando a fronteira que nessa época estava ainda bem próxima dos reinos mouriscos. Tão pouco a documentação nos deixou o número exacto da prole que Joana de Aza alcançou, e para os dois irmãos mais velhos de Domingos, António e Manés, referidos na História de São Domingos, as datas de nascimento são também desconhecidas.
Assim, os poucos dados que conhecemos da Beata Joana decorrem da narração da vida de SãoDomingos. Antes de mais, e ainda antes do nascimento do filho, é a história do sonho, esse sonho de um cão incendiando todo o mundo, que a deixa assustada e a leva ao mosteiro beneditino de Silos, do outro lado da serra, para obter uma explicação do abade para tão estranho presságio.
Outra história, e na qual a Beata Joana assume o papel principal, é-nos narrada por Rodrigo de Cerrato, que esteve em Caleruega por volta de 1272 para obter informações sobre a infância de São Domingos. Por ele sabemos que um dia a grande senhora e dona de casa, na ausência do marido, e tendo-lhe chegado à porta um grupo de necessitados, esgotou um tonel de bom vinho que o marido tinha para si.
Regressado entretanto a casa, e sabendo da história por vozes desejosas da ruína familiar, Dom Félix pede à esposa que lhe sirva desse vinho. Confiante na misericórdia do Senhor, D. Joana solicita fervorosamente a intervenção de Deus, que lhe proporciona um vinho tão excelente como o das bodas de Caná, para grande surpresa do marido e daqueles que intentaram destruir-lhe a harmonia conjugal e a alegria da caridade feita aos pobres.
À semelhança dos outros dados biográficos também se desconhece a data da morte da Beata Joana. Apenas se sabe que quando o filho Manés regressa a Caleruega em 1234, já depois da canonização do irmão São Domingos, encontra a sepultura da mãe junto da igreja paroquial. É possível que tenha sido por essa data, e face ao projecto de construir uma igreja em honra do novo santo, que os restos mortais da Beata Joana tenham sido trasladados para o Mosteiro de São Pedro de Gumiel de Izan, no qual repousavam os demais membros da família no panteão que ali tinham instituído.
Será deste panteão familiar que em meados do século XIV, o Infante Dom João Manuel, os trasladará para a igreja do convento de São Paulo de Peñafiel, fundado por ele nessa vila para os frades dominicanos. Ali repousaram numa bela capela dentro da igreja durante seis séculos, regressando em 1970 a Caleruega e ao Mosteiro das Monjas Dominicanas, onde hoje se encontram.
No dia 1 de Outubro de 1828, o Papa Leão XII, a pedido da Ordem Dominicana e dos grandes de Espanha, incluído o rei Fernando VII, aprovou o culto da Beata Joana, um culto que era já bastante popular na zona de Caleruega e povoados vizinhos, em grande medida devido à protecção alcançada de Dona Joana, Mãe de São Domingos, aquando de graves pestes e fomes ocorridas ao longo dos séculos.
Apesar da neblina dos tempos e da ausência dos dados documentais, a Beata Joana não pode deixar de nos aparecer como um exemplo de mãe de família, que o foi, como um exemplo de mulher preocupada com os outros, o incidente do vinho o prova, e como um exemplo de mulher de Igreja que soube face aos sinais perturbadores de um sonho procurar uma explicação junto e dentro da Igreja.
Que a Beata Joana interceda por nós, pelos filhos do seu filho Domingos, e nos alcance a graça de novos filhos, a fertilidade da água do pocito de Caleruega que a tradição popular advoga.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarObrigada por nos divulgar informação tão interessante sobre mais um dos Santos Dominicanos, neste caso a Beata Joana de Aza, Mãe de São Domingos, no dia em que os Dominicanos celebram a sua memória, ciente da pouca informação disponível.
Porém, o que nos descreve é revelador de uma grande senhora, generosa, preocupada com o seu semelhante. Como nos afirma, ... “Apesar da neblina dos tempos e da ausência dos dados documentais, a Beata Joana não pode deixar de nos aparecer como um exemplo de mãe de família, que o foi, como um exemplo de mulher preocupada com os outros, o incidente do vinho o prova, e como um exemplo de mulher de Igreja que soube face aos sinais perturbadores de um sonho procurar uma explicação junto e dentro da Igreja.”…
Peçamos com o Frei José Carlos que a Beata Joana interceda pelos dominicanos, “pelos filhos do seu filho Domingos, e lhes alcance a graça de novos filhos” para que possam prosseguir a acção iniciada por seu filho e possamos beneficiar dos seus ensinamentos, da sua Pregação, do espírito de abertura que os caracteriza.
Obrigada por esta bela partilha. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva