Cafarnaum e a presença dos cobradores de impostos a favor do templo de Jerusalém são o local e o acontecimento mundano que servem a Mateus para narrar um dos episódios mais deslumbrantes na relação entre Pedro e Jesus. Um episódio com um significado tão maravilhoso que por intermédio de Pedro nos atinge a todos e a todos nos engloba.
Conta-nos o Evangelho que ao chegarem a Cafarnaum Pedro foi abordado pelos cobradores de impostos a favor do templo, desejosos de saber se Jesus pagava ou não o imposto. Era um imposto anual, cobrado a todos os filhos de Israel, que para além de sustentar as despesas do governo do templo servia também para confirmar e ratificar a pertença ao povo eleito. Significava uma adesão, uma fé.
Pedro respondeu positivamente aos cobradores de impostos, certamente porque sendo uma obrigação comum não tinha outra resposta para dar. É por essa razão que ao chegar a casa, e ainda antes de colocar a questão, Jesus se lhe dirige no sentido do pagamento do imposto, da responsabilidade do pagamento. Afinal a quem é que corresponde pagar imposto, se aos filhos ou aos estranhos?
Face à resposta de Pedro, que corresponde aos estranhos pagar o imposto, àqueles que não têm direitos à herança, Jesus ordena a Pedro que vá pescar um peixe, pois nele encontrará um estáter que servirá para pagar o imposto dos dois. Ainda que eles não se sintam obrigados não convém escandalizar os outros.
O milagre do peixe e do estáter encontrado no seu interior pode distrair-nos da verdadeira dimensão do acontecimento, um acontecimento que nos mostra uma vez mais a gratuidade da salvação e a integração de toda a humanidade através da pessoa de Pedro.
Jesus não está submetido a nada nem a ninguém e por essa razão não tem qualquer obrigação de pagar um imposto, e muito menos um imposto religioso. Ele é o Filho por natureza, aquele ao qual nunca poderá ser pedido nenhum imposto, nenhum pagamento devido ao Pai.
Contudo, Jesus assume pagar o imposto e de uma só vez, com uma só moeda, por um único sacrifício, o sacrifício da sua vida. E fá-lo para nos readquirir a condição de filhos, readquirir a filiação para todos os homens e mulheres. E ao pagar o imposto integra também a divida de Pedro, a divida da falta de fé, da sua fragilidade manifestada na travessia do lago na noite tempestuosa.
Como é sublime o amor de Jesus e a sua atenção para com Pedro, para com aquele discípulo que pouco antes o tinha tentado dissuadir de continuar a caminhada de obediência ao projecto do Pai, que tinha outros planos de poder e glória, que ainda confiava mais em si que no Mestre deixando-se por isso afundar por causa da sua falta de fé na possibilidade de caminhar sobre as águas como Jesus.
Apesar das fragilidades, ou por causa delas mesmo, Jesus paga o seu imposto e oferece-se para pagar o imposto de Pedro, colocando-o assim na sua periferia e mesma condição de filho. Se não estavam obrigados a pagar o imposto, Jesus mostra a Pedro que há obrigações que se cumprem para além do dever, que se cumprem por amor e por coerência aos princípios porque nos regemos e aos quais nos obrigamos.
No caso de Jesus o princípio era o da obediência ao projecto salvífico do Pai, no caso de Pedro era o princípio da eleição de que tinha sido objecto, uma eleição de amor e para o serviço do amor na condução dos irmãos.
O estáter encontrado no peixe que Pedro pescou por ordem de Jesus serviu para pagar o imposto devido ao templo por todos nós. A partir desse pagamento deixámos todos de ser estranhos e passámos a ser filhos, herdeiros, e não só desse templo e desse culto, mas do Pai e Deus verdadeiro ao qual o Filho Jesus entregou a vida para nosso resgate.
Como esta certeza nos deveria deixar mais confiantes, como nos deveria dar uma tranquilidade de espírito face a tantas dúvidas que nos assaltam, como nos deveria conduzir no sentido de uma vida mais fiel e coerente em virtude da liberdade de filhos que somos por Jesus Cristo.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo reflectirmos no Evangelho de hoje, obrigada Frei José Carlos, por nos mostrar a verdadeira dimensão do milagre do peixe e do estáter. Como nos salienta no texto da Meditação, Jesus ao assumir pagar o imposto ...” fá-lo para nos readquirir a condição de filhos, readquirir a filiação para todos os homens e mulheres. E ao pagar o imposto integra também a divida de Pedro, a divida da falta de fé, da sua fragilidade manifestada na travessia do lago na noite tempestuosa.” … (…)
E continuando a citá-lo …”Apesar das fragilidades, ou por causa delas mesmo, Jesus paga o seu imposto e oferece-se para pagar o imposto de Pedro, colocando-o assim na sua periferia e mesma condição de filho. Se não estavam obrigados a pagar o imposto, Jesus mostra a Pedro que há obrigações que se cumprem para além do dever, que se cumprem por amor e por coerência aos princípios porque nos regemos e aos quais nos obrigamos.”
Que importante e maravilhoso afirmar-nos que ...” A partir desse pagamento deixámos todos de ser estranhos e passámos a ser filhos, herdeiros, e não só desse templo e desse culto, mas do Pai e Deus verdadeiro ao qual o Filho Jesus entregou a vida para nosso resgate, e que …”esta certeza nos deveria deixar mais confiantes, como nos deveria dar uma tranquilidade de espírito face a tantas dúvidas que nos assaltam, como nos deveria conduzir no sentido de uma vida mais fiel e coerente em virtude da liberdade de filhos que somos por Jesus Cristo.”
Que a partilha desta profunda Meditação nos ajude no nosso processo de transformação, de interiorização do exemplo e do amor que Jesus nos dedica, a sermos mais confiantes e coerentes.
Que São Domingos interceda pelo Frei José Carlos para que Jesus o abençoe e o inspire sempre para poder partilhar com todos as palavras que nos ajudam a compreender melhor a proposta que Jesus nos oferece. Bem-haja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva