terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sermão da Beatificação de Santa Rosa de Lima

SERMÃO DA BEATIFICAÇÃO DA SANTA MADRE ROSA DE SANTA MARIA
Religiosa Professa da Terceira Regra da Ordem dos Pregadores
No último dia da Oitava, que celebraram os Religiosos do Mosteiros de São Domingos, e Religiosas do Convento de Jesus, na Vila de Aveiro.
Esteve o Santíssimo Exposto
Foi Pregado por Álvaro de Escobar Roubam, Prior da Paroquial Igreja de Águeda, e Protonotário Apostólico de sua Santidade, em 25 de Novembro de 1668.
Oferecido
Ao Muito Reverendo Padre D. Bernardo de Santa Maria, Cónego Regular do Grande Padre Santo Agostinho, Lente de Teologia Moral, Procurador Geral na Corte de Lisboa, Prior, e Prelado duas vezes do Mosteiro de Grijó, Vigário do Real Mosteiro de Santa Cruz, e Primeiro Definidor da sua Religião Sagrada.
Lisboa. Com as licenças necessárias. Na Impressão de António Craesbeeck de Mello, Impressor de Sua Alteza. Ano de 1670.

Desempenhado parece que temos hoje o Céu, de uma divida grande em que estava a terra: porque se a terra tem dado ao Céu Virgens, que assistiam, e seguiam ao Cordeiro de Deu, para onde quer que iam: Virgines enim sunt: hi sequuntur agnum quocumque ierit. Hoje vemos que, que o mesmo Cordeiro de Deus segue, e assiste a uma Virgem Bem-Aventurada, em cada um dos inumeráveis, e ilustres Conventos, em que suas memórias suavíssimas se festejam: e logo (ainda que não fosse advertido) pudera entender, que não havia de faltar nesta solenidade, e festa soberana, e inefável presença; porque se aquele Pão, que desceu do Céu é alimento de Anjos: Angelorum esca, e os Anjos como diz o Angélico Doutor São Tomás, são irmãos das Virgens: Virginitas est soror Angelorum. Claro é, que nas bodas de uma Virgem esposa, se havia de pôr a mesa com o mesmo Pão, de que se alimentam os Anjos.
Maiormente, quando aquele Senhor tomou para si o próprio nome desta sua Esposa sua. O nome, que aquele Senhor para si tomou foi o de Rosa: Ego Flos campi. Outra letra tem: Ego Rosa. Daqui será gabar-lhe uma alma querida, as duas estremadas cores, com que o contemplava no Diviníssimo Sacramento do Altar: São as cores encarnado, e branco: Dilictus meus candidus, et rubicundus. O branco das espécies Sacramentais; o encarnado, ou do sangue, que nos oferece no Sacramento, ou da Rosa, de que no Sacramento se veste.
Pois estas mesmas cores são as desta Virgem inocente, desta Esposa querida, desta Alma triunfante, em que o encarnado competiu com o branco. O branco de uma neve enterrada em cal virgem, para diminuir a neve com o encarnado, que se transformou a beleza do rosto. O que não saberei dizer, é qual destes dois amantes fez este amoroso roubo; tomou um do outro a engraçada divisa destas duas cores: se a Esposa triunfa hoje no Céu, com as cores de que viu a seu amado no Sacramento; se aquele amantíssimo Senhor com as próprias cores de sua Esposa, quis assistir hoje Sacramentado às festas de tão glorioso triunfo.
Pois com a intercessão para alcançar a graça para o acto presente, não temo, que me falte a sereníssima Rainha dos Anjos, pois é sua a festa, por ser de uma coisa tanto sua. Por mandato, e eleição de Senhora se chamou esta Santa menina Rosa de Santa Maria: Rosa de Santa Maria? Parecia-me a mim, que tinha mais lugar chamar-se Sor Maria da Rosa: mas Rosa de Santa Maria? Sim. Quis a Senhora, que se chamasse de Santa Maria esta Rosa, porque quis a esta Rosa por sua. E não só amantes vejo eu ao mesmo Deus, e sua Mãe Santíssima desta soberana Rosa, mas apostados a quem mais a há-de amar: a Senhora lhe chamou Rosa sua; o Senhora Rosa de seu coração: penetrando cada um as perfeições, e delicias, de que viam composta esta Flor, coroada esta Rosa, parece, que se não fartavam de a ver, ou que a não acabavam de louvar.
Desta sorte se vê abalado em obséquio, e honra deste dia o Céu, e a terra; o Céu, com assistência do mesmo Deus, e sua Mãe Santíssima; a terra com júbilos, aplausos, e repetidas festas a uma Rosa Bem-Aventurada, por um coro de Virgens; mas não são elas sós, também as Virgens do Evangelho com suas luzes nos ajudam, e acompanham hoje: Accipientes lampades suas exierunt obviam sponso, et sponsae. Saíram a receber o Esposo, e a Esposa. A Esposa também? Não são elas logo as que hão-de lograr estes desposórios; outra Esposa os logra, e elas os festejam; mas quem é esta Esposa, senão Rosa, a quem Deus pediu se desposasse com ele, e se desposou. Para o mais, que hei-de dizer, recorramos ao Espírito Santo, por intercessão da Senhora. A maré é de Rosas, boa viagem. Ave-Maria.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por partilhar connosco no dia em que a Ordem dos Pregadores celebra a memória de Santa Rosa de Lima o texto do Sermão da Beatificação desta Santa Dominicana. É um texto de grande espiritualidade e beleza. E a partilha de hoje levou-me a reler com grande satisfação um excelente texto que o Frei José Carlos escrevera em 2010 sobre Santa Rosa de Lima partilhando connosco alguns traços e comportamentos de uma das mulheres que deixou marca na história dos Dominicanos.
    Permita-me que recorde, transcrevendo, algumas passagens do texto que referi anteriormente e que me tocam particularmente: ...” Do seu dia a dia faziam parte o trabalho que levava a cabo, a solidariedade com os mais necessitados através da esmola e das visitas aos doentes, e a oração que lhe tomava longas horas da noite. Nestas vigílias e momentos de contemplação Rosa fortalecia o seu espírito e enriquecia-se para poder alimentar a sua misericórdia.
    Neste sentido, e acompanhando São Martinho de Lima, seu contemporâneo e vizinho, podemos dizer que Rosa vivia o carisma da pregação através da sua caridade, do seu exemplo de vida, da sua relação intima e forte com Deus e numa situação de inserção total no mundo. Como São Domingos e Santa Catarina preocupava-se com os pecadores e com todos aqueles que sofriam no corpo ou no espírito”...
    Bem-haja, Frei José Carlos, por partilhar e salientar-nos o exemplo da vida destes Dominicanos que nos inspiram, noutra dimensão, no nosso quotidiano, e a clarificar ideias, nos tempos conturbados que vivemos.
    Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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