terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cinco virgens insensatas (Mt 25,2)

A parábola das virgens prudentes e insensatas deixa-nos muitas vezes um sabor amargo na boca, provoca em nós um sentimento muito forte de injustiça, uma vez que a porta se fecha sobre as cinco virgens que se preocuparam em procurar azeite para manter acesa a lâmpada enquanto o esposo não chegava; bem como um juízo muito pouco favorável sobre aquelas que não foram capazes de partilhar do azeite que tinham, faltando desse modo à caridade que dá acesso ao banquete.
Quase que poderíamos dizer que o Reino de Deus para estas virgens se constitui sobre a injustiça, uma vez que entram no banquete aquelas que faltam à caridade não partilhando do seu azeite com as virgens que o não têm, enquanto que por outro lado a diligência destas em procurar o azeite em falta as afasta e impossibilita injustamente de entrar no banquete.
Esta é no entanto uma leitura que se afasta do verdadeiro sentido da parábola, o qual se intui logo desde o seu início, pois são as dez virgens que se colocam em caminho para irem ao encontro do esposo. As virgens prudentes e insensatas conhecem já o esposo, sabem da sua vinda e partem ao seu encontro.
De alguma forma estas virgens assemelham-se aos trabalhadores de outras parábolas que conhecem o seu senhor e sabem que ele recolhe de onde não semeia, que é um senhor justo que retribui não só o trabalho diligentemente bem feito mas também a sagacidade daquele que procura beneficiar dos dons recebidos.
As virgens prudentes e insensatas são assim possuidoras de um conhecimento e de uma experiência do noivo e sabem à partida ao encontro de quem vão. Assim a insensatez de algumas, a falta de reserva de azeite, é já por si um sinal de desconhecimento, de falta de intimidade e relação com o noivo ao encontro de quem partem.
Neste sentido a parábola das virgens é antes de mais uma parábola de sabedoria e sobre a sabedoria, uma sabedoria bíblica que se assenta sobre a prudência, sobre uma experiência quase artesanal, mais que sobre uma construção filosófica. E o azeite como fonte de luz e de conhecimento corrobora simbolicamente esta leitura.
Assim, a injustiça que aparentemente se comete sobre as virgens insensatas ao fechar-se lhes a porta é inevitável, uma vez que elas não só não se precaveram do verdadeiro conhecimento quando partiram ao encontro do noivo, como depois foram ainda pela noite em busca de alguém que lhes vendesse o azeite, ou mais correctamente o conhecimento que lhes tinha faltado.
Não estranha assim que o noivo depois da porta fechada lhes diga que as não conhece. De facto não as pode conhecer, na medida em que se afastaram do verdadeiro conhecimento, uma vez que não souberam precaver-se devidamente com o conhecimento que ele já lhes tinha possibilitado no primeiro encontro.
Por outro lado, e tendo presente a falta de caridade das virgens sensatas, não podemos deixar de assumir que lhes era impossível partilhar do azeite que possuíam, da experiência e conhecimento pessoal do noivo ao encontro de quem iam. É um conhecimento íntimo e pessoal, que por mais que se queira tão pouco se torna transmissível. Cada um recebe de acordo com as suas capacidades e com a abertura manifestada ao acolhimento do dom e da experiência.
E desse dom e dessa experiência convém, como dizem as virgens sensatas, guardar uma reserva para os momentos em que o sono nos possa atacar, o noivo se faça demorar. Nesses momentos de escuridão e solidão a experiência primeira e a alegria do dom permitirá manter a vigilância e de alguma forma continuar a experiência da relação e da intimidade com o senhor ausente.
Poderíamos dizer que é a necessidade de regressar ao amor primeiro, de guardar na memória e no coração a alegria desse primeiro beijo, do primeiro olhar, para com eles alimentar e iluminar os momentos de secura e de escuridão, os momentos de aparente ausência ou afastamento do noivo esperado.
Tal como as virgens prudentes e insensatas também nós partimos ao encontro do Senhor que veio até nós. Saibamos levar toda a riqueza do primeiro encontro e do desejo de si que despertou em nós para nos mantermos fieis e constantes na espera vigilante, pois não sabemos nem a hora nem o dia em que chega.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Obrigada por nos ajudar na compreensão da parábola das virgens prudentes e insensatas. Permita-me que cite algumas passagens do texto da meditação que me tocam particularmente.
    ...” a parábola das virgens é antes de mais uma parábola de sabedoria e sobre a sabedoria, uma sabedoria bíblica que assenta sobre a prudência, sobre uma experiência quase artesanal, mais que sobre uma construção filosófica. E o azeite como fonte de luz e de conhecimento corrobora simbolicamente esta leitura.” ...
    …” Tal como as virgens prudentes e insensatas também nós partimos ao encontro do Senhor que veio até nós. Saibamos levar toda a riqueza do primeiro encontro e do desejo de si que despertou em nós para nos mantermos fieis e constantes na espera vigilante, pois não sabemos nem a hora nem o dia em que chega.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação de grande espiritualidade e beleza que nos encoraja a caminhar ao encontro do Senhor. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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