sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Se alguém quiser seguir-me… (Mt 16,24)

O convite de Jesus ao seu seguimento não pode separar-se da conversa que Jesus mantém com os discípulos e ocupa a parte final do capítulo dezasseis do Evangelho de São Mateus. Afinal o seguimento joga-se face à concepção que se tem de Jesus, face ao que cada um pode dizer dele.
Porque se consideramos que Jesus é um profeta, ou um taumaturgo capaz apenas de nos curar e satisfazer, o seu seguimento é de alguma forma fácil, uma vez que exige apenas uma adesão aos princípios, um certo negócio para que nos seja alcançado o bem que necessitamos. O seguimento, que deriva da relação estabelecida, é exterior, superficial e de alguma forma até ritual, fundado sobre um conjunto de preceitos que funcionam pelo simples cumprimento. Não há mais nada que cumprir o estabelecido.
Pelo contrário, se consideramos Jesus como o Filho de Deus, o Messias salvador, e temos essa certeza pela luz e sabedoria do Espírito, a nossa relação é diferente e consequentemente o seguimento. Não podemos manter-nos na superficialidade de um ritualismo escrupuloso, mas necessitamos afundar-nos na intimidade da perda de vida, como Jesus nos diz que deve acontecer.
Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, porque se confrontará com a limitação e a finitude, com uma cruz que não deixa de estar presente, mas se apresenta sem sentido, sem um corpo entregue para redenção, e portanto é apenas uma cruz nua e vazia. Mas quem perder a vida por sua causa, encontrá-la-á, porque na cruz encontrará não só o corpo do redentor, mas uma vida que se nos abre como oportunidade, um outro homem que fez a mesma experiência desbravando o caminho a percorrer.
Ao convidar-nos a segui-lo, Jesus apresenta-se como guia, um guia numa terra estrangeira, mas pela qual podemos passar e caminhar com segurança na sua companhia, seguindo os seus passos que marcam o percurso. Contudo, não podemos deixar de ter presente que segui-lo nessa terra estrangeira é sempre uma aventura, uma viagem por um desconhecido, porque ainda que balizado e marcado o caminho a aventura do seguimento de cada um é pessoal e irrepetível, única na história.
Afinal, o caminho e o seguimento dependem da relação que cada um for capaz de estabelecer, dessa dose pessoal de adesão ao conhecimento do Filho de Deus enquanto Filho de homem, do Messias enquanto Jesus de Nazaré, dependem da aceitação do aniquilamento e da renúncia da própria vontade para que a vontade do Pai prevaleça e o seu projecto de salvação se concretize.
Pelo que necessitamos pedir a Deus que nos fortaleça no Espírito para aceitar a sua vontade e podermos seguir o caminho de Jesus sem medos nem peias que nos aprisionem ao nosso egocentrismo e egoísmo.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No texto da meditação que partilha connosco salienta-nos que ...”o seguimento de Jesus joga-se face à concepção que se tem de Jesus, face ao que cada um pode dizer dele.”
    Como nos diz o seguimento de Jesus não admite ambiguidades, é mais profundo do que a aceitação de “uma adesão aos princípios”, ultrapassa o “ritualismo escrupuloso”, a proposta de Jesus exige a renúncia de nós próprios, sem subordiná-la aos nossos projectos pessoais no que têm de egoísmo, de falta de coerência. Como nos salienta no texto ...” necessitamos afundar-nos na intimidade da perda de vida, como Jesus nos diz que deve acontecer.”…
    E como nos exorta no texto, …”o caminho e o seguimento dependem da relação que cada um for capaz de estabelecer, dessa dose pessoal de adesão ao conhecimento do Filho de Deus enquanto Filho de homem, do Messias enquanto Jesus de Nazaré, dependem da aceitação do aniquilamento e da renúncia da própria vontade para que a vontade do Pai prevaleça e o seu projecto de salvação se concretize.”…
    Saibamos abraçar o convite de Jesus, e como nos diz o Frei José Carlos, percorrer um caminho, no qual a aventura do seguimento, tem “Jesus como guia, um guia numa terra estrangeira, mas pela qual podemos passar e caminhar com segurança na sua companhia, seguindo os seus passos que marcam o percurso.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda e bela Meditação, que nos permite aferir da nossa disponibilidade para seguir Jesus , reflectir na nossa concepção de Jesus, na relação que estabelecemos com Ele. Bem-haja.
    Um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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