segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Pedro disse: se és tu Senhor, manda-me ir ter contigo! (Mt 14,28)

Ao isolarmos a figura de Pedro no Evangelho de São Mateus fica-se com a sensação que não era uma personagem querida do autor do Evangelho, ou pelo menos este não tem qualquer pudor em revelar as suas fraquezas, as suas incoerências, deixando a figura de Pedro numa posição de alguma forma incómoda.
Antes de mais é o episódio da negação, da tripla negação quando Jesus é interrogado pelas autoridades antes da sua condenação à morte. Pedro é aquele que se opõe a ser reconhecido como um dos seus discípulos.
Algum tempo antes desse acontecimento fundamental, e quando Jesus já o anuncia como eminente, Pedro aparece como aquele que se propõe desviar Jesus da sua missão, e de uma forma tão intensa que Jesus se vê obrigado a chamá-lo de Satanás.
No caso da possibilidade de caminhar sobre as águas, à semelhança de Jesus, e depois de ter pedido ao Mestre que lhe ordene ir ter consigo, Pedro aparece como aquele que não foi capaz de ter a fé suficiente e por isso diante das vagas e do vento se afunda no mar.
No Evangelho de São Mateus, Pedro é assim uma personagem com uma estrutura bastante complexa de fragilidade, uma estrutura que se aproxima de cada um de nós enquanto crentes e enquanto caminhantes no seguimento de Jesus.
Também nós lançamos o mesmo pedido a Deus, também nós pedimos que o Senhor nos mande ir ter com Ele, caminhando sobre as vagas da nossa inconstância e da nossa história errática. Habita em nós esse desejo, embora muitas vezes não com força suficiente para saltarmos da barca e colocarmos os pés sobre o abismo das águas.
E quando por vezes os colocamos, olhamos o fundo, as vagas e o vento, e esquecemo-nos de elevar os olhos e fitar o olhar naquele que nos mandou ir ter com ele e nos espera confiante de braços abertos.
Como nos questiona São Paulo, o que nos poderá separar do amor de Cristo? Mas a verdade é que deixamos muita coisa separar-nos do amor de Cristo e impedir-nos de caminharmos confiantes sobre as águas dos nossos mares revoltados.
Resta-nos assim pedir ao Senhor que Jesus que nos mande ir ter com ele, mas que ao mesmo tempo nos fortaleça na fé, para que não desfaleçamos no meio das vagas e do vento e não sejamos acusados como Pedro de homens de pouca fé.
Aumenta Senhor em nós a fé, bem como a audácia de nos lançarmos sobre o vazio dos abismos que nos separam de ti.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Leio, medito e volto a reler a reflexão que partilha connosco. Reflicto sobre o que nos diz, citando São Paulo, “o que nos poderá separar do amor de Cristo?” O que nos impede de caminharmos confiantes para Cristo? Serão as nossas fragilidades, os nossos receios, a nossa incapacidade de nos olharmos por dentro e de nos revelarmos de forma radical a Jesus? É um longo processo, feito de solidão, silêncio, fé e oração, para humildemente nos revelarmos como somos e sermos capazes de caminhar confiantes para Jesus.
    Como nos afirma, Frei José Carlos, ...”Quando por vezes colocamos os pés sobre o abismo das águas, olhamos o fundo, as vagas e o vento, e esquecemo-nos de elevar os olhos e fitar o olhar naquele que nos mandou ir ter com ele e nos espera confiante de braços abertos.”…
    Mesmo quando caminhamos com avanços e recuos é para o Senhor que avançamos para o abraço fraterno.
    Peçamos com o Frei José Carlos :” Aumenta Senhor em nós a fé, bem como a audácia de nos lançarmos sobre o vazio dos abismos que nos separam de ti.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha desta profunda Meditação que vem ao encontro de alguns de nós. Bem-haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar